BES - uma estória mal contada
Por Antunes Ferreira
O caso do BES e do polvo de que é a cabeça continua a ser
muito mal contado. O poder financeiro de que depende o económico ainda parece
ser, se não intocável, muito difícil de imputar a quem quer que seja dos seus
agentes e investidores. Será que quem devia fazê-lo tem medo? A ser assim – e
penso que não há ninguém que me contradiga – medo de quê e de quem?
Com a madruga redentora de 25 de Abril de 1974 Portugal
tinha deixado de ser medroso como até lá existia. Medo da ditadura
salazarenta/marcelista, medo da PIDE/DGS impune, medo dos tribunais especiais
civis e militares, medo das prisões sem culpa formada, medo dos campos de
concentração, como do Tarrafal em Cabo Verde ou o de São Nicolau em Angola,
medo dos informadores, ou seja medo dos bufos, medo da Censura. O rol, aliás
conhecido, é enorme, muito para além dos medos que foram aqui elencados.
Porém, o medo voltou, em especial com o regime encabeçado
pelo suposto Presidente da República e pelo gangue que (des)governa este País.
As ameaças mais ou menos veladas, mais ou menos sofismadas multiplicam-se. A
crise mete medo. A autoridade, i.e, a austeridade inconsequente, criminosa e
despótica metem medo. A troika que se encarniça contra a economia mete medo .A Alemanha com a Frau Merkel ao
leme mete medo. O despedimento e o consequente desemprego metem medo. E o
aumento da emigração, aliás ordenada pelo próprio (des)Governo, também mete
medo.
Nesta conjuntura recomeçaram as conversas em tom sussurrado,
os olhas à volta, os nonos bufos, todos esses estão a voltar à tona de uma
democracia que em vez de se desenvolver e cimentar, titubeia com… medo de ser
pura e simplesmente eliminada. E não há hoje quem afirme convictamente, como já
aconteceu, que a liberdade veio para ficar. Não se seja tão pessimista; há, com
certeza, mas poucos.
Por algum motivo o escândalo do império Espirito Santo foi
minimizado pelo seu relações públicas Cavaco Silva. E por Passos Coelho e por
Carlos Costa e por Carlos Tavares, supostamente também relações públicas do
império ES. O Ministério Público finalmente mexeu-se, mas com um incrível
atraso na sua intervenção. E os “analistas de serviço oficial” bem tentaram
sossegar o povo, pois tratava-se de um caso conjuntural que não contagiaria
ninguém, pode a plebe estar descansada. Há dinheiro para todos os desmandos,
porque existe uma almofada.
Porém, fora da pequenez lusitana as coisas fiam mais fino.
No Luxemburgo, na França, em Angola, no Panamá, todos os poderes respectivos
puseram-se à defesa e decretaram medidas restritivas para a actuação do
famigerado grupo. Até a própria Wall Street se interrogou sobre o que se
passava no BES e no que o rodeia – e que é muito. Nos ramos da Saúde, da
Indústria Hoteleira, da Operação
Turística, da Agricultura, da Indústria Alimentar, da Promoção Imobiliária ,dos
Seguros. É, realmente uma organização tentacular.
As operações do Grupo Espirito Santo (GES) a nível
financeiro, com arquitecturas imbricadas e fraudulentas levaram a que a
exposição de empresas portuguesas Espirito Santo Financial Group (ESFG) é de
cerca de cinco mil milhões de euros! No resto do Mundo há que fazer contas, como é
o episódio caricato da PT e Rio Forte. Por algum motivo a fusão da PT com a OI passou a ser da OI com a PT.
O medo, porém, não impediu as ligações entre a finança e o poder
político ao longo dos anos. Uma promiscuidade altamente comprometedora, mas que
pareceu intocável, até as comadres se zangarem. Apenas um apontamento final:
tanto quanto estou informado, o sr. Ricardo Salgado, indiciado em
processo-crime, mas solto sob uma fiança de três milhões (para ele peanuts)
ainda não mexeu nos dinheiros que são muitos e que tem sossegadamente no
Brasil. E, no qual pelos vistos não mexerá.
Sem comentários:
Enviar um comentário