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AZINHEIRA _
Gil Monteiro*
Na última ida ao Douro, fui visitar as vinhas, olivais e
árvores de frutos. As cerejas, pêssegos do S. João e nêsperas (um pouco
queimadas), estavam um espanto de abundanças e saborosas, até os passarinhos
sorriam nos ninhos pensando que eram os pais que se aproximavam! -- Ano farto e
belo... Apenas se notava a falta de água nos riachos para lavar e refrescar a
fruta. Mesmo quentes e com pó foram trincadas.
Os terrenos rejeitados para o plantio de vinho do Porto, e
não autorizados pelas inspeções, devido a serem penhascos quartzíticos de forte
inclinação e fragas agudas, apenas sobrevivem algumas azinheiras, cujas bolotas
alimentam javalis, cada vez em maior número e mais adaptados aos ruídos dos
tratores e menos trabalhadores rurais, que laboram em rogas de manhãs e tardes.
Uma azinheira muito velha de idade perdida, restava entre
poucas videiras também velhinhas, recolhidas entre fragas e solo foçado pelos
porcos-bravos na procura da bolota caída! Os trilhos são tantos que até se
encontram fezes nas saídas para os montes inóspitos.
As folhas persistentes do azinhal dão frescura, no tempo
tórrido aos animais e trabalhadores. A madeira bonita e preciosa é utilizada no
mobiliário, dando cabos de facas, colheres e garfos. As molduras de azinho são
mimos nos quadros antigos.
Crescem na paisagem árida, cobrindo os penhascos, entre
oliveiras, alguns sobreiros, vinha e olival. Os montes e vales mostram fios,
postes e cabos elétricos imitando terrenos mágicos!
As barragens fluviais e postes eólicos e de transporte de energia
mostram o Douro do século XXI , a passarada ganhou vantagem, menos os cucos e
os gaios. Os terrenos de semeadura estão quase extintos... Não topamos
trabalhadores de socos ou botas, deslocam-se em carrinhas e até motos quatro
rodas. Não vão às fontes (foram entupidas pelos saibramentos) têm as suas
garrafas ou garrafões de água de marca! E trabalham pela fresca... Com os
fortes herbicidas, adeus cavas e redras. Até a vindima mecânica ocupa pouca
gente, apesar de ter aumentado em dezenas e centenas. As raras azinheiras dão
sombra e poiso às vindimadeiras, enquanto os tratores carregam e descarregam os
belos cachos vermelhos!
O vinho fino, agora servido por garrafas, nos dias de festas
e culinária, então os doces? E os licores?! Beber uns copos só no vasilhame e
dias de carregação para Gaia. Barcos rabelo só para turistas --- rio acima, rio
abaixo!
Tantas ciências magicam ainda não e não temos o controlo dos
ventos e das chuva (!?) Venha a velha água-pé e o néctar do Porto a fazer
estalar a língua no palato!... Mesmo, comendo bolotas assadas!...
Porto, 14/6/17
* José Gil
Correia Monteiro