OPINIÃO
A Pátria somos nós
Infelizmente, vejo mais do mesmo, a menos que o prisma de visão lhe permita de Bruxelas ver mais longe e as conversas com os dirigentes de fora da Europa a alertem para reverter políticas economicamente suicidas.
O nosso país ensandeceu, dispara Augusto (Tito) Zagalo assim que nos encontrámos em rápido almoço após a sua chegada dos EUA e antes de partir para as gélidas ondas de Moledo, das quais não prescinde, para contrabalançar o clima equatorial que se vive nesta altura do ano em Washington DC.
Não apenas o nosso País, mas o Mundo inteiro que se tornou subitamente mais perigoso que há um ano! Já viste o massacre de Gaza, perante a passividade incivilizada dos mais civilizados? Já viste a escalada verbal gerada na Ucrânia, complementada por uma guerra larvar com danos colaterais gravíssimos, como o derrube de um avião de carreira comercial? Até parece que os ciclos de três acidentes aéreos se repetem, com o avião atingido pela tempestade em Taiwan e agora aquele que desapareceu no Saara!
Meu caro, responde Tito, ansioso por badalar acontecimentos nacionais, o que me interessa nestes dias é a Pátria. “A Pátria somos nós”, como escreveu o Manuel Alegre! E a Pátria não vai bem: a queda do Grupo Espírito Santo, as eleições internas no PS, a tolerância para com ditadores endinheirados na CPLP e até uma possível nova emigrante, a Ministra das Finanças, a fugir dos baixos ordenados da função pública, que ela friamente tem ajudado a destruir. E para cúmulo, o Portas a mostrar a novo potencial comprador, chinês, a base das Lages. Tudo factos que revelam uma pequenez, uma miopia de visão intolerável. Sabes bem como detesto a ideia do País como uma “piolheira” que Eça e D. Carlos criaram. Custa-me ver a Pátria aviltada, mesmo que sempre a tenhamos conhecido pequena. Custou-me explicar aos meus colegas de outros países, como é que a 10.ª potência futebolística mundial tinha soçobrado em dois jogos desastrosos. Sofro com tudo isto, meu caro!
Não te amofines, Tito Amigo, tudo tem a sua explicação. O Grupo financeiro que referes caiu com estrondo, sem “panache”, na inversa da silenciosa reputação e mistério com que foi laboriosamente tecido durante décadas. Provavelmente tudo ruiu por dentro, tal como os governos. Não tenho competência para analisar factos que desconheço e mecânicas que não domino, mas custa-me ver as hienas a uivar à volta do cadáver. As mesmas que não se aproximavam do grupo ou pior ainda, dele comiam os restos do banquete, agora uivarem de ódio, transformando o banqueiro em fonte de todos os males. Não comento o processo judicial, por desconhecimento e sobretudo por princípio e até estou disposto a conceder que o “timing” usado visou defender o banco e as finanças do País. Mas lamento que o País se veja subitamente privado do conhecimento acumulado, de uma rede internacional de contactos que certamente nos foi útil em muitas ocasiões. Não sou dos que se regozijam com a derrocada, bem me parece que ainda iremos lamentar a violência com que ocorreu. E verás daqui a alguns anos, boa gente a lamentar que nada tenha sido feito em tempo útil para prevenir o terramoto. E não critico o regulador, pois o jogo de espelhos dos últimos tempos bem deve ter confundido tudo e todos.
Mas então, o teu PS não teria melhor altura para recompor comandos, que não agora, à beira de férias e quando a unidade pode ser decisiva? Pois sim, Tito, reconheço o argumento da oportunidade, mas advirto-te de que ele joga nos dois sentidos: constatada a incapacidade de um ganho eleitoral correspondente à veemência da recusa popular ao actual governo, contabilizadas as abstenções, votos em branco e refúgio em candidaturas conjunturais, acumulados os depoimentos de cidadãos aspirando à mudança, criou-se um imperativo categórico: se o Costa é visto como o desejado ainda envolto em bruma, tinha que se lhe exigir que descesse da proa do navio e viesse reunir tropas e amigos para se apresentar ao comando. Foi o que aconteceu. Tentativas de retenção dessa linha de progresso não surtiram efeito, nem mesmo o controlo administrativo do aparelho pelos relutantes resistentes. Agora vai mesmo ser dirimido o conflito. Verás que as coisas acalmarão em Agosto. Mas em Setembro haverá eleições nas federações distritais, onde tudo se joga, pois do seu resultado depende o controlo da máquina e sem máquina não há candidaturas, sem candidaturas não se constrói alternativa política. Nem tudo será limpo e cristalino, tal como no teu país de adopção, mas ao menos está a construir-se o esforço de jogo limpo. Para já, o afluxo de simpatizantes é sinal positivo.
António Correia de Campos, in PÚBLICO de hoje
Sem comentários:
Enviar um comentário