quinta-feira, 31 de julho de 2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

TC

O Tribunal Constitucional declarou hoje constitucionais 
as normas do orçamento retificativo que alargaram a 
contribuição extraordinária de solidariedade e estabeleceram 
que 50% dos descontos feitos pelos empregadores para a 
ADSE revertem a favor do Estado.

i online


O TC disse, está dito. 
Passos ri-se e Maria Luís parte feliz para Bruxelas, onde a espera "uma pipa de massa" (Barroso dixit). O Paulo, que dirá ele? E o lambretas, terá opinião ou nem tanto? E o cervejeiro, que dirá? Belém como é sabido, está deserto.
Concordo com a decisão? Não, nem por sombras, mas alguém vai ter que pagar os BESs que por aí proliferam.
E, acrescento, que não entendo como é que o TC deixa passar a medida do aumento para a ADSE para o Orçamento do Estado. Os juízes é que têm os livros, digo, os códigos.

BES

O Banco Espírito Santo (BES) registou prejuízos históricos de 3.577 milhões de euros no primeiro semestre.

Económico online

Do que me livrei, já que não tenho acções do BES. Será que me livrei, ou ainda vou ser chamado a pagar uma parte da factura endereçada ao Ricardo Salgado? 3.577 milhões num semestre? F...-se! 
Prendam o Sócrates, esmifrem-no e obriguem-no a confessar o local onde ajudou a escondeu a massa. Se ele se escusar, falem com Granadeiro, que poderá dar uma ajuda.
Se o resultado for nulo, apertem com o guarda-livros do GES no Luxemburgo, para mim o único que se abotoou. Só que, o gajo já deve estar na Bolívia, no Zimbabué ou assim.

SÓCRATES

Diz que Sócrates está em vias de ser preso- não detido - para interrogatório, mas a PGR desmente.
Terá sido por ele se interrogar sobre o "momento" da detenção de Ricardo Salgado?
Quando é que prendem, julgam e condenam o homem, de uma vez por todas? Esta estória faz-me lembrar os filmes da minha juventude, projectados em 24 partes, doze em cada sessão. 

CONTRIBUTOS EXTERNOS

BES - uma estória mal contada


Por Antunes Ferreira



O caso do BES e do polvo de que é a cabeça continua a ser muito mal contado. O poder financeiro de que depende o económico ainda parece ser, se não intocável, muito difícil de imputar a quem quer que seja dos seus agentes e investidores. Será que quem devia fazê-lo tem medo? A ser assim – e penso que não há ninguém que me contradiga – medo de quê e de quem?

Com a madruga redentora de 25 de Abril de 1974 Portugal tinha deixado de ser medroso como até lá existia. Medo da ditadura salazarenta/marcelista, medo da PIDE/DGS impune, medo dos tribunais especiais civis e militares, medo das prisões sem culpa formada, medo dos campos de concentração, como do Tarrafal em Cabo Verde ou o de São Nicolau em Angola, medo dos informadores, ou seja medo dos bufos, medo da Censura. O rol, aliás conhecido, é enorme, muito para além dos medos que foram aqui elencados.

Porém, o medo voltou, em especial com o regime encabeçado pelo suposto Presidente da República e pelo gangue que (des)governa este País. As ameaças mais ou menos veladas, mais ou menos sofismadas multiplicam-se. A crise mete medo. A autoridade, i.e, a austeridade inconsequente, criminosa e despótica metem medo. A troika que se encarniça contra a economia  mete medo .A Alemanha com a Frau Merkel ao leme mete medo. O despedimento e o consequente desemprego metem medo. E o aumento da emigração, aliás ordenada pelo próprio (des)Governo, também mete medo.

Nesta conjuntura recomeçaram as conversas em tom sussurrado, os olhas à volta, os nonos bufos, todos esses estão a voltar à tona de uma democracia que em vez de se desenvolver e cimentar, titubeia com… medo de ser pura e simplesmente eliminada. E não há hoje quem afirme convictamente, como já aconteceu, que a liberdade veio para ficar. Não se seja tão pessimista; há, com certeza, mas poucos.

Por algum motivo o escândalo do império Espirito Santo foi minimizado pelo seu relações públicas Cavaco Silva. E por Passos Coelho e por Carlos Costa e por Carlos Tavares, supostamente também relações públicas do império ES. O Ministério Público finalmente mexeu-se, mas com um incrível atraso na sua intervenção. E os “analistas de serviço oficial” bem tentaram sossegar o povo, pois tratava-se de um caso conjuntural que não contagiaria ninguém, pode a plebe estar descansada. Há dinheiro para todos os desmandos, porque existe uma almofada.

Porém, fora da pequenez lusitana as coisas fiam mais fino. No Luxemburgo, na França, em Angola, no Panamá, todos os poderes respectivos puseram-se à defesa e decretaram medidas restritivas para a actuação do famigerado grupo. Até a própria Wall Street se interrogou sobre o que se passava no BES e no que o rodeia – e que é muito. Nos ramos da Saúde, da Indústria  Hoteleira, da Operação Turística, da Agricultura, da Indústria Alimentar, da Promoção Imobiliária ,dos Seguros. É, realmente uma organização tentacular.

As operações do Grupo Espirito Santo (GES) a nível financeiro, com arquitecturas imbricadas e fraudulentas levaram a que a exposição de empresas portuguesas Espirito Santo Financial Group (ESFG) é de cerca de cinco mil milhões de euros! No resto do Mundo há que fazer contas, como é o episódio caricato da PT e Rio Forte. Por algum motivo a fusão da PT com a OI passou a ser da OI com a PT.


O medo, porém, não impediu as ligações entre a finança e o poder político ao longo dos anos. Uma promiscuidade altamente comprometedora, mas que pareceu intocável, até as comadres se zangarem. Apenas um apontamento final: tanto quanto estou informado, o sr. Ricardo Salgado, indiciado em processo-crime, mas solto sob uma fiança de três milhões (para ele peanuts) ainda não mexeu nos dinheiros que são muitos e que tem sossegadamente no Brasil. E, no qual pelos vistos não mexerá.

MEMÓRIAS

Neste dia (aziago para o cinema),


em 1983, morre Luís Buñuel, realizador espanhol





e, em 2007, morre Michelangelo Antonioni, realizador italiano





e, ainda, Ingmar Bergman, realizador sueco




terça-feira, 29 de julho de 2014

MEMÓRIAS

Neste dia, 





em 1856, morre Robert Schumann, compositor alemão,




em 1925, nasce Mikis Theodorakis, compositor grego




e em 1983, morre Davi Niven, actor inglês

segunda-feira, 28 de julho de 2014

LIDO

OPINIÃO

A Pátria somos nós

Infelizmente, vejo mais do mesmo, a menos que o prisma de visão lhe permita de Bruxelas ver mais longe e as conversas com os dirigentes de fora da Europa a alertem para reverter políticas economicamente suicidas.
O nosso país ensandeceu, dispara Augusto (Tito) Zagalo assim que nos encontrámos em rápido almoço após a sua chegada dos EUA e antes de partir para as gélidas ondas de Moledo, das quais não prescinde, para contrabalançar o clima equatorial que se vive nesta altura do ano em Washington DC.
Não apenas o nosso País, mas o Mundo inteiro que se tornou subitamente mais perigoso que há um ano! Já viste o massacre de Gaza, perante a passividade incivilizada dos mais civilizados? Já viste a escalada verbal gerada na Ucrânia, complementada por uma guerra larvar com danos colaterais gravíssimos, como o derrube de um avião de carreira comercial? Até parece que os ciclos de três acidentes aéreos se repetem, com o avião atingido pela tempestade em Taiwan e agora aquele que desapareceu no Saara!
Meu caro, responde Tito, ansioso por badalar acontecimentos nacionais, o que me interessa nestes dias é a Pátria. “A Pátria somos nós”, como escreveu o Manuel Alegre! E a Pátria não vai bem: a queda do Grupo Espírito Santo, as eleições internas no PS, a tolerância para com ditadores endinheirados na CPLP e até uma possível nova emigrante, a Ministra das Finanças, a fugir dos baixos ordenados da função pública, que ela friamente tem ajudado a destruir. E para cúmulo, o Portas a mostrar a novo potencial comprador, chinês, a base das Lages. Tudo factos que revelam uma pequenez, uma miopia de visão intolerável. Sabes bem como detesto a ideia do País como uma “piolheira” que Eça e D. Carlos criaram. Custa-me ver a Pátria aviltada, mesmo que sempre a tenhamos conhecido pequena. Custou-me explicar aos meus colegas de outros países, como é que a 10.ª potência futebolística mundial tinha soçobrado em dois jogos desastrosos. Sofro com tudo isto, meu caro!
Não te amofines, Tito Amigo, tudo tem a sua explicação. O Grupo financeiro que referes caiu com estrondo, sem “panache”, na inversa da silenciosa reputação e mistério com que foi laboriosamente tecido durante décadas. Provavelmente tudo ruiu por dentro, tal como os governos. Não tenho competência para analisar factos que desconheço e mecânicas que não domino, mas custa-me ver as hienas a uivar à volta do cadáver. As mesmas que não se aproximavam do grupo ou pior ainda, dele comiam os restos do banquete, agora uivarem de ódio, transformando o banqueiro em fonte de todos os males. Não comento o processo judicial, por desconhecimento e sobretudo por princípio e até estou disposto a conceder que o “timing” usado visou defender o banco e as finanças do País. Mas lamento que o País se veja subitamente privado do conhecimento acumulado, de uma rede internacional de contactos que certamente nos foi útil em muitas ocasiões. Não sou dos que se regozijam com a derrocada, bem me parece que ainda iremos lamentar a violência com que ocorreu. E verás daqui a alguns anos, boa gente a lamentar que nada tenha sido feito em tempo útil para prevenir o terramoto. E não critico o regulador, pois o jogo de espelhos dos últimos tempos bem deve ter confundido tudo e todos.
Mas então, o teu PS não teria melhor altura para recompor comandos, que não agora, à beira de férias e quando a unidade pode ser decisiva? Pois sim, Tito, reconheço o argumento da oportunidade, mas advirto-te de que ele joga nos dois sentidos: constatada a incapacidade de um ganho eleitoral correspondente à veemência da recusa popular ao actual governo, contabilizadas as abstenções, votos em branco e refúgio em candidaturas conjunturais, acumulados os depoimentos de cidadãos aspirando à mudança, criou-se um imperativo categórico: se o Costa é visto como o desejado ainda envolto em bruma, tinha que se lhe exigir que descesse da proa do navio e viesse reunir tropas e amigos para se apresentar ao comando. Foi o que aconteceu. Tentativas de retenção dessa linha de progresso não surtiram efeito, nem mesmo o controlo administrativo do aparelho pelos relutantes resistentes. Agora vai mesmo ser dirimido o conflito. Verás que as coisas acalmarão em Agosto. Mas em Setembro haverá eleições nas federações distritais, onde tudo se joga, pois do seu resultado depende o controlo da máquina e sem máquina não há candidaturas, sem candidaturas não se constrói alternativa política. Nem tudo será limpo e cristalino, tal como no teu país de adopção, mas ao menos está a construir-se o esforço de jogo limpo. Para já, o afluxo de simpatizantes é sinal positivo.

António Correia de Campos, in PÚBLICO de hoje

MEMÓRIAS

Neste dia, 
em 1741, morre Antonio Vivaldi, compositor italiano





e, em 1758, morre Johann Sebastian Bach, compositor alemão





domingo, 27 de julho de 2014

COMENTÁRIOS - 2

Marcelo nega falta de independência 

para falar do BES

por Octávio Lousada OliveiraHoje12 comentários
Marcelo nega falta de independência para falar do BES

Comentador da TVI diz que o 
facto de Ricardo 
Salgado ser seu amigo não implica que não 
analise a crise do Grupo Espírito Santo nem
 a detenção do banqueiro.

Marcelo Rebelo de Sousa contrariou, no habitual
 espaço de comentário dominical na TVI, a tese de
 que lhe faltaria isenção a analisar a crise no Grupo
 Espírito Santo e no BES, vincando que não seria 
o facto de ser "amigo" do banqueiro que o 
impediria de abordar o tema que tem dominado 
a atualidade nos últimos dias.
O professor revelou não ser "daqueles que agora nem 
respondem a mensagens" ou dizem não poder contactar
 com Ricardo Salgado uma vez que "ele agora é arguido", salientando, porém, este caso constitui um verdadeiro 
"teste à Justiça" portuguesa.
O antigo líder do PSD assinalou que Ricardo Salgado 
era, de facto, "odiado por muitos, sobretudo aqueles que [negocialmente] atropelou", e frisou que agora 
"nenhum partido, nenhum político e nenhum 
clube de futebol vai querer [dizer] ter recebido 
um tostão" do BES.
Quanto aos acontecimentos propriamente ditos, 
Marcelo Rebelo de Sousa defende que o "aumento 
de capital do BES Angola" deverá ser suficiente 
para evitar um "efeito sistémico" na banca e na 
sociedade portuguesas, embora destaque que 
existe agora um coeficiente de antipatia e desamor" 
para com o capitalismo bancário.
No que respeita à política, o analista reconhece 
que da perspetiva do Governo "é tentador" apontar
 a ministra das Finanças para o cargo de comissária 
europeia, ainda que, por considerar Maria Luís 
Albuquerque uma "peça chave do Executivo", 
sublinhe que essa opção "dará a sensação de 
que Passos Coelho pense que isto já foi à vida".

In DN online

COMENTÁRIOS - 1

Sócrates diz que a justiça tem que dar 

explicações

por Valentina Marcelino

"Não ouvi até agora uma explicação 
convicente 
para a necessidade de deter para 
interrogar. 
Pelo que foi noticiado sempre se 
mostrou 
disponível para colaborar com as 
autoridades.
 A Justiça ganhava em explicar a 
detenção de 
Ricardo Salgado", disse hoje à noite 
José Sócrates.
No seu habitual comentário político dominical 
na RTP 1, Sócrates disse não querer "acreditar" 
que a Justiça "só persiga quem já não é 
poderoso", respondendo à pergunta da 
jornalista do Telejornal sobre o "timing" da 
detenção de Ricardo Salgado, quando 
já não era presidente do Banco Espírito 
Santo (BES). "Não quero fazer essa relação, 
seria terrível", afirmou, sublinhando que o que 
mais o "espantou" foi a detenção para 
interrogatório do banqueiro.
José Sócrates considera que "a falência 
do 
Grupo Espírito Santo não vai deixar 
de ter consequências para a economia e 
vão ser
 negativas". No seu entender, "é um 
episódio 
triste" pois envolve "portugueses a 
comandar 
um grupo económico português". 
"Pouco me importam as dinastias", 
declarou.
Outra nota de José Sócrates foi sobre 

possível nomeação da ministra das 
Finanças, 
Maria Luís Albuquerque, para comissária 
europeia. "
Espanta-me muito. Será a pior escolha
 possível" 
enviar para Bruxelas a "campeã da 
austeridade" quando "os sinais que 
vêm 
da Europa são no 
sentido contrário". "Era a melhor forma 
de 
acabar já com qualquer consenso com
 o PS", acrescentou.
A única "explicação", sugeriu, é que
 exista 
"um plano de abandono e fuga" de um 
Governo 
que "já sabe que acabou e tenta colocar 
as suas pessoas".
Sócrates destacou também o recente 
aumento
 da dívida pública (132%), lembrando que 
"nos 
últimos três anos este Governo fez tudo em 
função
 da dívida, toda a austeridade era para 
controlar 
a dívida" e "consegue que ela suba 
mais em três 
anos, que nos últimos seis". O Governo 
"chega 
a este momento e o balanço que se faz 
é que tem
 mais
 dívida e mais empobrecimento de
 Portugal"

DN online

LIDO (PEDRO SILVA PEREIRA)



25 Jul 2014



Pedro Silva Pereira

Unanimidade sem aclamação

PEDRO SILVA PEREIRA

O facto político é este: no ano da graça de 2014, Cavaco Silva, Passos Coelho e Rui Machete atravessaram meio mundo para ir a Díli aprovar, em nome de Portugal, a entrada da Guiné Equatorial na CPLP.
A encenação do embaraço português, embora caricata, não constará da acta final da cimeira.
Tendo decidido ceder a todas as pressões e viabilizar a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, o Governo e a Presidência da República esforçaram-se por fazer passar na comunicação social, estranhamente com algum sucesso, uma estratégia de despudorada desresponsabilização assente em três argumentos, todos eles falaciosos.
Em primeiro lugar, o argumento do costume: este processo "já vinha de trás". Entendamo-nos: o que realmente "vinha de trás" não era nenhuma decisão política final mas apenas o pedido formal da Guiné Equatorial, que levou à atribuição de um mero estatuto de "observador" e à fixação, em 2010, com a participação do Governo anterior e o acompanhamento do actual Presidente da República, de um muito exigente roteiro de requisitos para uma eventual adesão, quer no domínio da valorização da língua portuguesa, quer sobretudo em matéria de democratização do regime e de respeito pelos direitos humanos. Assim sendo, a avaliação da suficiência dos progressos efectuados pela Guiné Equatorial, ao longo dos três últimos anos, em todas estas frentes, incluindo no que se refere ao respeito efectivo pelos princípios do Estado de Direito, é da inteira responsabilidade do Governo e do Presidente actuais. Como é sua a responsabilidade pela decisão final que acaba de ser tomada.
Em segundo lugar, o argumento extraordinário de que Portugal, sobretudo na sua condição de antiga potência colonial, "não podia ficar isolado" e "não é dono da CPLP". Evidentemente, não é disso que se trata: ninguém é dono da CPLP, a não ser os seus Estados-membros, nos termos dos respectivos estatutos. O que sucede, e é aliás frequente neste tipo de organizações internacionais, é que a adesão de um novo Estado, qualquer que ele seja, depende de uma decisão que tem obrigatoriamente de ser proferida por unanimidade. Isto significa que na decisão colectiva a posição de todos e de cada um dos Estados-membros tem de ser devidamente respeitada. Falemos, pois, com clareza: a verdade é que o Presidente da República e o Governo português, ao decidirem como decidiram, fizeram uma escolha política que podiam não ter feito. E essa escolha é inteiramente sua.
O terceiro argumento é, de entre todos, o mais bizarro e resume-se nisto: Portugal participou activamente no consenso favorável à entrada da Guiné Equatorial na CPLP mas, ao contrário dos outros, "não escondeu o seu embaraço". Sublinhou-se até que o Presidente Cavaco Silva, que chefiou a delegação portuguesa, "não aplaudiu" o ditador Teodoro Odiang, sugerindo uma nova modalidade de deliberação: a "aprovação por unanimidade mas sem aclamação unânime". Mais: Portugal fez constar que só aceitou que Odiang participasse na sessão de abertura, antes mesmo de ser formalmente decidida a adesão da Guiné Equatorial, "para não criar um incidente protocolar" aos nossos amigos timorenses e contribuir assim para que a cimeira de Díli fosse aquilo que o Presidente e o Governo português garantem, apesar de tudo, que foi: "um sucesso". Eis a verdadeira história do contributo de Portugal para o alegado "sucesso" de uma cimeira no fim da qual só há uma certeza: a CPLP já não é o que era.

Pedro Silva Pereira in Diário Económico

Como "toda a gente" já disse e escreveu, esta "cena" foi um desastre diplomático em toda a linha. Não há responsáveis por esta miséria de actuação? 

MEMÓRIAS


Neste dia, em 1984, morre James Mason, actor britânico

sábado, 26 de julho de 2014

LIDO (PACHECO PEREIRA)




O mundo em que (alguns) portugueses vão para férias

Como ninguém gosta do desprezo, a não ser que seja masoquista, percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas.




– Insatisfeitos, pessimistas e sem esperança. 96% acham que a situação económica do país é má. Repito, 96%, um número daqueles que se costumam chamar “albaneses”. Só que neste caso é bem português. Ou seja, quase todos os portugueses descrêem do “milagre” económico que, com cada menos convicção, Passos Coelho, Portas e Pires de Lima propagam por todo o lado. Não lêem a imprensa económica, não lêem os blogues governamentais, não lêem os comentadores do Observador, não acreditam no PSD e no CDS, mesmo quando deles fazem parte. Nenhum país da Europa tem estes resultados, nem a Grécia. Percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas, em nenhuma circunstância, mesmo quando o argumento a seu favor é da natureza dos argumentos que eles próprios costumam usar: facilitar com alguns meses de antecipação eleitoral, a atempada preparação do Orçamento.
– Muito preocupados com o futuro. São gente sábia e razoável e realista e pensam na sua maioria que o “pior está para vir”. Os europeus, pelo contrário, acham que o pior já passou. Os franceses, os cipriotas, os eslovenos, os italianos e os gregos também acham que o pior está para vir, mas acham menos do que os portugueses. Nenhum povo da Europa tem tanto medo do futuro como os portugueses. Percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas.
– Com medo de caírem na pobreza. Quase 40% dos portugueses receiam “cair” num estado de pobreza, o que é um número altíssimo. É verdade que há mais gregos com idêntico receio, mas este número por si só dá um retrato “existencial” da situação dos portugueses que não eram pobres e agora temem estar a caminho de o serem. Muitos temem, mas muitos já sabem: já têm muitas dívidas, estão em incumprimento nos seus empréstimos, têm ameaças de penhora do fisco sobre os seus bens e o seu salário, por isso o seu mundo só pode piorar. E cada ano que passa é pior, nem sequer é preciso mais qualquer pacote de austeridade, basta os que já existem. Basta o que já perderam de salário, de pensões, de reformas, de apoios sociais. Para a frente é sempre pior a escuridão. Percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas.
– Têm medo do desemprego e do custo de vida, estão esmagados por impostos e, se têm emprego, vêem o seu salário sempre a baixar. Já não chega o que ganham. Vão agora começar a viver acima das suas possibilidades durante uns meses, para depois deixarem de ter possibilidades e não poderem cuidar das suas necessidades básicas. Percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas.
– Não acreditam em nada, nem em ninguém. Nem nos políticos, nem na política. Quase que já não acreditam na democracia. Não têm qualquer confiança no actual Governo. 85%, repito, 85%, não têm confiança no Governo. Outro número “albanês”, mas bem português, acima de todos os outros na Europa. Percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas.
– Humilhados, maltratados, desprezados. Tratados como ricos indevidos, eles que nunca foram ricos, só quando muito remediados. Culpados de serem velhos e estarem cá a mais a atravancar os jovens que estão a “trabalhar” para eles receberem as pensões e reformas. Culpados de terem emprego, com salários e alguns direitos, e por o terem estarem a impedir os desempregados de aceitarem receber uma miséria e poderem ir para a rua a qualquer altura. Culpados de serem pobres e receberem alguns apoios sociais. Ser pobre significa ser calaceiro e não querer trabalhar. Culpados de serem professores, ou calceteiros, ou enfermeiros, ou trabalhadores de um serviço municipal, ou auxiliares de limpeza, ou técnicos de informática, ou motoristas, ou qualquer outra coisa, se estiverem na função pública. Culpados de serem “piegas”, neo-realistas, protestantes, reivindicadores, sindicalistas, incomodados, desrespeitadores da autoridade, corporativos, não yuppies, estudantes de qualquer curso “sem empregabilidade”, cultores das humanidades em vez da gestão, do marketing, e do “empreendedorismo”. Como ninguém gosta do desprezo, a não ser que seja masoquista, percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente não querem ouvir falar de eleições antecipadas.
Cansados de um imenso cansaço, cansados de um desesperante cansaço. Vão para férias, mas não vão ter férias. Podem mergulhar no mar, mas quando se encostam à toalha para secar, a sua cabeça não descansa. (Como é que vou pagar o carro em Setembro? Como é que vou pagar a prestação da casa? Já não posso mais receber aqueles avisos da Autoridade Tributária a explicar por um número infindo de artigos que o meu salário vai ser penhorado. Como é que vou sobreviver com a conta bancária confiscada para pagar i IRS? Como é que vou dizer à minha mulher que saio todos os dias de manhã como se fosse para o emprego, mas há um mês que fui despedido? Será que no meu serviço serei passado para a mobilidade especial? Vou ter de mudar de casa, por que não posso pagar a nova renda que o senhorio me pediu. A nossa filha entrou na universidade, mas onde é que vou arranjar o dinheiro para as propinas? Como é que vou de novo abrir o café, quando devo dinheiro a todos os fornecedores? E como vou continuar a ter o meu empregado de sempre na oficina quando ninguém paga nada? Apetece-me fugir. Fugir! Percebe-se muito bem por que razão o PSD, o CDS e o Presidente da República não querem ouvir falar de eleições antecipadas.

Nota: Usando o último Eurobarómetro e não só.

Pacheco Pereira no PÚBLICO de hoje

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1856, nasce George Bernard Shaw, escritor e dramaturgo irlandês.

sexta-feira, 25 de julho de 2014