sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O Gaspar e a Troika



Numa entrevista recente, Victor Gaspar mostrou-se indignado e ofendido com o facto de muitas vezes ser apontado como o quarto elemento da Troika. Afinal de contas, e como diz o povo, não há fumo sem fogo. Gaspar foi nomeado director do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a área dos assuntos orçamentais e inicia funções em Julho. Gaspar vai ser o observador do FMI na implementação da reforma do Estado. E o mais curioso, ou talvez não, é que o Gaspar vai ser uma espécie de fiscal duma das actividades do Governo a cargo de Paulo Portas – a tal reforma que, anunciada várias vezes e até dada como já tendo guião, não se sabe se existe ou alguma vez existirá.

Atenção ó Portas. A vingança serve-se fria!

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais um contributo 
do Zé Gil


CARTA DE AMOR
                                                                       *Gil Monteiro

             Depois de Fernando Pessoa ter escrito: “Todas as cartas de amor são ridículas,” é preciso arrojo para escrever sobre tal assunto! Mas, como hoje é dia dos namorados, a coragem chegou.
Namorar é bom. A vida devia ser de amor pleno. Daí as cartas específicas, para esse efeito, não terem muito sentido, e estão a caminho da extinção. Mesmo, nas atividades difíceis do dia-a-dia, as cartas devem ser examinadas com bom senso, à espera de os assuntos serem tratados em concórdias. (Fácil de dizer e escrever!...). Os seres vivos da natureza e os domésticos também têm que ser respeitados. Na falência do meio ambiente, cada vez mais ameaçado, está a sobrevivência do homem no planeta terra.
Os conversados, antigamente, das aldeias namoravam aos domingos a caminho da fonte, enquanto as futuras noivas andavam de caneco à água. Quando chegava o tempo do serviço militar, poucos escreviam às namoradas, por serem analfabetos ou não terem dinheiro para os selos.
O tio Brito, que usava lenço vermelho ao pescoço, tocava concertina e deitava os foguetes, durante a procissão pelos caminhos da aldeia, nas festas de Santa Maria Madalena, contou:
 – A minha Ester bem escrevia para o quartel de Tavira mas eu, não tinha dinheiro para selos, remetia duas no mesmo envelope! Até que um dia, com muita paciência, fui tirando a tinta do selo da carta recebida e colei-o na minha... Ao saber, na resposta, que a cabra morinha tinha tido dois cabritinhos, até chorei de alegria!...
O Jorge destacado do Regimento de Infantaria de Vila Real, para a Serra do Pilar (Gaia – Porto), na primeira carta para a namorada de Paradela, e com receio que se perdesse, escreveu, por fora, do envelope:
 – Vai-te carta, vai-te carta, pelo meio dos pinheirais;
   O meu coração fica a dar muitos ais!
Andava na 2ª classe, quando escrevi a primeira carta de amor! Comecei cedo, mas do pior modo – resultado incrível!
O moço dos bois do Sr. Correia, aos 15, 16 anos, perdeu-se ou encontrou-se de amores com a Alice do Rocha, a começar a mostrar corpo de mulher, nas idas às feiras de São Martinho ou às missas de domingo. Como um criado “falar” à filha de um lavrador era “pecado”, e o escrever-lhe impossível, pois era analfabeto e, ainda, tinha vergonha de pedir ao Safadinho, ilustre ex-brasileiro e escriba da terra. Fui obrigado a tentar a solução para o intrincado problema!
Apesar de mal saber alinhavar uma cópia, frequentava o 2º ano escola da Regente D. Albertina, aceitei o desafio. Munido de papel e lápis, fui ter com o Zé, ao monte da Eirinha, onde apascentava os bois do patrão, para escrever a carta. Preparada a banca em pedra lisa, perguntei:
 – Fala, que eu escrevo!
Como não disse palavra ou frase, passei a ser eu o Zé, pedindo namoro à Alice. O papel dobradinho foi ter, por artes mágicas, ao bolso do gabiru do Inácio!!!
Os feijoeiros, retirados dos campos de milho, aguardavam os serões à lareira para debulha, em convívio de amigos e familiares.
Pois, no meio de tantos ditos e contos, o galhofeiro do Inácio não começa a ler a minha carta de amor!...
Senti-me tão vexado que fugi para casa da tia, no fundo do povo.
Nunca mais ouvi falar da minha cartinha!



Porto,14 de fevereiro de 2014


                                                                                      *José Gil Correia Monteiro

                                                                                      jose.gcmonteiro@gmail.com

O que disse e o que não disse Cavaco

Cavaco Silva anda a passear pelas Américas, mais concretamente pelos Estados Unidos e Canadá. Ora, como sabemos, Cavaco aproveita sempre que está lá fora para falar da vida política portuguesa, já que internamente não fala e nem dá opiniões.
Neste seu périplo Cavaco está numa de pedinte, tentando convencer os homens e as mulheres do “cacau” a investirem em Portugal. Portanto, sempre que acha oportuno fala da Economia do país. Ainda nos Estados Unidos, o venerando Presidente disse que sem o apoio dos nossos credores internacionais, ou seja da troika, a Economia portuguesa estaria muito pior. Claro que não concordo com ele. Penso mesmo que a maldita austeridade empobreceu o país, porque empobreceu a grande maioria das pessoas. Mas o que Cavaco não disse, e devia tê-lo dito, é que tivemos um primeiro-ministro na década de 1985 a 1995 que recebia por dia milhões de contos (a nossa moeda ainda era o escudo) para desenvolver o país e, ao contrário, encheu os bolsos de alguns empresários pouco escrupulosos e destruiu boa parte do nosso sistema produtivo, nomeadamente nas pescas, na agricultura e até na indústria. Ah, e que esse “artista” se chama…, Aníbal Cavaco Silva. Isso mesmo, ele próprio!


COREIA DO NORTE

PCP vota contra condenação de crimes na Coreia do Norte




O PCP ficou hoje isolado no voto contra uma deliberação do PSD, PS e CDS-PP a condenar os "crimes contra a Humanidade perpetrados pelo regime da Coreia do Norte", e advertiu para "campanhas" de desestabilização da península.
Dos jornais

Não foi o Bernardino que disse, há tempos, de que tinha dúvidas de que a Coreia do Norte não fosse uma democracia? A isto chama-se  coerência.

CAIXEIRO VIAJANTE

O Presidente da república afirmou hoje que Portugal tem uma localização privilegiada para o investimento e é um país credível.

Dos jornais 

Cavaco Silva, vendedor de sabonetes?

CÁ SE FAZEM LÁ SE PAGAM

Vítor Gaspar confirmado em alto cargo no FMI

Ex-ministro das Finanças vai ser diretor do Departamento de Assuntos Orçamentais de Fundo Monetário Internacional
Dos jornais

A retribuição pelo bom desempenho em Portugal ao serviço do FMI

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

MAIS UM CHUMBO


Tribunal Constitucional dita fim dos julgamentos sumários em crimes graves


Acórdão aprovado por 12 dos 13 juízes que integram o plenário. Declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral vinculará todos os tribunais

Público online

É sempre a aviar.

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Copiado directamente do blogue A Minha Travessa do Ferreira, com fotos do autor




Antunes Ferreira
Ontem, caí ou melhor recaí na asneira,  feiras: fui à Feira do Algodão, era o último dia  do certame que decorreu aqui mesmo ao lado, ou seja a uns quatrocentos metros da rotunda de Gaspar Dias, que hoje é Daias. O i é ai, como se recordam os que têm umas luzes ainda que incipientes do English do terceiro ano do liceu. Incauto mas paciente ouvi relatar as maravilhas apresentadas, a magnífica oportunidade de comprar mais barato, o último dia é a ocasião indicada, os feirantes estão a tentar despachar a mercadoria antes de emalar a trouxa. Fui. Fomos.

De acordo com a Indira – a  Costa, esposa do Carminho, colega da Raquel  no Liceu Nacional Afonso de Albuquerque, já desaparecido, ou seja no plural, o Capitão-Mor e o liceu – esta era muito diferente das outras por que eu já passara e por isso não valia a pena torcer o nariz. Guardei, portanto, para outra oportunidade a torcedela. Confesso: pequei, sem  perdão nem bula. À primeira, cai quem quer – mas à nonagésima segunda  só os burros ou os distraídos. Por mais que me digam o contrário creio que me considero integrando o grupo último…
Anjuna - Pagar para fotografar
Já estivera, ao longo dos muitos anos em que venho andando por Goa, em outras feiras, também com algodão, mas não só, e tiradas a papel químico (deve ainda haver gente que se recorda do que é) umas das outras. Para dar um exemplo, junto, apenas, umas quantas: Anjuna, Arporá, esta nocturna, Margão, Mapuçá. Já chega, não necessito de explicar que se trata das localidades onde elas decorrem. Mas, esta  é diferente neste particular. Acontece no Campal, antes mesmo de Miramar e a caminho de Dona Paula. Ou seja na zona chique de Pangim. Feira fina é realmente outra coisa.

Uma feira é uma feira, aqui ou na rotunda do Relógio, em Kuala Lumpur, Banguecoque, Bruxelas ou em A dos Cunhados. Muitos vendedores, bastantes candidatos a compradores, mirones em barda, um que outro agente da autoridade, honestidade 9,6%., marosca 54,7 %, ingenuidade  41,7 % e  outros componentes com as percentagens correspondentes ao método de Hondt. Ressalve-se um que outro caso e creio que este , não sendo excepção, é pelo menos paradigmático. Uma feira, por aqui é um mundo de  mini pormenores, ainda que não sejam surpresa.

As coisas não são tão simples como parecem. Por vezes, o estofo das pessoas é pior do que o dos bancos dos automóveis com o prazo de validade ultrapassado; mas no caso em curso não se pode dizer que  a Feira do Algodão  fosse uma decepção. Além dos tecidos propriamente ditos, incluindo os saris multicolores , havia uma panóplia de artigos diversos de espantar um santo ou o Vishnu que é mau como as cobras. De resto, este deus tem enroladas ao pescoço, aos braços e correlativos diversas  serpentes. A figura é porém adorada não vá os ofídios tecê-las.
Raquel e Indira... Costa nas mercas
As senhoras estavam nas suas sete quintas, isto é várzeas, não havia expositor que lhes escapasse. O grupo era constituído pelas já citadas Raquel e Indira Costa, e também pela Tina Viegas, esposa do Ivo, outro colega da minha caríssima metade. Apalpavam os materiais expostos, este algodão é tão suave que mais parece seda, as cores parecem seguras, por vezes a tinta é um tanto suspeita, kitlé (quanto é) aqui, kitlé acolá, com muitas discussões de preços, muitas vezes usando os vendedores máquina de calcular para que não haja enganos - sempre lamentáveis.

Coabitando com o algodão, há cabedais diversos, carteiras de couro verdadeiro, não é plástico, veja, isqueiro aceso na pele curtida do animal não arde, bugigangas em metal amarelo – abundam os budas, os elefantes, as lâmpadas, os crocodilos, os ganeshes e os cristos e até a Senhora de Fátima . Pulseiras e colares, nem falar, tantos são.
Colares e pulseiras em barda
Na banca ao lado há os produtos artesanais de Cachemira, os papiê-machês, as caixas, as caixinhas, os sahkris (as gôndolas do lago Dal) e, desafiando o nome do certame, as sedas polícromas:; só faltam as house.boats (as casas barcos) certamente por falta de espaço. E o haxixe, pelo menos às claras.

Recordo-me de, já lá vão uns bons anos, em Shrinagar, uma das duas capitais do estado que continua a ser discutido entre a  Índia e o Paquistão, o  ministro chefe  (primeiro ministro só no Governo Central), Sheique Abdalah , durante um almoço que me oferecera, me perguntou se eu já tinha experimentado o haxe. Respondi-lhe que não, nunca me metera em tais assados, ao que ele me respondeu que dois ou três cigarros por dia não faziam mal, bem pelo contrário, até davam saúde. Tente, tente, recomendara-me  - mas eu não tentei. Feitios.

Fechada a parentética, volte-se ao mercado. De seguida havia os brinquedos de madeira, os patos que grasnam quando “andam” nas suas quatro rodas, as galinhas que põem ovos, os reco-recos, os piões, convivendo com as cordas de saltar com punhos no material lenhoso, as casinhas regionais, os jogos educativos, até um ábaco elementar, para os putos aprenderem a fazer contas e compras. Singularmente descobri um triciclo, todo de pau polido e uma scooter desta feita pintada. Aliás, motos, motociclos, scooters e correlativos são mais do que as mães nas ruas e estradas.

A peregrinação feminil arrastava-se por via das buscas minuciosas, das negociações fiduciárias,  das comparações algodonais, das cores, dos acabamentos dos saris, dos seus bordados, penso que este é mesmo a fio de ouro (não é, mas parece), das blusinhas do vestuário tradicional da Índia  e dos modelos cristãos, vestidos, saias, blusas, calças para senhoras, e ao invés do calçado típico, sapatos de corte ocidental, sandálias e até botas de tacão alto. Uma inundação de roupas e sapatos que nem vos conto.
Apreciem a Valentina...
Ah, já me esquecia da Valentina Tereskova, uma jovem russa que sabia dizer ok e thank you em inglês e pouco mais - mas que era o que podem ver na gravura, nela acompanhada por uma miudinha que “adoptara “ a termo certo. Isto explicou-me o nosso condutor privativo desde há sete anos, o Premanand em tradução livre do infantil concani ou konkani como agora se escreve. O Premanand já faz parte  da mobília (e da família), é hindu, casado, com uma filha que vamos conhecer em breve. A cara-metade, essa , já a conhecêramos há dois anos.

Repetiam-se as doses para gentlemen  de todas as cores e feitios a condizer com a  cor da pele de cada um. Eu abstive-me, pois já mandara fazer, naturalmente por medida dois fatos de meia estação, umas calças e quatro camisas de manga comprida que me tinham custado a enormidade de 230 euros, mais cêntimo, menos cêntimo, o que me parecera caríssimo, a vida é feita de alegrias mas também de contrariedades,
Aperitivos a peso...
Resumindo. Vim para fora do enorme pavilhão da feira, com mais de setenta ventoinhas, pelo menos as que contei sem garantia. Para não vir de mãos  vazias comprei um cinto King Kong size, ou seja a minha medida, o que é difícil de encontrar. Três euros e poucos cêntimos de cabedal. Acabei assim a minha Feira. Não acabei, não senhor. À saída encontrava-se um vendedor de aperitivos diversos, mas com um denominador comum: o picante. Adquiri uns quantos de cinco qualidades, 300 gramas cada saco de plástico pesado cuidadosamente em balança de Robervale. Um euro e oitenta cêntimos – uma gastadeira.

As senhoras saíram, comentando as mercas e porque torna e porque deixa e etc. Jurei, para mim mesmo, acautelando a minha integridade física arriscada por possível agressão marital, que não voltaria a cair na esparrela feiral. Decisão irrevogável-temporal. Até à próxima feira.

MEMÓRIAS


Neste dia, em 1932, nasce Elizabeth Taylor, actriz norte-americana de origem inglesa

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O cabeça de lista

Finalmente o PS, pela voz do seu líder António José Seguro, anunciou o cabeça de lista às eleições europeias – Francisco Assis. É, sem dúvida uma boa escolha, mas feita completamente fora de tempo e a reboque do congresso do PPD. Seguro demorou a divulgar a sua escolha para número um da lista, dando a entender que não havia pressa. Mas bastou que no congresso do PPD se fizesse alguma ironia sobre o putativo cabeça de lista do seu partido para, sem mais demora, anunciar quem é, ou melhor quem vai ser.
Francisco Assis é, como já disse acima, uma boa escolha. É um político com uma enorme bagagem, discurso fluente, capaz de se bater com êxito com o candidato da maldita trupe que nos governa e, estou certo, reúne um grande consenso no partido.

E já que falamos de eleições europeias, espero que o PS tenha juízo e continue a candidatar quem tem feito um bom trabalho como deputado europeu. Falo sobretudo de Ana Gomes e Elisa Ferreira.

PATARATAS OU INCOMPETENTES?

O vice-presidente da bancada do PSD, Miguel Frasquilho, defendeu esta quarta-feira, perante representantes da troika que Portugal deveria ter um programa cautelar, depois de terminar o resgate. Horas mais tarde corrigiu as declarações.

Público online

Andam às aranha e devem estar à espera das instruções alemãs. Decidam-se.

LIDO - MÁRIO COLUNA

UM PONTO É TUDO

Mário Coluna, o primeiro homem

por FERREIRA FERNANDESHoje97 comentários
O último livro, e inacabado, de Albert Camus chama-se O Primeiro Homem. É um romance autobiográfico. Um casal de colonos europeus, pobres, muito pobres, por um caminho agreste da Argélia. A mulher está grávida e o pastor árabe que os acompanha diz: "Tu vais ter um filho. Que ele seja belo." Camus, que não era crente, descreve o seu próprio nascimento como uma cena natalícia, em homenagem à mãe que era iletrada e religiosa. Nós somos sempre o primeiro homem, a esperança da redenção. Na década em que Camus morreu (com o manuscrito inacabado de O Primeiro Homem espalhado na mala do carro enfaixado numa árvore, 4 de janeiro de 1960), dois homens que representavam as duas superpotências rivais, o soviético Yuri Gagarine ("a Terra é azul", 1961) e o americano Neil Armstrong ("um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a Humanidade", 1968) contaram o mesmo sonho. O primeiro homem, a visão, o salto. Nem sempre essas coisas se passam grandiosas como as acima descritas, nem sempre recebem o Nobel da Literatura ou ficam marcadas como marcos históricos. E, no entanto, movem--nos. Eu tive a sorte de amar desesperadamente a minha terra e por isso estar atento aos sinais anunciadores. Naquele década, houve muitos domingos e quartas-feiras europeias em que vi jogadores de um jogo simples e quem mandava neles era naturalmente o chefe. Ele não era branco, como eram sempre, até então, os que mandavam. Mário Coluna, primeiro homem.

Ferreira Fernandes, in DN

LIDO (O CONCÍLIO)

O concílio do Coliseu

por BAPTISTA BASTOS

DN Hoje

Levanta-te, e caminha"- disse o Rabi a Lázaro; e este levantou-se, impulsionado pela força divina. Milagre! Milagre!, exclamaram os que ao facto assistiram." A parábola da Ressurreição, ou do Ressurrecto sobreveio-me à memória, quando assisti a um morto, não só político, mas sobretudo moral, emergir do mundo das trevas. Foi no congresso do PSD, quando Pedro Passos Coelho fez ressurgir Miguel Relvas das tumbas da calamidade para ocupar um lugar importante da direcção do partido. Entre a perplexidade e a repulsa, os sentimentos dos circunstantes dividiam-se. Mas a notícia não deixou de ser escabrosa. O título académico de "doutor", "dr." Miguel Relvas, voltou a circular entre as afirmações dos dirigentes mais importantes do PSD, como se a ressuscitação da criatura reabilitasse a própria mentira.
Passos Coelho é um homem em constante sobressalto, tomado de pequenas angústias quotidianas. A necessidade de se impor provém das pessoais inseguranças. E a reabilitação de Relvas, assim como a expulsão de António Capucho, possui, somente, um significado: quero, posso e mando. Não é novidade. O que ele tem feito ao País é a injunção de ideias confusas, desordenadas, que pertencem a outros e que ele mistura no almofariz de uma certa perversidade.
Disse, no congresso, de que estamos melhor do que há dois anos. Mentira. E mentira desaforada. Também disse que o PSD nunca se afastou da "matriz" social-democrata. Mentira e ignorância. Nem nos seus melhores tempos o PSD foi, alguma vez, social-democrata. Aliás, a mentira e a ignorância tornaram-se razões no discurso dele e dos seus.
Passos Coelho pertence à geração da insignificância que povoou a Europa de fatuidades, por ausência de cultura política e geral, e por cansaço e desistência de quem tinha a obrigação de defender e de desenvolver os testamentos legados. Não é só ele. Marcelo Rebelo de Sousa é outro, acaso mais responsável porque lê, pelo menos é o que se diz.
Ele foi o bobo da festa, no conclave do Coliseu. Tem a tineta de açambarcar os holofotes, e quando viu que a ocasião era propícia, saltou para o tablado e fez rebolar de riso os circunstantes. Passos concedeu-lhe a esmola de um escasso sorriso, enquanto a barriga do ministro Miguel Macedo saltava de gozo e satisfação, por igual insanos.
O congresso do PSD para nada serviu, a não ser o de congregar, para as televisões e para o retrato de grupo, alguns "notáveis" desavindos, e demonstrar a falta de carácter de outros, fingidamente esquecidos das afrontas de que têm sido alvo, por Passos Coelho. Ele é que quer, pode e manda. Tem-no comprovado com minuciosa implacabilidade e extrema frieza. Já o disse e escrevi: este homem é muito perigoso.

LUTO



Morreu Paco de Lucia, guitarrista espanhol 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Circo no Coliseu

No último fim-de-semana – Sexta, Sábado e Domingo – houve circo no Coliseu dos Recreios em Lisboa, a que chamaram Congresso do PPD. Foi um circo bastante participado, com as bancadas repletas de gente e com a presença de trapezistas, malabaristas, equilibristas, pantomineiros e até palhaços. Toda a gente antevia um congresso morno, de onde não sairia nada de novo, e com pouco ou nenhum impacto na vida política do país. Mas lá apareceram alguns animadores do costume e a malta animou. Apareceram alguns ex-líderes, como Luís Filipe Menezes, Santana Lopes e o inevitável Marcelo Rebelo de Sousa.
Luís Filipe Meneses desta vez não chorou no Coliseu, nem insultou qualquer companheiro do partido chamando-lhe elitista e/ou sulista. Santana Lopes estava convencido que desta vez seriam muito poucos os notáveis que apareceriam e, vai daí, pensou que indo lá teria o seu momento de glória e mostrava a todos que ainda tem carisma. Marcelo Rebelo de Sousa, que inventou aquela história do “vou, não vou, claro que tenho de ir”, quis mostrar ao líder que tem muito peso junto dos militantes e que será candidato a Presidente se assim o quiser, com ou sem o apoio da direcção do partido, mas não dos militantes. E claro, lá aproveitou a ocasião para mandar umas críticas indirectas e com o habitual sarcasmo a alguns notáveis e dar umas bicadas ao seu inimigo de estimação: Paulo Portas.
Ah, e pasme-se! Relvas reapareceu para encabeçar a lista proposta por Passos Coelho ao Conselho Nacional. Não há vergonha!


COREIA DO NORTE




Coreia do Norte à noite. Será que o Bernardino anda por lá e ofuscou, não só o Kim, como um país inteiro?

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1873, nasce Enrico Caruso, tenor italiano

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

ALINHAMENTOS NOTICIOSOS

O Telejornal da RTP de hoje abre com o jogo do FCPorto-Estoril de ontem (6 minutos), segue-se a antevisão do Benfica-Guimarães de hoje (3 minutos) e depois notícias de outros encontros da jornada (3 minutos).
12 minutos, em televisão não é pouco tempo, mas abrir o noticiário do dia com futebol caseiro, com a duração de 12 minutos é obra.
Quem estava no alinhamento do Telejornal? 

É ASSIM MESM0!

A reavaliação do modo como a lei do aborto é aplicada em Portugal foi aprovada no congresso do PSD. A moção, cujo primeiro subscritor é um dos activistas do “não” no referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária de gravidez (IVG), António Pinheiro Torres, não visa uma alteração da lei semelhante à que aconteceu em Espanha, mas sim uma revisão da sua regulamentação, esclarece o ex-deputado do PSD.
Pinheiro Torres e os outros 62 subscritores (“delegados do país inteiro, com diferentes convicções pessoais”) defendem, entre outras alteraçoões, a introdução de taxas moderadoras para as mulheres que interrompem a gravidez e não estão isentas e o fim das licenças de parentalidade pagas a 100% pela Segurança Social na sequência de um aborto.  

Dos jornais


É assim mesmo! 
Fornicam até dizer basta e nós é que pagamos?Badalhocas.
Venha o referendo.

BOLAS À TRAVE

Parece que vai por aí um grande PREC, já que o FCPorto perdeu em casa, para o campeonato, depois de não sei quantos anos, cabendo ao Estoril matar o borrego. 
Acresce que o treinador não sabe bem qual o clube alemão que vai defrontar para a Liga Europa na próxima jornada.
A Pátria, tudo indica, está em perigo. Às armas!

QUAL É A PRESSA?

Sábado, no congresso do seu partido, Paulo Rangel "exigiu" que o PS indicasse quem iria ser o seu adversário nas eleições europeias.
Seguro, (in)seguro de si, veio, ontem, responder, informando que era Francisco Assis.
Qual era a pressa? Os timings do PS não estão muito bem afinados, penso eu de que.

GAMANÇOS

Se estou melhor do que em 2011?

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Em 2011 eu trabalhava mesmo mal remunerado, porque neste país o trabalho nunca foi bem pago. Agora vivo tranquilamente, não trabalho já deixei de ter subsídio de desemprego e até já nem tenho de ir tirar cursos de jardinagem promovidos pelo centro de emprego, já nem procuro trabalho, nem vale a pena, nem os salários miseráveis que agora querem pagar merecem o esforço.
Provisório ou não em 2011 era professor, agora estou desempregado e as únicas ofertas de empego que recebo são de doméstica, balconista na McDonald’s ou repositora no supermercado. Tive que pagar uma taxa para poder concorrer ao concurso mas até agora não sei qual será o meu futuro.
Sou funcionário público e agora ganho menos 25% do que ganhava em 2011, dantes era um profissional considerado enquanto agora sinto vergonha de dizer em público que sou funcionário público, o governo transformou-se num dos profissionais mais mal remunerados do país e ainda por cima atirou toda a comunicação social contra mi, de alguém útil à sociedade passei a ser um inútil e um chulo do país.
Sou pensionista, durante toda a vida descontei, nunca aceitei empregos com ordenados por fora e só pedi a reforma já tinha passado a data em que me podia reformar. Agora sou tratado como um inútil, um parasita do país, um fardo pesado para a geração mais nova a quem paguei as escolas, a modernização do país, as estradas e os hospitais. Agora consideram que não tenho qualquer direito à pensão e por isso cortam nela sempre que precisam de dinheiro para o BPN ou para financiar os colégios privados.
Em 2011 era empregada de um café, mas tanto o Passos Coelho como o Vítor Gaspar consideraram que o negócio do meu patrão estava a mais no país, que devia ser perseguido até deixar de ser viável e foi isso que sucedeu, agora estou desempregada e vou sobrevivendo com umas horas como empregada doméstica, pagas miseravelmente e sem quaisquer descontos para a Segurança Social.
Em 2011 era pedreiro numa média empresa que se dedicava a recuperar casas de habitação, mas a crise mais a eugenia económica defendida pelo Gaspar levou todo o sector da construção à falência, o meu patrão faliu e nem teve dinheiro para me indemnizar. Vivi dois anos do subsídio de desemprego e depois de calcorrear o país em busca de emprego desisti.
Em 2011 acabei a universidade com resultados brilhantes, comecei a preparar o meu doutoramento beneficiando de uma bolsa. Agora perdi a bolsa e só me resta emigrar para um país que tenha um governo de gente normal e que goste dos seus concidadãos, em Portugal estou a mais.
Em 2011 era professor catedrático, apesar de mal remunerado ainda assim gostava de ser professor no meu país. Mas o ódio de Passos Coelho a todos os que tenham um curso melhor tirado do que o do Relvas levou a que neste país um professor ganhe pouco mais do que uma empregada doméstica. Com tantos cortes e tantas medidas para desmantelar a minha universidade cansei-me, desisti, e quando recebei um convite de uma universidade estrangeira não pensei duas vezes, abandonei o meu país onde as universidades são desprezadas.
Em 2011 era polícia, não ganhava muito mas era o suficiente. Mas sofri tantos cortes no vencimento que já ganho menos do que um desses trabalhadores das empresas de segurança, que não correm riscos e se limitam a dizer bom dia à menina que entra. Muitos colegas meus passam fome, outros são apanhados a roubar, eu penso muito seriamente na hipótese de emigrar para Angola, não é que esteja seguindo a sugestão de Miguel Relvas, mas em África há uma grande procura de seguranças.
Em 2011 era um oficial do quaro, a remuneração não era grande coisa mas era respeitada a dignidade dos militares. Agora temos um ministro que usa as cerimónias militares para fazer comícios e depois dos cortes ganho menos como oficial do Exército do que a secretária do Ulrich, o tal ideólogo do governo que certo dia disse que nós portugueses que não somos ricos somos capazes de aguentar tudo o que o governo decida.
Sou português e em 2011 tinha orgulho de o ser, agora tenho vergonha do meu país.

Se estou melhor do que 2011? Estou, chamo-me Belmiro de Azevedo, chamo-me Soares dos Santos, chamo-me Fernando Ulrich, chamo Eduardo Catroga e estou bem melhor do que em 2011.


Gamado a O Jumento  

EFEMÉRIDES



Neste dia, em 1943, nasce Pablo Milanés, músico cubano

domingo, 23 de fevereiro de 2014

O CONGRESSO

Do congresso do PSD retive duas coisas de primeira importância: 
1 - Marcelo dá o dito pelo não dito e vem a correr da Madeira para dizer que é candidato a candidato a PR, nem que se veja obrigado a atirar-se do tabuleiro da ponte para o Tejo
2- o regresso do inefável, inestimável e imprescindível doutor Miguel Relvas (como enfatizou aquele rapaz, como é que se chama?, ah!, Marco António) à política activa, a presidir ao órgão colegial mais importante do partido. Haja deus! A travessia do deserto, perdão, do Atlântico, valeu a pena. E que saudades que eu já tinha do doutor Miguel Relvas...
 Tudo o mais foram peanuts, mesmo o desconforto de alguns congressistas que não sabiam que estavam a votar no doutor Miguel Relvas, o Regressado. 

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1987, morre Zeca Afonso


sábado, 22 de fevereiro de 2014

A TROIKA E A DÍVIDA

A dívida pública atingiu no final de 2013 um recorde histórico ao registar 129% do PIB, segundo dados do Banco de Portugal (BdP) no seu Boletim Estatístico deste mês. O rácio é similar ao publicado, também esta semana, nos relatórios dos técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Comissão Europeia sobre os resultados da 10ª avaliação do andamento do plano de resgate. Apesar do pico histórico, a troika considera-a sustentável no médio prazo.

Expresso online


Não há dúvidas: a troika quer uma saída limpa, a sua.

E ASSIM VAMOS...

Vereador emigrado quer que Câmara de Baião pague viagens


Vereador do PSD em Baião, emigrado em Inglaterra, quer que Câmara Municipal lhe pague as viagens.
Dos jornais

Foi eleito vereador, mas resolveu (como muitos outros) emigrar para Inglaterra onde, diz o próprio, tem a residência oficial.  Não quis deixar os seus eleitores defraudados (fica-lhe bem) e por isso vem às reuniões quinzenais da Câmara. Como é que o senhor vereador acompanha, lá de longe, o palpitar do seu concelho é que não entendo muito bem.... Ou será um mero pretexto para rever a família e os amigos e matar as saudades do bacalhau? Mas....à custa do erário? Valha-nos o papa Francisco. 
E assim vamos com esta cambada de chico-espertos da política.

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1987, morre Andy Warhol, pintor, publicista e empresário norte-americano

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

MEMÓRIAS



Neste dia, em 1984, morre Mikail Sholokhov, escritor russo, prémio Nobel da Literatura e autor de, entre outros, 'O Don Tranquilo' 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Os foras da lei

É um dado adquirido: O Governo e os partidos da coligação que o sustentam insistem em governar fora da lei, nomeadamente, o que é pouco aceitável, da Constituição. Então, podemos dizer que estamos a ser governados por “foras da lei”.
Soube-se há pouco que o tribunal Constitucional chumbou o referendo à coadoção. Nada que já não se esperasse, mas que mostra que a Direita, concretamente neste caso o PPD, não se importa de violar a Constituição e as leis de um modo geral para levar avante os seus intentos.
E agora? Pergunta-se. Vai haver “medidas alternativas ou plano B”? Bom, é difícil ou quase impossível, mas como a ideia veio da “Jota PPD”, tudo é possível, atendendo ao grau de cretinice daquela canalha.

Quero ver (ou ouvir) agora o que vão dizer alguns responsáveis do partido, nomeadamente o Marco António Costa, o Luís Montenegro e até mesmo o Passos Coelho. 

O GUIÃO E AS PROMESSAS

PS - Finalmente, a anedota: o Governo português garantiu à troika que o guião da reforma do Estado de Paulo Portas vai transformar-se em propostas concretas em Março.


Um PS de um artigo de Pedro Santos Guerreiro, in Expresso


E alguém, no governo, saberá onde páram os papeis (ou guião) do Paulo Portas? 

MILAGRES

Produção de azeitona é a maior dos últimos 50 anos

A produção de 627 mil toneladas de azeitona para azeite, durante a última campanha - de 2013/2014 , foi a maior desde a década de sessenta.

Expresso online



Já tínhamos um (falso) milagreiro na Economia em geral. Agora temos a milagreira Cristas na azeitona e nos azeites. Falta apenas o porta-aviões prometido pelo chefe, o milagreiro-mor.

SEMPRE A AVIAR...

Referendo sobre coadoção é inconstitucional


Dos jornais

Mais uma bofetada...
Não estava mesmo a ver-se?

MEMÓRIAS



Neste dia, em 2001, morre Stanley Kramer, realizador e produtor norte-americano

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A paciência tem limites!

Ainda hoje, casualmente porque de outra forma não tenho paciência, ouvi o primeiro-ministro proclamar que Portugal foi um bom cumpridor do chamado plano de ajustamento que assinou com a chamada Troika, para combater e diminuir o défice e controlar a dívida. E que, em consequência disso, o país está no bom caminho e, pasme-se é um exemplo para toda a Europa! Melhor: este bom comportamento português até trouxe vantagens para a Europa e, sobretudo para a recuperação da credibilização do Euro (estou a imaginar frau Merkel a ouvir isto e a rir à gargalhada).O ministro da Economia, todas as vezes que fala, jura a pés juntos que estamos no bom caminho e fala “em milagre económico”. Portas não se cansa de cantar hossanas à boa recuperação do país e não para de olhar para o relógio que inventou e sonha todas as noites com a despedida da troika. E até miss swaps  fala que estamos no bom caminho e que nada será como até aqui (pois não; vamos ficar cada vez mais miseráveis).
Ora, pergunto: em que país vive esta gente? Então: O défice não baixou para o valor previsto no contrato de ajustamento; a dívida pública aumentou exponencialmente e é muito maior que a estimada; o desemprego só baixa, porque são centenas de milhares os portugueses que emigram;  nas ruas só ouvimos os portugueses a queixarem-se que estão a viver pior; e querem-nos convencer que vamos no caminho certo? A paciência tem limites!


EFEMÉRIDES



Neste dia, em 1932, nasce Milos Forman realizador checo

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais um poeminha do Zé Gil


MAR


País de marinheiros
País de pescadores
Fomos os primeiros
Sem saber como nadar!
Traineira que sai da Foz
No mar tenebroso se afoita
Noite alta, a voz do mestre
Quebra os silêncios da pernoita!
Baixa-mar, preia-mar
Meninos brincando na praia
O marejar da água
É a vida de atalaia.
Mar alto, turista no tombadilho
Tranquilidade, amor, transparência
O sal da ciência
De pai para filho!



Porto, 10/2/14                                                                             José Gil

                                       jose.gcmonteiro@gmail.com

CONTRIBUTOS EXTERNOS

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Uma página do diário do Henrique Antunes Ferreira, que anda pelos orientes




GRALHAS SEM GRALHAS

O caju bebe-se? Bebe

Antunes Ferreira

Beber caju? Essa agora! O homem está choné, absolutamente avariado, cacimbou, é uma pena ver um senhor desta idade num tal estado de degradação. Que, diga-se em abono da verdade, ele já em Lisboa não andava muito direito – a não ser no andar / piso – mas, enfim, disfarçava bastante bem. Só que se lembrou de comemorar as Bodas de Oiro, para o que lhe havia de dar, e as comemorações devem ter-lhe dado voltas à cabeça e… Beber caju? Parece que nem os ares orientais lhe arrumaram a massa cinzenta.

Mas, não senhor, estou bem, reforçando, estou óptimo. Explico-me. Se precisasse de definir as ruas das cidades de Goa, em especial na  rua 18 de Junho, mais precisamente a principal da capital, em duas palavras diria caju e ouro. E porquê? Porque quase se pode dizer que de três em três lojas uma vende caju e a outra joias. O exagero preocupa, mas dá jeito. É claro, nos intervalos, uma panóplia delas, entre as quais as de souvenirs (o estado é o principal destino turístico da Índia), de vestuário, de calçado, de tecidos diversos, de bebidas fortes.

Por mor dos turistas, por cá a venda e o consumo de álcool são livres e baratos; no resto do subcontinente isso também é permitido, mas  as bebidas são mais caras. Ainda há uns anos vigorava a lei seca, excepto para Goa. de tudo um pouco, o comércio é florescente, para não falar nas agências de bancos  e as de viagens muitíssimas, nos muitíssimos restaurantes, bares, tascos, farmácias e correlativos, que naturalmente abundam e até em supermercados e centros comerciais, dos quais um exemplo em Pangim é o Caculó Mole, onde se encontra tudo, desde um super espaço de alimentação até ao vestuário, de marcas conhecidas, muitas das quais já são produzidas na Índia.

Não falta nada, com excepções diversas e entre estas os produtos lusitanos. Infelizmente nem uma garrafa de azeite português, nem uma embalagem de azeitonas lusas ou de bacalhau, nem uma lata de sardinhas idem, nem uma de chouriços aspas, ou seja, nada de produtos nacionais, o que é estranho dadas as especiais ligações de há séculos existentes. Sem comentários. Ainda agora levámos para a família e amigos azeite, azeitonas e chouriços… do reino, como por cá ainda se diz. Quanto a vinhos… voltarei ao tema.

Volte-se ao caju, ou seja o pedúnculo do fruto, o pseudofruto ou noz; o fruto propriamente dito é usado na culinária, mas principalmente para produzir o feni, a aguardente – que também pode ser de palma, mas menos – que é um dos principais produtos desta terra abençoada. A Índia é o segundo produtor mundial e, curiosamente, quem levou o cajueiro do Brasil para a Ásia foram… os Portugas. Um quilo de caju custa 580 rupias mais ou menos sete euros… Escrevi um quilo, note-se. Em Portugal qual será o preço? Não sei, nunca comprei caju em tal quantidade, mas creio que de longe será mais elevado. As embalagens – saco em plástico transparente devidamente fechado no vácuo - têm a data de produção, o peso (normalmente de meio quilo) e o preço – o que é rigorosamente estipulado pelo estado para quase todas as mercadorias.

Encontra-se de todas as cores e qualidades. Até o bibé, nome que aqui é dado quando a noz é recolhida ainda verde; aliás, quando o bibé é bebé dizem os entendidos. E, ainda, as manguinhas verdes que eram “furiosamente” apreciadas  pela  Raquel e os seus colegas que as iam comer às escondidas dos pais – e na praia, quando gazeteavam as aulas ou num intervalo mais prolongado – pisadas com sal e pimenta picantíssima - que se chama chepeni ambli. Mas se começasse a enumerar essa múltipla apresentação ia do picante, obviamente, ao achocolatado. Com mais sal, com menos, cru, assado ou frito, etc. e tal. Um perigo, minha gente sobretudo para os que têm tendência para engordar. O que, felizmente, não é o meu caso…

Há nos campos cajueiros aos magotes e diz-se por cá que são árvores de bebedeira…, tão frequentes como os coqueiros e as palmeiras, as mangueiras, as bananeiras e por aí fora. Já se percebeu, sem margem para dúvidas: este gajo, (i.e., eu,) não está lelé da cuca: bebe-se efectivamente caju, ou seja feni, cujo processo de produção é semelhante ao da  nossa bagaceira, com pisa (pelos pé)s, e a subsequente fermentação. Obtém-se assim, o sura. No estado intermédio está a urraca, que fresquinha e misturada com Limka (o mesmo que a Sete em Pé), e com uma pimenta verde (a nossa malagueta, mas muitíssimo mais picante cortada longitudinalmente) é de beber e nem chorar por mais, porque há sempre mais.


Quanto às ourivesarias é outra estória. Um destes dias, quando não sei, voltarei a elas e a ela. Para aguçar o apetite a quem (ainda) tem a pachorra suficiente para me ler, sempre direi que se prende com a moeda…