Por Antunes Ferreira
O folclore político
português tem cenas de rir à gargalhada. Teria, aliás, se não fossem tão
tristes e más. Os protagonistas, ou seja os chefes das bandas, são sempre os
mesmos; no caso de eleições, o vira minhoto é quem manda:” ora agora viras tu, ora agora viro eu…” ou seja a ida às urnas é
assim a modos do que diz o povo: “vira o
disco e toca o mesmo…” E as promessas que os candidatos fazem (se forem
cumpridas?) são iguais às voltas do vira “e
torna a virar, as voltas do vira são boas de dar”.
Passado o Natal, com o
tradicional bacalhau cozido com todos, com o peru recheado e assado no forno,
com as filhós, o bolo-rei e as prendas possíveis, com a árvore (Made in China), com o presépio, aliás do
mesmo local de produção, o pessoal vira-se para as presidenciais, porque as
legislativas já eram, porque o Governo de António Costa já mexe, porque sim.
Para as quais, candidatos são o que não falta; qualquer deles tendo
obrigatoriamente o destino traçado: ser melhor do que Cavaco Silva – o que é facílimo.
O próprio Ano Novo
que, de fralda descartável e chupeta, se prepara para empurrar para a terra do nunca mais um 2015 caquéctico,
em cadeirinha de rodas e garrafa de oxigénio, não fora essa missão de cumprir
os seus 365 dias, também se canditaria à Presidência da República. Vejamos: se
já temos uma Belém candidata a Belém, por que bulas o Ano Novo não poderia
fazer parte da pole position? A
corrida não é dominada pelo apartheid, que se saiba.
Na quarta-feira,
aconteceu o inevitável: Vitorino Silva, o calceteiro do Porto, é o novo
concorrente. Excelente, mais uma, menos um, sempre cabem todos. Mas quem é este
cidadão? Vitorino Francisco da Rocha e Silva nasceu em 1971 na
terra pela qual ficou conhecido, Rans. Tornou-se célebre durante um
congresso do Partido Socialista com um discurso inusitado. Tino de
Rans já foi presidente da Junta de freguesia de Rans, participou no reality
show Big Brother VIP, o terceiro da série produzida e apresentada por
Teresa Guilherme. Do seu volumoso currículo ainda consta que tem músicas e
livros editados. Assumiu um objectivo: pôr o povo a sorrir, ou seja devolver a
alegria à plebe. Isto porque os Portugueses andam tristes.
Pudera não, depois de quatro anos de crise e de
austeridade e do conluio entre Cavaco, Passos Coelho e Portas, em que a
principal actividade foi varrer o que estava – e está – mal para baixo do
tapete, haveria sujeitos que andassem alegres?… E, pelos vistos, a procissão
ainda nem chegou ao adro. O Governo do PS, com o apoio parlamentar (?) do BE e
do PCP, tem pela frente muitos tapetes e muita porcaria.
Porém,
isso não impede de registar (e de aplaudir) a candidatura de Tino de Rans que,
no acta de apresentação das listas de apoiantes acentuou que tinha “muito respeito por quem assinou por mim neste percurso
porque o terreno foi duro mas tenho a certeza que é no terreno mais duro que
nasce o melhor néctar” e ainda que "quando nas sondagens falam de dois ou
três candidatos e chamam `outros´ aos outros fico triste porque eu não me chamo
`outro´. Tenho nome, tenho dignidade", disse, sublinhando que até ao
momento "ninguém teve um voto".
Aí, seu Tino, a sua candidatura é de homem, tal como as restantes, só com
uma excepção: a Dr.ª Maria de Belém.