Chutar para
canto
Por Antunes Ferreira
Ontem, sexta-feira, 15
de Maio de 2015, «o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, tornou-se o
primeiro líder da União Europeia (e o segundo da Europa) a casar com um
parceiro do mesmo sexo. Bettel, de 42 anos, casou-se com o seu namorado de
longa data, o arquitecto belga Gauthier Destenay, numa cerimónia privada. Os
dois já tinham oficializado a sua união de facto em 2010: agora, tornaram-se um
dos primeiros casais homossexuais a beneficiar da alteração legislativa que
alargou o direito ao casamento a casais do mesmo género no grão-ducado”. A
notícia foi colhida do jornal “Público».
As coisas são o que
são e já nada espanta ninguém neste Mundo de agora. Volte-se uns anos atrás e
não podia imaginar-se uma cena como esta. Durante o largo período do
puritanismo que vigorou no Velho Continente, nem se podia falar do tema da
homossexualidade. As Igrejas, tendo à frente a Católica, consideravam a ligação
entre indivíduos do mesmo sexo um pecado contra-natura. Mas os tempos mudaram e
com eles as práticas mais diversas incluindo as sexuais.
Retomo a transcrição
da notícia publicada pelo quotidiano. «O casamento foi celebrado pela autarca
da capital, Lydia Polfer, a madrinha política do liberal Xavier Bettel. Entre
os convidados estava o primeiro-ministro da Bélgica, o também liberal Charles
Michel. Mais de 200 pessoas aguardaram pela entrada e saída dos noivos à porta
do hotel de ville (a câmara municipal) da Cidade do
Luxemburgo, para os cumprimentar e desejar felicidades. O casal apareceu ao
balcão para agradecer, e foi saudado com aplausos e arroz.»
Nada mais natural
disseram as comunidades gay. E estão certas. Não se advoga aqui essa prática do
sexo, nem se a condena. Dentro da Liberdade tudo é possível, tudo se aceita,
mas também muito se condena. Os homens que são homossexuais, as mulheres lésbicas
têm o direito de ser assim. Lá vão os anos em que homossexualidade era
considerada uma doença. Muito se tentou cura-la; mas, debalde.
Aconteceu já em
Portugal - a lei aceita a situação, juridicamente não é motivo para tribunais
muito menos para penas - mas nunca um primeiro-ministro se casou com um
namorado. Diz-se que no (des)Governo que ainda temos há quem o seja, mas das
palavras aos actos vai uma distância enorme. Boatos dirão alguns, provocações
afirmarão outros, insinuações declararão outros ainda. Mas, verdade se diga, e
se tal acontecesse ou vier a acontecer como reagiriam os Portugueses?
Mais uma vez cito a
notícia: «Segundo a AFP, o casamento do primeiro-ministro foi interpretado
pelos comentadores como um “bom sinal” e uma “mensagem positiva” da evolução de
mentalidade da sociedade luxemburguesa, que é maioritariamente católica. Xavier
Bettel nunca escondeu a sua homossexualidade aos seus eleitores. “Se o fizesse,
seria um infeliz. Nunca seria capaz de viver um relacionamento em segredo. E
penso que quem quer estar na política deve ser honesto, o que implica dizer a
verdade e também aceitar-se tal como é”, justificou, numa entrevista à RTBF.»
E quem é Bettel? «Ele chegou
ao poder no fim de 2013, depois de derrotar os cristãos-sociais de Jean-Claude
Juncker, e governa em aliança com os socialistas e os Verdes. Na tomada de
posse, prometeu modernizar a sociedade luxemburguesa, alterando leis e
avançando com reformas tanto de cariz político como social. Uma das primeiras
medidas foi a legalização do casamento e da adopção de crianças por casais gay,
aprovada por larga maioria em Junho de 2014. O edital que publicitava a
intenção de casar do primeiro-ministro foi publicado dois meses após a
aprovação da lei, que apenas entrou em vigor no início deste ano.»
A adopção nestes casos
é para mim muito difícil de aceitar. Pergunto-me o que acontecerá no primeiro
dia duma escola, quando o professor perguntar os nomes dos pais aos
recém-chegados e o da primeira carteira responder “o meu pai chama-se João e a
minha mãe Luísa”; uma miúda informará que “a minha mãe chama-se Lurdes e o meu
pai Fernando e a dada altura chegar a vez de outro puto “o meu pais chama-se
Carlos e a minha mãe Francisco”? Que fazer?
Á pergunta o docente
só poderia responder com um nada que
é mesmo nada. Mas as outras crianças
por certo franzirão a testa. “Pai Carlos e mãe Francisco”??? Daqui a uns anos
que não posso prever quantos, respostas deste tipo poderão ser habituais e
normais. Numa afirmação egocentrista deixo aqui o desabafo: nesse tempo já
pertencerei ao número dos vivos. Não é difícil chutar para canto.
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