sábado, 16 de maio de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Chutar para canto

Por Antunes Ferreira

Ontem, sexta-feira, 15 de Maio de 2015, «o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, tornou-se o primeiro líder da União Europeia (e o segundo da Europa) a casar com um parceiro do mesmo sexo. Bettel, de 42 anos, casou-se com o seu namorado de longa data, o arquitecto belga Gauthier Destenay, numa cerimónia privada. Os dois já tinham oficializado a sua união de facto em 2010: agora, tornaram-se um dos primeiros casais homossexuais a beneficiar da alteração legislativa que alargou o direito ao casamento a casais do mesmo género no grão-ducado”. A notícia foi colhida do jornal “Público».

As coisas são o que são e já nada espanta ninguém neste Mundo de agora. Volte-se uns anos atrás e não podia imaginar-se uma cena como esta. Durante o largo período do puritanismo que vigorou no Velho Continente, nem se podia falar do tema da homossexualidade. As Igrejas, tendo à frente a Católica, consideravam a ligação entre indivíduos do mesmo sexo um pecado contra-natura. Mas os tempos mudaram e com eles as práticas mais diversas incluindo as sexuais.
 
Retomo a transcrição da notícia publicada pelo quotidiano. «O casamento foi celebrado pela autarca da capital, Lydia Polfer, a madrinha política do liberal Xavier Bettel. Entre os convidados estava o primeiro-ministro da Bélgica, o também liberal Charles Michel. Mais de 200 pessoas aguardaram pela entrada e saída dos noivos à porta do hotel de ville (a câmara municipal) da Cidade do Luxemburgo, para os cumprimentar e desejar felicidades. O casal apareceu ao balcão para agradecer, e foi saudado com aplausos e arroz.»

Nada mais natural disseram as comunidades gay. E estão certas. Não se advoga aqui essa prática do sexo, nem se a condena. Dentro da Liberdade tudo é possível, tudo se aceita, mas também muito se condena. Os homens que são homossexuais, as mulheres lésbicas têm o direito de ser assim. Lá vão os anos em que homossexualidade era considerada uma doença. Muito se tentou cura-la; mas, debalde.

Aconteceu já em Portugal - a lei aceita a situação, juridicamente não é motivo para tribunais muito menos para penas - mas nunca um primeiro-ministro se casou com um namorado. Diz-se que no (des)Governo que ainda temos há quem o seja, mas das palavras aos actos vai uma distância enorme. Boatos dirão alguns, provocações afirmarão outros, insinuações declararão outros ainda. Mas, verdade se diga, e se tal acontecesse ou vier a acontecer como reagiriam os Portugueses?

Mais uma vez cito a notícia: «Segundo a AFP, o casamento do primeiro-ministro foi interpretado pelos comentadores como um “bom sinal” e uma “mensagem positiva” da evolução de mentalidade da sociedade luxemburguesa, que é maioritariamente católica. Xavier Bettel nunca escondeu a sua homossexualidade aos seus eleitores. “Se o fizesse, seria um infeliz. Nunca seria capaz de viver um relacionamento em segredo. E penso que quem quer estar na política deve ser honesto, o que implica dizer a verdade e também aceitar-se tal como é”, justificou, numa entrevista à RTBF.»

E quem é Bettel? «Ele chegou ao poder no fim de 2013, depois de derrotar os cristãos-sociais de Jean-Claude Juncker, e governa em aliança com os socialistas e os Verdes. Na tomada de posse, prometeu modernizar a sociedade luxemburguesa, alterando leis e avançando com reformas tanto de cariz político como social. Uma das primeiras medidas foi a legalização do casamento e da adopção de crianças por casais gay, aprovada por larga maioria em Junho de 2014. O edital que publicitava a intenção de casar do primeiro-ministro foi publicado dois meses após a aprovação da lei, que apenas entrou em vigor no início deste ano.»

A adopção nestes casos é para mim muito difícil de aceitar. Pergunto-me o que acontecerá no primeiro dia duma escola, quando o professor perguntar os nomes dos pais aos recém-chegados e o da primeira carteira responder “o meu pai chama-se João e a minha mãe Luísa”; uma miúda informará que “a minha mãe chama-se Lurdes e o meu pai Fernando e a dada altura chegar a vez de outro puto “o meu pais chama-se Carlos e a minha mãe Francisco”? Que fazer?

Á pergunta o docente só poderia responder com um nada que é mesmo nada. Mas as outras crianças por certo franzirão a testa. “Pai Carlos e mãe Francisco”??? Daqui a uns anos que não posso prever quantos, respostas deste tipo poderão ser habituais e normais. Numa afirmação egocentrista deixo aqui o desabafo: nesse tempo já pertencerei ao número dos vivos. Não é difícil chutar para canto. 

http://s.publico.pt/NOTICIA/1695798 http://s.publico.pt/europa/1695798 http://s.publico.pt/luxemburgo/1695798 http://s.publico.pt/uniao-europeia/1695798 

Sem comentários: