segunda-feira, 31 de março de 2014

RANGELICES

A propósito de uma grande entrevista de Durão Barroso ao Expresso e à SICN, Sócrates considerou 'medíocre' a 'prestação', durante dois mandatos, do ainda presidente da Comissão Europeia. É uma opinião, de que muitos comungarão e outros nem por isso.
Estranho, é que Paulo Rangel, cabeça de lista pela coligação PSD-CDS ao Parlamento Europeu, venha reclamar que Seguro declare se se revê em tal opinião e se "prefere um alemão a um português na presidência da Comissão Europeia".
Mas não é sabido que a pilha de Durão Barroso já deu o berro e não é (re)candidato, nem há nenhum português na corrida?
A pilha do Rangel também está a dar o berro ou o homem ensandeceu. 

domingo, 30 de março de 2014

A MISSA DE MARCELO

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, no seu comentário televisivo habitual, que o caso que marcou a semana - o secretário de Estado José Leite Martins ter adiantado, num encontro com alguns jornalistas, os futuros cortes das pensões - é grave porque "não se brinca com a questão das pensões".
O comentador considerou também haver " descoordenação política no governo" e que Poiares Maduro, responsável pela comunicação do governo, "anda a apanhar bonés".
Marcelo disse ainda que José Leite Martins tem condições para continuar no governo porque "todos têm", referindo ainda a frase de Marques Guedes que disse que"declarações de uma fonte das Finanças" não vinculam o governo. "Então, vincula quem? O contínuo?", ironizou o comentador.
Para Marcelo, este acontecimento ajudou "Seguro a conseguir uma vantagem de 8 a 9% nas próximas eleições europeias".


i online


Não sei se o "incidente" ajuda o Seguro, mas este governo já não tem conserto, mesmo com a ajuda do venerável de Belém.

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais uma crónica do Henrique Antunes Ferreira, que continua em vacances por Goa





GRALHAS SEM GRALHAS











Antunes Ferreira

É uma sala recheada de mobília indo-
portuguesa, um aparador precioso, cadeirões magníficos, uma espreguiçadeira desenhada pelo Senhor que me recebe e veste, descontraído, calções e camisa de manga curta, É toda desmontável, esclarece, com uns poucos parafusos, basta desenrosca-los e já está, mandei doze ou treze para Portugal, vêm cá goeses de férias e pedem-me para as encomendar e enviar. As recordações vogam por ali, reflectidas nos quadros que povoam as paredes. Uma osga, plácida e imóvel, espera talvez mosquito para o pequeno-almoço.




Um brasão do Estado Português da Índia
também está pendurado numa delas. Ontem e hoje misturam-se sem brigar com imagens de Santo António e Ganeshes; convivem. O Senhor que nos espera explica que Com o Holi a rapariga deixou-me a comida já feita, vou vivendo sozinho até que desça à tumba. E não me aborreço, tenho sempre coisas para fazer, não posso estar parado. Lá fora o barulho, os tambores, a gente pintada de várias cores, da cara ao vestuário, sem esquecer o cabelo, brincando, berrando, pulando, é um dia especial, o Carnaval hindu, meio pagão meio santo, enquanto a bebedeira não toma conta dos foliões. É o Holi e está tudo dito.


Percival Noronha já fez 90 anos, e confessa-o sorrindo, mas está de memória perfeita, explanação clara, desfia anos como quem desfolha as pétalas do malmequer, bem-me- quer, finta o tempo, sabe tudo, A Raquel é filha do director da Alfândega, o Carlos Melo, bom homem, competente , na Raia, tinha uma bela casa de família agora reconstruída mas já não é que era. Conta as contas do rosário goês, conhece as famílias, enfim, as suas desditas e por aí fora: é omnisciente e omnipresente, um deus enraizado na terra. Ouço-o desbobinar a História e apenas lhe faço uma que outra pergunta. Responde logo. Um espanto!


Quem me levou à casa dele, nas Fontaínhas, a 

Alfama de Panjim, foi o Zito Menezes, médico aposentado, sportinguista ferrenho, bué da fixe, de quem já falei noutras ocasiões. Foi colega da Raquel durante os sete anos do Liceu Nacional Afonso de Albuquerque e conhece perfeitamente Percival. Aliás, falou-lhe na semana passada da nossa visita ao que ele acedeu, Gosto de receber pessoas, de falar com elas e nós a ouvi-lo, a Raquel também alinhou na visita, quase não respiro face ao que ouço e vejo.




O Senhor desculpe-me, estou um tanto surdo, e
puxa a orelha para ouvir melhor, o ruído dos holiões é catastrófico, mas mesmo assim, vai relatando o que aconteceu no tempo dos Portugueses e depois. Caso elucidativo que desmente a versão criminosa posta a circular no tempo salazarento. Recordo a declaração do ministro da Presidência Correia de Oliveira, aliás o Correio do Oliveira como então dizíamos na galhofa. Segundo ele, tinham morrido três mil e mais umas centenas de militares na defesa do solo sagrado da Roma do Oriente, a Pátria fora miseravelmente atacada e conquistada pela invasão das tropas indianas do pandita, o que era igual a bandita, bandido.


O Diário de Notícias publicou em caixa
a mentira do regime. E também referiu o bombardeamento dos depósitos de combustíveis em Vasco da Gama, com incontáveis baixas na população. Estava-se a 22 de Dezembro de 1961, eu começara a namorar com a Raquel em 22 de Agosto e pude acompanhar os dias de angústia que ela vivia. Os seus pais e cinco irmãos moravam ali. Podiam estar todos mortos, de acordo com os noticiários falsos e os comentários pseudo-patrióticos que circulavam.





Foi então que me lembrei de recorrer aos
meus amigos e vizinhos no Bairro do Restelo, os Solano de Almeida, cujo pai, comandante dos TAIP, Transportes Aéreos da Índia Portuguesa, cometera o feito de descolar com o seu Douglas DC 4, da pista bombardeada do aeroporto de Dabolim. Tinha demonstrado uma perícia, um sangue-frio e um destemor realmente notáveis. Na casa dele e depois de eu ter explicado ao que vinha, o piloto informou-me das mentiras que circulavam em  Portugal e que até conhecia os meus futuros sogros, encontrando-se a família de perfeita saúde. Não gostava do regime salazarento, eu sabia. Claro que a Raquel passou o Natal muito mais sossegada. E eu também.


Agora e aqui, Percival  limita-se a concordar: foi mesmo assim. Pergunto-me quem é este homem de saberes imensos, cronista, viúvo, orador, combatente de muitas causas, repositório vivo de noventa anos de História, completados em 22 de Junho do ano passado? Recorro a notas biográficas publicadas no semanário “Goan” em inglês e por mim adaptadas em Português. Tenho de agradecer à publicação, de outro modo teria de encher-me de paciência para seleccionar dados sobre ele, tantos são os que existem. O que em férias seria de criticar e de eu ser considerado, pelo menos, maluco…

 


“Percival não é um cronista do passado, ele é o passado, Em 1961, quando a Índia recuperou Goa, ele era funcionário, tendo chegado a Chefe do Gabinete de Informação, que reportava directamente ao último Governador Português, Vassalo Silva, com quem viajou por inúmeras vezes para Damão e Diu. A sua tranquila eficiência e capacidade de elaborar e aplicar regras, fê-lo osubir na hierarquia sob o Governo indiano tornando-se chefe do Protocolo Oficial no final dos anos setenta e, em seguida, subsecretário de departamentos-chave - saúde, indústria, informação e turismo.


Realmente continua a ter um talento especial, com raízes ancestrais nas aldeias de S. Matias em Mala de onde veio sua mãe Aurora Vital e Noronha  e Loutolim, a vila de seu pai Antonio José de Noronha. Este partiu para o Uganda com Percival, então quase bebé, e voltou em 1929, quando  tinha sete anos; deu entrada no Liceu para completar a sua escolaridade”.


Durante a nossa conversa apontou a herança de Goa que se encontra em ruínas. Posso dizer que Percival é a herança que ainda está de pé, e sublinha que os arquivos de Goa estão a perder-se e em estado decadente, bem como os edifícios antigos que não foram persevados. Mas, perante o seu saber e a sua lucidez, ele continua a ser um arquivo permanente que acentua como Goa desliza em plano inclinado e se torna uma sombra do seu passado.



Saio da casa de Percival no bairro das Fontaínhas perfeitamente esmagado; alias, saímos os três, o Zito, a Raquel e eu. Descemos os degraus que nos tinham levado ao primeiro andar e lá em cima Percival como bom anfitrião despede-se, acenando cordialmente. Pede-me para voltar, tem um livro para me oferecer. Claro que voltarei. Na parede do cimo do patamar da escada tem uma roda de madeira também trabalhada. É a última informação que nos dá, trata-se de uma peça que mandou fazer e é uma reprodução das que em pedra fazem parte de templos hindus que são carros.

 

Cá fora os foliões hindus todos muito pintados continuam a carnavalar o Holi. Por toda a Goa este é um dia especial e feriado, as lojas fecham e, singularmente apenas umas quantas de hindus se mantêm abertas. No resto da Índia também. Nas Fontaínhas, bairro castiço, onde os habitantes são particularmente católicos, de cultura e tradições lusas, estes festejos vão durar todo o dia, parando apenas amanhã que é dia de trabalho. Três moças, alias bem bonitas, perguntam-nos sorridentes se nos deixamos pintar. Faço um gesto evasivo, mas respondo-lhes um não, também sorrindo. Soltam gargalhadas cristalinas e berrantes como os saris que usam – e afastam-se. Goa  também é   isto.
NR - O raio do pagemaker é fod..., lixado. Agora deu-lhe para botar as excelentes fotos (que quase todas são do modesto autor...) onde lhe dá na realíssima gana: é um filho da puta! E não deixa reduzi-las nem amplia-las, muito menos meter legendas. Mas, como as/os leitoras/es e, sobretudo as/os comentadoras/os são inteligentíssimas/os, não me alongo na explicação.

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Legendas

Brasão de armas do Estado Português da Índia

Percival: Estou um tanto surdo

Comandante Solano de Almeida (Google)

Percival não é o cronista do passado; ele é o passado

Meninas do Holi



MEMÓRIAS



Neste dia, em 2008, morre Dith Pran, fotojornalista, sobrevivente do genocídio cambodjano, retratado no filme "The Killing Fields"

sábado, 29 de março de 2014

MUDANÇA DA HORA


Não se esqueça de, à 1h00 da próxima madrugada, adiantar os seus relógios em 1 hora. 
Vai dormir um pouco menos, mas é a vida...

EM VIAS DE EXTINÇÃO?

Segundo projecções do INE, Portugal pode chegar a 2060 com apenas 6,3 milhões de habitantes ou, na melhor das hipóteses, com 8,6 milhões, com 307 idosos por cada 100 jovens. Isto é, se os portugueses não desatarem a fazer filhos, vamos extinguir-nos como povo e como civilização em menos de um século. Seremos uma Ilha da Páscoa no continente europeu.
Por motivos óbvios, não estou em condições de inverter a tendência para o decréscimo da população. Mas, e os mais jovens, que fazem eles que não fazem filhos? Bom, se estivesse no lugar deles fazia era um manguito já que o Estado nada faz, antes pelo contrário, para alterar o estado das coisas.
Sobra sempre a possibilidade de a imigração poder dar uma ajuda, se Portugal for apelativo. Só que...só que não será certamente a civilização de Viriato dos Montes Hermínios ou de Afonso Henriques. 

O PAÍS QUE VIVIA "VIDA DE RICO"- 2

Ou seja, fazer parte da primeira geração em Portugal que já não tem memória directa da enorme pobreza rural que os seus pais e avós ainda conheceram, que beneficiou do elevador social que foi a educação e o Estado (sim o Estado que, em todos os países democráticos, tem essa função de criar uma classe média… nem que seja para servir de tampão entre os proletários e os milionários. Perguntem ao Bismarck.) e que representa… a única, débil e, pelos vistos, precária modernização de Portugal. Ou, para quem abomina o termo modernização, a primeira geração que acedeu aos padrões de consumo, que a pequena burguesia europeia, a chamada "classe média baixa", já tem há muitos anos. Ficamos a saber que eles são em Portugal os "ricos" (suspeitávamos, por o limiar da riqueza para efeitos de impostos ser 1000 euros) e, pior do que isso, cometerem o pecado mortal de levarem "vida de ricos".
Mas foram mesmo as férias de sombrero feitas com o crédito prestimoso da banca, "faça férias agora pague depois", o verdadeiro problema dessa "riqueza aparente" contra a qual brada? Não, ele sabe que tudo isto foi irrelevante face, por exemplo, ao endividamento que resultou da compra de casa própria, esse sim, um dos ónus actuais mais importantes para as famílias. Mas, apesar da contínua jigajoga que se anda a fazer com o tempo, para trás e para a frente, para legitimar opções do presente, haverá alguém capaz de negar que a opção de comprar a casa era uma decisão racional até ao fim da década de 2000, racional de todos os pontos de vista, até porque não havia a alternativa do aluguer?. E por que razão a culpa é sempre das pessoas e das famílias e o comportamento de bancos e empresas é sempre deixado numa sombra benévola?
A "riqueza" da classe média é o primeiro grande alvo do "ajustamento", mas não é o único. Há outra "riqueza" no alvo, a dos menos pobres dos pobres, a daqueles que dependem de prestações sociais, quase metade dos portugueses, e os que ainda têm emprego e vivem do seu salário. Esta "riqueza" foi a difícil, tímida, demasiado recente (comparada com a Europa) ascensão de uma segurança social, em que ainda a maioria de reformas está abaixo do limiar da pobreza. Esta "riqueza" foi a saúde e a educação, garantidas pelo Estado. A "riqueza" é ter um Estado com obrigações sociais.
A legitimação do ataque a salários, pensões e reformas, do quase confisco administrativo e fiscal do rendimento das pessoas e das famílias, da facilitação do despedimento para criar um exército de mão-de-obra barata, enquadra-se na ideia de que é aí que está a "riqueza aparente" que uma sã economia não pode tolerar, primeiro porque as pessoas consomem mais do que o que devem, depois porque é preciso baixar os salários para o "custo" da mão-de-obra ser "competitivo". Atacar essa "riqueza" inexistente para abrir caminho à absoluta necessidade da pobreza, é um instrumento político, e é uma ideia sobre Portugal e os portugueses.
Por isso, esperem por mais, porque se "o país empobreceu menos do que parece", é porque ele ainda não empobreceu tudo o que podia e devia. E a receita que vem aí é óbvia, é tornar permanente os cortes de salários e pensões, para que o tempo actue todos os dias tornando as pessoas e as famílias insolventes, endividadas perante credores muito mais hostis, incapazes de gerir a sua situação e a sua vida, e os que não podem emigrar ficarem por aí aos caídos ou à porta de qualquer banco alimentar. Sem estes portugueses poderem viver aquilo a que Bento chama com desprezo "vida de ricos" ou aceder a ela, sem esses portugueses restaurarem uma escada social que permita a pobreza não se tornar num gueto, e haver uma classe média que puxe para cima, não há saída para Portugal.


José Pacheco Pereira, in Público de hoje

O PAÍS QUE VIVIA "VIDA DE RICO"- 1

Falando num debate corporativo, Vítor Bento, economista, conselheiro de Estado, disse, no mesmo dia em que novos dados sobre a gravidade do empobrecimento dos portugueses vieram a público, que "o país empobreceu menos do que parece. O país já era pobre, vivia era com vida de rico" (…). "Criávamos a aparência de ser mais ricos".
Deixo de barato a questão do sujeito da frase, esse perverso "nós", que nos iguala a todos diante do professor com a palmatória na mão, mas volto-me para o que, nesta tese, é revelador dos discursos situacionistas dos nossos dias. Para além do desprezo e da nonchalance de falar assim do "empobrecimento" dos outros, e que tem entranhada uma condenação moralista dos maus hábitos dos portugueses, estes homens virtuosos como Vítor Bento dizem-nos coisas reveladoras. Uma é que, no actual empobrecimento, há duas razões: uma conjuntural – "teve de se ajustar a despesa para o rendimento que existe e, no processo, o rendimento caiu" –, que foi uma maçada ter acontecido; e a outra estrutural – "o resto é empobrecimento aparente, porque a riqueza também era aparente", ou seja, outra maneira de dizer que "vivíamos acima das nossas posses", que é um programa económico, social, político e… moral.
Num momento em que o conjunto de explicações simplistas e reducionistas à volta do "ajustamento" mostra os primeiros sinais de estar a perder força na sua circulação no espaço público, ele torna-se ao mesmo tempo mais defensivo e mais agressivo. Eu não menosprezo o seu sucesso mediático e a sua interiorização nas pessoas comuns, que foi e é maior do que os seus contraditores desejariam, muitas vezes como culpa, mas hoje pode-se ver como elas conduziram a um impasse quer no pensamento quer na acção. Ao passarem do imediato, da resposta quase pavloviana à bancarrota de Sócrates, para o mais longo prazo do pós-troika, elas revelaram enormes fragilidades a todos os níveis, do económico ao político.
Voltemos às teses de Vítor Bento. Elas começam por nos falar do passado e percebe-se que não é o passado imediato da actual crise. Se fossem apenas os desvarios de Sócrates, dificilmente se encontraria justificação para ir mais longe do que corrigi-los. Não, eles precisam de algo mais de fundo, para poderem fazer a revolução dos maus costumes portugueses. A coisa já vem de trás, mas desde quando? Desde quando é que os portugueses foram "ricos"? Quantos portugueses fizeram, como ele diz, "vida de rico"? Quando é que se viveu uma "riqueza que era aparente"? Em 2005, quando Sócrates começou a cortar o défice, com um aplauso hoje esquecido? Em 2004, no rápido reino de Santana Lopes quando anunciou ao Frankfurter Allgemeine que vinha aí a "retoma", o "fim da crise", a "economia a recuperar", "todos os sinais são bons" e "nova baixa de impostos"? Em 2002, quando estávamos de "tanga" e ou era ou estradas ou criancinhas? Nos anos de Guterres, onde se distribuiu o bodo (como aliás com Sócrates) aos mesmos empresários e banqueiros que louvaram esses governos com a mesma intensidade com que louvam o actual? No tempo de Cavaco Silva e dos milhões que chegavam todos os dias? Ou desde o 25 de Abril, em que se perdeu o respeito pelo ouro das caves do Banco de Portugal? Estamos a falar de Portugal?
Mas de que "riqueza" é que estamos a falar? Não é a dos ricos da Forbes. Eu sei o que é a "vida de rico" a que ele se refere, quer àquela que serve para ilustrar o moralismo do discurso, quer àquela que verdadeiramente o preocupa. Para agitar a bandeira moral, servem algumas patetices avulsas: as férias a Acapulco, os divãs da Conforama, os plasmas para ver jogos de futebol, os jipes do FEOIGA (atenção que aqui já se está a entrar por outro caminho perigoso, não vá a CAP protestar), comprar um molho numa loja gourmetpara épater les bourgeois do emprego ou a bourgeoise, gastar dinheiro insensato nos centros comerciais, alguma capacidade de consumo lúdico a que pela primeira vez muitos portugueses tiveram acesso e que mostraram a marca do novo-riquismo e da silly season. Ele não se refere a isso, mas a "vida de rico" incluí também comprar o Expresso aos sábados, ter televisão por cabo, ser sócio do Benfica e ir aos jogos, ir ao restaurante de vez em quando, comer marisco, comprar livros do José Rodrigues dos Santos, ter expectativas europeias, de ser como os franceses que se vêem nos filmes, ter um carro, mandar os filhos à universidade e ser parte da muito escassa opinião pública.

(continua)

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1982, morre Carl Orff, compositor alemão

sexta-feira, 28 de março de 2014

E o PM, vai meter a cabeça na areia? Se calhar!...

Seis jornais portugueses, sem dúvida os mais lidos, noticiavam ontem mais cortes nas pensões e nas reformas para 2015 e que futuramente os seus valores passariam a estar indexados à evolução demográfica, ao desemprego e ao PIB. Ou seja, os reformados que, atendendo à altura da sua vida, já muito pouco ou nada contribuem para o aumento demográfico (por motivos óbvios já não fazem filhos), para a diminuição do desemprego e para o crescimento da Economia, passavam, a estar dependentes duma espécie de roleta russa, como disse um deputado do PS ao comentar esta triste notícia.
Entretanto o primeiro-ministro que estava em Moçambique a chorar na campa do Coluna, foi solicitado a pronunciar-se pelos jornalistas que o acompanhavam a comentar a notícia. Visivelmente incomodado, Passos Coelho desmentiu-a, dizendo que não passava de especulação. Imediatamente, um ou uma jornalista confrontou-o, dizendo-lhe qua a notícia tinha origem numa fonte oficial do Ministério das Finanças. Então, Passos Coelho, aparentando alguma irritação, diz que no nosso país se discutem estes assuntos delicados com pouco cuidado e que é preciso que as pessoas tenham mais ponderação a tratar deles, incluindo os membros do Governo. Mas, quanto ao governo, o embaraço foi tanto que o ministro Marques Guedes veio falar em interpretação exagerada e abusiva da Comunicação Social. Veio agora a saber-se que a fonte foi mesmo o Ministério das Finanças representado por um secretário de Estado.
E agora, que vai fazer o primeiro-ministro? Meter a cabeça na areia e continuar a dizer que é mentira, ou fazer rolar cabeças no Ministério da sua amiga miss Swaps? Se calhar vai mesmo meter a cabeça na areia.

        

O ÚLTIMO A SABER?

O presidente da República, Cavaco Silva, disse, esta sexta-feira, não ter informação "que aponte para a redução do rendimento disponível" de funcionários públicos e pensionistas, mas defendeu que, caso avancem, devem incidir nos titulares de "elevados rendimentos".
 
foto SARA MATOS/ GLOBAL IMAGENS
Cavaco diz nada saber sobre novos cortes nas pensões
Inauguração do Centro de Ciência do Café, junto à Fábrica da Delta Cafés
 
"Não tenho nenhuma informação que aponte para a redução do rendimento disponível daqueles que foram duramente atingidos nos últimos anos, funcionários públicos e pensionistas", afirmou Cavaco Silva.


JN online

Cavaco e a sua Maria foram ao café do Nabeiro e ficaram a saber que o o "seu" governo se prepara para mais uma machadada no rendimento dos funcionários públicos e pensionistas. Lá querem voltar ao seu (dele) bolso sem aviso prévio, coisa que não pode tolerar.

DISTRAÍDOS

Apostador do Porto deixou caducar prémio de 13 milhões do Joker

Foi o maior prémio de sempre que ficou por reclamar.

Público online

A distracção é própria dos sábios, mas este sujeito deveria ser identificado e internado num hospício.

HAJA DECÊNCIA

Alguém acredita que um membro do governo (ainda para mais traquejado) convoque a comunicação social para lhe transmitir uma informação, não assumida, sem que os seus pares ou superiores tenham conhecimento, e que agora vêm chorar lágrimas de crocodilo, afirmando a pés juntos que o assunto nunca esteve em cima da mesa (estaria na gaveta, escancarada, do coordenador paulinho das feiras?). Lança-se o foguete apenas para experimentar a qualidade da pólvora? O traquejado secretário de Estado poderá ter sido lançado como lebre e, ou se demite, por falta de respaldo e explica a coisa, ou é demitido, por abuso de confiança; não há 3.ª via.
Haja decência mínima.

MEMÓRIAS


Neste dia, em 2004, morre Peter Ustinov, actor britânico

terça-feira, 25 de março de 2014

Recuperação; qual recuperação? O que há ..., é mais pobres!

Hoje fiou a saber-se que quase um quarto dos portugueses é pobre e que são sobretudo as crianças e os idosos os que mais sofrem com a austeridade imposta sem dó nem piedade pelo Governo. E mais, dado que também é grande o número de portugueses que vivem próximo do seu limiar, é previsível que a pobreza aumente. Uma vergonha!
Mas, inversamente, aumentou o fosso entre os rendimentos dos mais ricos e os rendimentos dos mais pobres. E os estudiosos destas matérias concluem que para isso contribuíram, e muito, às reduções das prestações sociais, nomeadamente no Rendimento Social de Inserção e no Complemento Solidário para Idosos.
Perante este vergonhoso e negro quadro, o primeiro-ministro e outros membros do Governo, como o Vice Paulo Portas (o campeão da pantomina política) e Miss Swaps, os líderes das bancadas parlamentares dos dois partidos que o apoiam – PPD e CDS – e um tal Marco António Costa que aparece todos os dias a criticar o PS, não poderão dizer mais que Portugal está a recuperar e que há indicadores disso. O que há, são cada vez mais notícias de que aumenta o número de pessoas e famílias a recorrer às cantinas sociais para matar a fome. Infelizmente já sabemos que esta gente é capaz de continuar tal ladainha, porque não tem vergonha.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Acorda Povo!

Num país governado por um executivo que afronta o cidadão comum com medidas de austeridade que o empobrecem a ele, cidadão, e ao país em geral; onde muitos jovens licenciados, mestres e doutores têm que emigrar porque o desgraçado Governo resolveu tirar dinheiro às universidades e aos institutos de investigação científica; onde o Serviço Nacional de Saúde perde qualidade a cada dia que passa, porque as verbas disponíveis são cada vez menores; é criado, e muito bem, um Banco de Fomento pertença do Estado para fomentar (passe a redundância) o investimento das empresas tendo em vista o crescimento económico do país. Contudo, e muito mal, são atribuídos ordenados mensais aos administradores desse banco que ultrapassam os 13.000 euros, no caso do presidente, e os 8.000 e 11.000 euros, no caso dos outros administradores. É obra!  E pior do que isso, é uma afronta a todos aqueles a quem são cortados ordenados, pensões e reformas cujos valores são dez, quinze e até vinte vezes menos! É óbvio que os cargos de administração dum banco destes têm que ser bem remunerados, mas se tal instituição é do Estado, porque razão é que os ordenados mensais hão de ser superiores aos dos Directores-gerais, por exemplo? Ah, e não esqueçamos as mordomias – no mínimo, carro, ajudas de custo.

Acccordaaa Pooovoo!!  

sexta-feira, 21 de março de 2014

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1685, nasce Johann Sebastian Bach, compositor (mestre do barroco) alemão

quinta-feira, 20 de março de 2014

E agora; Como lhes vão chamar os fanáticos do neoliberalismo?

A grande notícia de hoje dá-nos conta que 74 personalidades estrangeiras de várias correntes de pensamento, a maioria das quais economistas – professores universitários, gestores de várias instituições internacionais, editores de revistas científicas ligadas à economia e finanças –, assinaram e publicaram um documento intitulado “Reestruturar a dívida insustentável e promover o crescimento, recusando a austeridade”, cujo conteúdo é muito parecido com o documento subscrito pelas 74 personalidades portuguesas sobre a inevitabilidade de reestruturar a dívida de modo a acabar com a austeridade que está a empobrecer o país. Recomendam as personalidades estrangeiras a rejeição da ideia da “recessão curativa” e da “austeridade expansionista”, não só para Portugal, mas também para a Europa. Relativamente a Portugal afirmam que a austeridade agravou a recessão, aumentou a dívida pública e impôs sofrimento.
Ora, este documento é visto como um apoio implícito ao manifesto das 74 personalidades do país, quer do ponto de vista do conteúdo, quer do timing em que foi feito.
E agora; o que é que lhes vão chamar os fanáticos do neoliberalismo, nomeadamente os editorais dos “pasquins” de economia, que se fartaram de insultar as personalidades portuguesas? Ah, e Cavaco Silva, vai exonera-los?



BOLAS À TRAVE

Benfica e FCPorto, com o mesmo resultado (2-2), passam aos quartos de final da Taça Europa. Melhores o resultado - porque fora - e a exibição do Porto, do que os do Benfica, que se apresentou displicente e não ganhou para o susto.
Importante é que ambos seguem em frente e espero que não se encontrem na próxima jornada.

PRIMAVERA







Pelo calendário, começa hoje a Primavera

quarta-feira, 19 de março de 2014

CAVACO, O IRRELEVANTE E INOPORTUNO

Cavaco Silva, presidente desta República, veio, em hora nobre, comunicar ao País o que todo o País já sabia: que as eleições para o Parlamento Europeu vão ter lugar em 25 de Maio próximo. Depois de uma narrativa em que meteu os EUA (e por que não a Crimeia?), veio apelar ao voto naquelas eleições, porque está em causa  não sei bem o quê. (O primeiro-ministro  não concertou já tudo com a dona da UE?). Que dê a conhecer o que todos já sabiam, é irrelevante e redundante. Apelar ao voto a mais de dois meses do acto, é de uma inoportunidade flagrante. Até lá perdeu-se a razão, não muito bem fundamentada, do seu apelo.
Está na hora de despedir mais um consultor ou assessor, por incompetência.

MEMÓRIAS



Neste dia, em 2008, morre Paul Scofield, actor britânico

terça-feira, 18 de março de 2014

Tanta expectativa para quê?

Tanta expectativa para quê?
Quando se soube da carta que o primeiro-ministro Passos Coelho enviou a António José Seguro, convidando-o para uma reunião com o objectivo de estabelecer um consenso sobre o pós-troika, na véspera de entregar o “Documento de Estratégia Orçamental – DEO” em Bruxelas, gerou-se uma expectativa completamente despropositada. Primeiro questionava-se se Seguro ia ou não ia; depois, questionava-se se, indo, aceitaria qualquer tipo de acordo. Ora, se relativamente ao ir ou não ainda poderia haver divisão de opiniões e, por isso, alguma expectativa, poucas dúvidas havia quanto à possibilidade de se gerar algum consenso. Esta palavra referida vezes sem conta pelos membros do Governo, por dirigentes dos partidos da maioria e até pelo Presidente da República, significa acordo, mas para eles significa concordo! É isso que eles pedem ao PS e sobretudo ao seu líder António José Seguro. Portanto, este só poderia dizer não. Caso contrário trairia o partido – não só os seus militantes, mas também os seus simpatizantes e votantes – e muitos portugueses que não aceitam esta maldita austeridade e querem uma política alternativa que equilibre, sim, as contas públicas, mas que acabe com o empobrecimento do país e dos portugueses em geral.
Seguro não podia fazer outra coisa, e fê-lo bem.  















LUTO

Medeiros Ferreira foi vítima de um cancro



Morreu José Medeiros Ferreira
Paz à sua alma

MEMÓRIAS


Neste dia, em 2008, morre Anthony Minghella, realizador inglês

segunda-feira, 17 de março de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Aqui vai mais uma estória do Amigo Zé Gil


AS POMBAS
                                                        *Gil Monteiro

Da fauna e flora do habitat, onde viemos ao mundo, fazemos escolhas, sem critérios definidos, de seres mais simpáticos e importantes, no interagir. Assim, as cerejeiras são veneradas e as romãzeiras um espetáculo! Se as variedades de cerejas dão prazer, mesmo antes de serem comidas, as romãs são fruta preguiçosa – baga comida, baga a comer, sem acabar... Frutos tão lindos e coloridos que nem sempre são sacrificados para comer. Ainda que percam as cores, ornamentam a sala de jantar perto dum ano! Se tivesse nascido junto a um mar de golfinhos, tinha que ter um como amigo-amigo; assim, em aldeia transmontana, tive direito a um cão rafeiro. Foi o meu grande fiel companheiro nas correrias de montes e vales, antes de ir aprender o á-é-i-ó-u, com a Sr.ª D. Albertina. Mas, deixei de ficar aflito com a inundação do Dilúvio, quando a Ana Ventura leu a Bíblia, para os ouvintes da eira da Fonte:
 – A pombinha regressou à Arca com um raminho de oliveira!...
A pomba é o animal em que Deus ou Noé confiaram e confiam. É o símbolo da paz e harmonia. E as pombas brancas?! Representam a pureza do que há mais puro. Mesmo na cartola do ilusionista, provocam magia. As que vi, no trono da Virgem Peregrina de Fátima, pelas terras transmontanas, formavam um grupo de lindas aves brancas aos pés da imagem abençoada.
O namoro entre as espécies animais é cativante, mesmo quando parece brusco e dorido, e ia dizer: até as plantas o praticam! Mas, assistir ao namoro dos pombos é o máximo! Ir passear ao jardim de S. Lázaro (Porto) e assistir às curtas-metragens de filmes ao vivo, sobre o acasalamento dos pombos, é giro... O bater de asas, de penas luzidias e matizadas, as correrias e os pequenos voos, afastar os concorrentes da “noiva” e... Mas, as meiguices e os beijinhos são de espantar. Mesmo as bicadinhas na cabeça existem bem requeridas. Irem trocar ADN num ramo dum plátano, com juras de acasalamento eterno, é o fim lógico de tanto amor mostrado e consentido.
De regresso ao Porto, após o domingo passado no Douro, a Maria Fernanda topou uma pomba combalida na entrada do prédio. Teve direito a primeiros socorros urgentes. Limpa, e resguardada em pano quente, foi mostrada à veterinária vizinha, que informou:
 – Está muito debilitada, não tem fraturas e, como é jovem, pode ser que escape!
A marquise rápido virou a marquesa hospitalar! E, quando a pomba comeu e bebeu, a enfermeira sorriu gratificada, e contente, foi dizendo:
 – Pelo menos impedi as gaivotas de a comerem!
As gaivotas da minha rua são endiabradas. Em voo de esquadrilha caçam as inocentes pombas. Lançam berros horripilantes, quando o mar está furioso no paredão do farol do Passeio Alegre (Foz) e, são danadas para romperem os sacos do lixo, junto aos contendores. Não consigo compreender como podem ser tão inspiradoras de poemas e canções. Quanto mais leio ou ouço o sublime poema Gaivota de Alexandre O’Neill, mais gosto da letra e menos das gaivotas, apesar de já as ter visto voar na cidade da Régua!
A nossa pombinha de estimação, tratada com todo carinho, morreu. Teve direito a saco individual, e metido no contentor camarário, para não servir de alimento aos gatos vadios.



Porto, 11 de março de 2014




                                                              *José Gil Correia Monteiro   

                                                                                jose.gcmonteiro@gmail.com

MEMÓRIAS


Neste dia, em 1938, nasce Rudolf Nureyev, bailarino soviético

domingo, 16 de março de 2014

VOLTA SÓCRATES, ESTÁS PERDOADO

Da extensa entrevista de Santana Lopes ao Público:

(...) "Eu não sou daqueles que fustiga(m) o eng. Sócrates a dizer que ele é o culpado por tudo o que se passa em Portugal. Acho essa ideia absolutamente caricata e ridícula. A principal culpa pelo que se passa em Portugal são factores externos. O eng. Sócrates desorientou-se na parte final do ,mandato, tomou muitas medias erradas, mas durante vários anos desenvolveu políticas correctas e tomou muito boas medidas. O Governo agora até adoptou o Simplex 2. Na área da investigação científica fez muitas coisas bem feitas e teve muita visão nessa matéria das novas tecnologias.
(...) "Foi um primeiro-ministro com visão em várias áreas. Ele era vário deuses ao mesmo tempo, depois caiu em desgraça e passou a ser o culpado de tudo. Isso é caricato. Ele foi um primeiro-ministro com várias qualidades, um chefe de governo com autoridade e capaz de impor a disciplina no seio do seu Governo". (...) 

Haverá total sinceridade no afirmado ou Santana Lopes está a posicionar-se para uma eventual colaboração com o PS se este ganhar as próximas eleições?

LIDO

«É difícil imaginar tanta raiva, tanta vontade de calar, tanto desejo de pura exterminação do outro, como aquele que se abateu sobre o manifesto dos 70 signatários a pretexto da reestruturação da dívida, uma posição expressa em termos prudentes e moderados por um vasto grupo de pessoas qualificadas, quase todas também prudentes e moderadas.
Nem isso poupou os seus signatários a uma série de insultos, acusações ad hominem, insinuações e o que mais adiante se verá. Sobre eles caiu a excomunhão que retira os seus nomes do círculo de ferro da confiança do poder.
Pelo contrário, alguns dos que os atacam ganharam o direito de lá entrar, e os que já estão lá dentro viram reforçada a confiança que lhes permite uma vida almofadada dos custos da crise. São os “responsáveis”, discordam às vezes no secundário, mas portam-se bem. Os 70, pelo contrário, portaram-se muito mal. Num mundo cada vez mais dos “nossos” e dos “deles”, bastante parecido com o paradigma marxista da luta de classes, os signatários cometeram vários pecados mortais, e ficaram do “lado errado”. É com eles que estou e é com eles que quero estar, não tendo assinado o manifesto apenas por incúria minha em responder a tempo ao convite que me foi feito. Mas é como se o tivesse assinado, por isso incluam-me na lista dos insultos, que já estou habituado.
Veio ao de cima tudo, a começar pelo primeiro-ministro, que os tratou de essa “gente”, ou porque tinham uma “agenda política” ou porque eram “cépticos” por natureza, inúteis para o glorioso esforço nacional de empobrecer como programa de vida. O manifesto era “antipatriótico”, com um timinginaceitável, a dois meses da “libertação” de 1640, feito pelos “culpados” do esbanjamento, pelos “velhos” a defenderem os seus privilégios, pelos defensores do statu quo dos interesses instalados, pelos “jarretas”, pela “geração errada”. O seu objectivo escondido, ao assinarem o manifesto, é outro, é “manter o modelo de negócio que temos, o Estado que temos, e atirar a dívida para trás das costas”, escreve António Costa em editorial doDiário Económico. José Gomes Ferreira é mais claro: “Estará a vossa iniciativa relacionada com alguns cortes nas vossas generosas pensões?”
Os argumentos ad hominem abundam. Alguns dos signatários que são de direita, um bom exemplo é Adriano Moreira, passaram a ter que ser de esquerda, o que é um modo muito interessante de lhes recusar a identidade, esvaziá-los do que foram toda a vida, para substituir essa identidade por aquilo que é, na sua pena, um anátema: “Já cá faltava um manifesto, de espectro partidário amplo, mas com uma ideologia única, de Esquerda”, diz, de novo, um editorial de António Costa no Diário Económico.
Cada vez mais se generaliza em Portugal a idade como insulto, diminuição, culpa, e todos são “velhos” por associação. Falta-lhes a desenvoltura dos “jovens”. José Gomes Ferreira pergunta: “Que tal deixarem para a geração seguinte a tarefa de resolver os problemas gravíssimos que vocês lhes deixaram? É que as vossas propostas já não resolvem, só agravam os problemas. Que tal darem lugar aos mais novos?” De facto, troquem Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Vítor Martins, Sevinate Pinto, o presidente da CIP, Capucho, Sampaio da Nóvoa, Braga da Cruz, Gomes Canotilho, Manuel Porto, Teresa Beleza, e tantos outros, pelos “mais novos”, Relvas, Arnault, Marco António, Passos, pelos yuppies das consultoras financeiras que antes vendiam os swaps, e agora iam negociá-los para o Governo, pelos jovens lobos dos escritórios de advogados que fazem todos os negócios do Estado e vice-versa, sob a batuta de alguns velhos “que estão lá sempre”, pelo jovem que era para ser propagandista do Impulso Jovem, pelos gestores desempoeirados que usam o Twitter todas as horas e que circulam de cargos políticos para a Caixa, para a RTP, para Angola, dos ministérios para as empresas do PSI-20, ou aqueles que os chineses empregam para manter umlink, útil, mesmo que caro. Manuela Ferreira Leite é “velha”, Catroga é novo. “Que tal darem lugar aos mais novos?”
Nos comentários dos blogues pró-governamentais, ou seja, no fim da cadeia alimentar, espuma-se de ódio junto com erros de ortografia, alguns dos quais eu corrijo para se perceber, outros ficaram: “Este tipo de "notáveis" (…) sinceramente mentem nojo. Concordo em pleno com o nosso primeiro-ministro com o facto de hoje em dia já nem sequer consegue responder a este tipo de escumalha que hoje em dia aparece na comunicação social, parlamento em fim....por todo lado”; “foi uma ideia idiota que passou pela cabeça de alguns”; “infelizmente estamos já habituados a que figuras da direita se mudem para a ideologia da esquerda irresponsável vá-se lá saber a troco de quê, ou talvez fácilmente se saiba...(…) São gente golpista, que facilmente vende a alma e a dignidade.” E estes são alguns comentários reproduzíveis, a maioria é puro insulto soez.
A imprensa económica teve nesta fronda contra o manifesto um papel central, enfileirou editoriais furiosos e notícias com títulos críticos sobre como o manifesto de nada valia e como felizmente ninguém ouvia estes “irresponsáveis”, repetindo os argumentos do antipatriotismo, do “timingerrado” que sairia “caro” ao país, caso alguém “ligasse” ao manifesto, que deitaria abaixo o adquirido pelos “sacrifícios” dos portugueses, como disse o primeiro-ministro e eles glosam. José Gomes Ferreira vai mais longe – se as coisas correrem mal, a culpa é vossa: “Mesmo sendo uma proposta feita por cidadãos livres e independentes, pela sua projecção social poderá ter impacto externo e levar a uma degradação da percepção dos investidores, pela qual vos devemos responsabilizar desde já. Se isso acontecer, digo-vos que como cidadão contribuinte vou exigir publicamente que reparem o dano causado ao Estado.” A mensagem essencial é “saiam da frente”, a mesma que está na capa e no título de um livro de Camilo Lourenço, que achava bem que houvesse um novo resgate porque isso “disciplinaria” os preguiçosos dos portugueses.
O que é que tocou esta corda hipersensível de governantes, jornalistas da imprensa económica, homens da banca, alguns empresários e os seus agentes na ideologia “orgânica” do “ajustamento”? Primeiro, voltar ao bom senso e deixar os revolucionarismos de “mudar Portugal”, mostrar que há uma política alternativa, que pode ser difícil, mas é muito mais realista do que a política actual, ou seja, que há alternativas. E, pelo caminho, revelar a grande hipocrisia em que assenta a política governamental, e em nome da qual os portugueses têm vindo a ter a vida estragada: é que para se pagar a dívida, tem que haver folga para o crescimento económico e qualquer outra solução é pura e simplesmente irrealista. A questão é que daqui a uns anos, quando tudo isto desabar, nenhum destes corifeus políticos dos “mercados” vai estar por cá, mas a sua herança estará.
Segundo, que essa alternativa implica uma nova forma de estar na Europa, ou seja, responsabiliza-nos pela acção e não pela submissão. É como num velho ditado gaullista sobre os comunistas: “Só fazem aquilo que lhes permitimos que façam”. E como nós permitimos tudo, fazem tudo. Na Europa é-se mais realista, incluindo nos “mercados”, do que se pensa e seja porque nós actuamos, ou seja a reboque do que pode acontecer na França, Itália ou Espanha, a política vai mudar. Só que, quando mais tarde Portugal o reclamar como membro de parte inteira da União, mais estragado estará o país, maior será o preço.
Terceiro, o manifesto revela que o único consenso transversal existente hoje na vida pública portuguesa, é exactamente aquele que põe em causa a actual política do Governo e dos seus apoiantes. O outro “consenso” assenta num rotativismo entre PS e PSD, obrigados a um pacto que impõe uma política “única” e a aceitação e institucionalização de um colaboracionismo face a uma Europa que pode aceitar “manter-nos”, mas com rédea curta e disciplinados. É apenas a blindagem da actual política em eleições, para que, quer se vote no PSD ou no PS, tudo continue na mesma. Esse seria um enorme risco para a democracia.
Este surto de raiva, com laivos claramente censórios, não me surpreende. Estava à espera dele, na sua magnitude e violência. E não vai acabar, vai-se tornar endémico. Ele é o efeito a curto prazo de uma política que se assume para vinte ou trinta anos de empobrecimento, centrados num único eixo: pagar aos credores, obedecer aos mercados. Essa política não pode ser conduzida em democracia, só pode existir com base num regime autoritário.»


José Pacheco Pereira, in Público de ontem

EFEMÉRIDES

Neste dia, em 1974, ocorre o gorado Levantamento (ou Revolta) das Caldas, tentativa de depor o regime do Estado Novo.

sábado, 15 de março de 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

Bem feito para Cavaco!

O Presidente da República vetou um decreto-lei do Governo que pretende aumentar de 2,5% para 3,5% os descontos para a ADSE – subsistema de saúde da função pública. O Governo, afrontando-o e desafiando-o, manda o projecto para a Assembleia da República sem lhe mudar uma vírgula, para que o diploma em causa passe de decreto-lei do Governo para lei da Assembleia, podendo ultrapassar a questão do veto presidencial se o mesmo for aprovado por maioria absoluta. Ah, mas não só. Marques Guedes, ministro dos Assuntos Parlamentares, com a maior desfaçatez, veio dizer que a atitude do Governo é inevitável para cumprir ordens da Troika na famosa 11ª avaliação. Quer dizer: O que é preciso é fazer o que a Troika manda, mesmo que para isso se desafie e enfrente o Presidente da República.
Bem feito para Cavaco Silva. Não merece outra coisa, vindo deste desgraçado Governo que ele protege desde o primeiro dia!  


Um primeiro-ministro arrogante, prepotente e até ..., mal criado

Já todos sabíamos que o primeiro-ministro que infelizmente nos governa, por obra e graça de Cavaco Silva, é prepotente e mal criado. Mas, o episódio do recente, mas já famoso, manifesto dos setenta e quatro, sobre a reestruturação da dívida pública, veio confirmar. Pedro Passos Coelho, mostrando o maior desrespeito para muitas pessoas a quem ele não chega sequer aos calcanhares, tratou-os quase como se fossem gente menor, a quem ele sarcasticamente chamou de “gente tão bem informada” que não está a defender os interesses do país. E, sobretudo, pelo tom zangado com que falou, levou a que muita da sua gente, mais propriamente os capachos que gravitam à sua volta, se pusessem aos gritos chamando aos subscritores do documento coisas como irresponsáveis e quase traidores da Pátria. Para haver alguma semelhança com os maus tempos do Estado Novo, só faltou mandar perseguir os subscritores do satânico documento. Já falta pouco, não?
Ao que chegámos, num Estado de Direito democrático!  



PASSOS E AS (MÁS) UNIVERSIDADES

O primeiro-ministro garantiu que há universidades portuguesas que mantêm «cursos que não fazem sentido apenas porque não sabem o que hão de fazer aos professores que lá têm e apesar dos pouquíssimos alunos que se inscrevem naqueles cursos».

Dos jornais

Estará a referir-se à Universidade que frequentou ou à do seu companheiro dr. Relvas? Seria bom que esclarecesse, para que não fique tudo no mesmo saco.

PARA DESCONTRAIR...


..a pantera cor-de-rosa. Alguém se recorda? 

MEMÓRIAS


Neste dia, em 1804, nasce Johann Strauss, compositor austríaco

quinta-feira, 13 de março de 2014

BOLAS À TRAVE

O futebol português teve hoje uma jornada positiva na Taça Europa, já que o FCPorto ganhou em casa ao Nápoles, ainda que com um resultado não muito confortável (1-0), e o Benfica foi a Londres aviar o Tottenham por 3-1.

BRAÇO DE FERRO?

O Governo aprovou e enviou hoje para o parlamento uma proposta de lei em que mantém inalterado o aumento dos descontos para a ADSE de 2,5% para 3,5% e que tinha sido vetada pelo Presidente da República.
Esta decisão, aprovada em Conselho de Ministros, correu horas depois de o Presidente da República, Cavaco Silva, ter informado que vetou o diploma que altera o valor dos descontos a efetuar pelos funcionários públicos, polícias e militares, para os subsistemas de proteção social no âmbito dos cuidados de saúde, concretamente da Direção-Geral de Proteção Social aos Trabalhadores em Funções Públicas (ADSE), dos Serviços de Assistência na Doença (SAD) e da Assistência na Doença aos Militares das Forças Armadas (ADM).
"As alterações constantes da presente proposta de lei visam que os subsistemas de proteção social no âmbito dos cuidados de saúde sejam autofinanciados, isto é, assentes nas contribuições dos seus beneficiários", lê-se na proposta legislativa do Governo enviada hoje ao parlamento.


Lusa

Ao que parece, Passos Coelho e Cavaco Silva estão de candeias às avessas. Ainda vamos ouvir Passos a proclamar: "deixem-nos trabalhar".
Não me parece que Passos vá ganhar, até porque a "sua"  maioria no Parlamento não é suficiente para que Cavaco seja obrigado a promulgar a Lei.

UMAS NO CRAVO OUTRAS NA FERRADURA

O Presidente da República informou esta quinta-feira que vetou o diploma que altera o valor dos descontos dos funcionários públicos, militares e forças de segurança para os respetivos subsistemas de saúde, ADSE, ADM e SAD.

A devolução do diploma ao Governo sem promulgação, que foi feita a 11 de março, é justificada em nota publicada esta quinta-feira na página da Presidência da República com o facto de terem existido "sérias dúvidas relativamente à necessidade de "aumentar as contribuições dos 2,5% para 3,5%, para conseguir o objetivo pretendido".
"Numa altura em que se exigem pesados sacrifícios aos trabalhadores do Estado e pensionistas, com reduções nos salários e nas pensões, tem de ser demonstrada a adequação estrita deste aumento ao objetivo de autossustentabilidade dos respetivos sistemas de saúde", pode ler-se.
"Sendo indiscutível que as contribuições para a ADSE, ADM e SAD visam financiar os encargos com esses sistemas de saúde, não parece adequado que o aumento das mesmas vise sobretudo consolidar as contas públicas", aponta Cavaco Silva, na nota da Presidência.
Expresso online

Há dias, Cavaco Silva promulgou a CES para reformas e pensões a partir de 1000 euros, hoje não aprova o aumento dos descontos para os subsistemas de Saúde. Será porque a tropa e as forças de Segurança estavam incluídas e o homem, aí, encolheu-se?
Salvo melhor opinião, há aqui incongruências não muito bem explicadas.

quarta-feira, 12 de março de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

Empobrece, Zé!

Este desgraçado governo neoliberal que nos governa, continua a sua cruzada contra os trabalhadores, de um modo geral, da classe média, e das pessoas pertencentes aos estratos sociais mais desfavorecidos, melhor dizendo, das pessoas que de acordo com os critérios universais são consideradas pobres.
Pois bem, nestes últimos dias, ficou a saber-se que o Governo Passos Coelho/Portas quer alterar a legislação sobre despedimentos, com o sentido de reduzir as indemnizações por despedimentos sem justa causa. Inacreditável! A surpresa foi tanta que até os representantes das entidades patronais se mostraram admirados e fizeram saber que tal medida lhes era praticamente indiferente e nada, mas mesmo nada prioritária. O que consideram prioritário, é que se implementem medidas para animar a economia e fazê-la crescer, de facto. Mas, enfim, para o Governo o que importa é “pancada” (termo utilizado por Passos Coelho). Ah, e mais austeridade que, não sejamos anjinhos, não é igual para todos. Ainda há dias ficamos a saber que enquanto o comum dos portugueses empobrece, há outros que enriquecem…, milhões! Não é, Belmiro? Não é Américo? Não é Alexandre?