Mais uma croniqueta do Zé Gil
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GATOS #
Nunca tive grande estima por gatos.
Em casa, sem a pedra no buraco da porta, entravam e saiam.
Eram todos hóspedes, e nenhum em particular
Deitavam-se com o cão na lareira a dormitar.
Petiscavam, os mais hábeis e gulosos,
Os peguilhos dos comensais sentados à volta do escano
Os ousados tinham respeito às canas do abano (!)
Dispersava a gataria, restando os mais amorosos.
Janeiro, tempo do cio, sentia-se a berraria nos telhados de
telha vã.
Porquê tantas correrias e tanto afã?!
Capador de gatos nem na feira de Vila Real aparecia.
Se as choinas da lareira iam para as traves do telhado
Era fogo posto, fogo apagado!
Tetos baixos? Laradas e calores reservados.
Porcos na trave mestra a secarem pendurados!
Boa matança – reco a bater com o focinho no chão granítico.
Em dois dias ficavam defumados e carnes cortadas em fanicos
Só os presuntos voltavam a ser pendurados!
O cão Atrevido respeitava a exposição
Os gatos nem à volta da lareira passavam
Os pingos, dos fumeiros acidulados, não faziam carecadas!
Voltava a normalidade. As leituras e contos tinham reserva de
fogueira.
Pela calada e calor da noite ninhadas eram apresentadas:
Os bebés, transportados na boca dos pais, eram colocados na
manta do Atrevido!
Espetáculo tão forte e bem encenado deixava comover o mais
ataviado.
Leite num pires. Como é belo vê-los a comer de olhos fechados
A beleza do serão não
tinha outra continuação...
As leituras ouvidas passaram a sonhos de filmes de ficção!
Conclusão: Vivam os gatos vadios ou de estimação.
José Gil C. Monteiro
1 comentário:
Diria que, por definição, o gato é vadio e só gosta que lhe afaguem o pêlo quando bem entende.
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