Ainda é muito
cedo para se concluir o que quer que seja, mas tudo leva a crer que aquela
tragédia que ocorreu na praia do Meco está ligada à praxe. Surgem agora testemunhos
de pessoas que presenciaram actos muito estranhos, como terem visto jovens a
rastejar com pedras atadas aos tornozelos.
Tenho ideia que não é a primeira vez que ocorre uma
tragédia ligada a praxes, mas esta, pelo eco que teve na Comunicação Social e
pelo número de estudantes e de famílias que afectou, não pode deixar de merecer
uma tomada de posição forte de todas as autoridades académicas, da Justiça e da
tutela do Ensino Superior.
A praxe nasceu em Coimbra como maneira de animar com
as suas práticas a integração dos novos estudantes na sua Universidade. Não nos
esqueçamos que Coimbra era, por assim dizer, uma cidade universitária onde a
maior parte dos estudantes eram oriundos da Província e através da praxe os “caloiros”
tomavam contacto com os mais velhos que os protegiam e os ajudavam ao longo da
sua vida académica. Tirando casos muito remotos – século XVII ou XVIII, penso –
não há notícias de casos como os de agora. Nas universidades de Porto e Lisboa,
cidades maiores e onde a vida académica não tinha influência no dia a dia das
mesmas, não havia praxe.
Infelizmente, a partir dos anos oitenta a praxe generalizou-se
e não há hoje instituição de ensino superior público ou privado que não tenha
praxe. E a praxe de hoje não passa de conjunto de actos absolutamente
reprováveis que humilham os caloiros e que em muitos casos são autênticas
agressões físicas e psicológicas, só aceites pelos ofendidos com medo de se
verem ostracizados. Uma vergonha!
E o que tem feito quem de direito devia actuar? Nada,
ou quase nada, incluindo a Justiça. Só há um governante, ou melhor dizendo, um
ex-governante, que se pode gabar de ter lutado contra esta actividade boçal e
estúpida: Marçal Grilo. Na sua qualidade de ministro da Educação, incentivou as
instituições de ensino superior a combaterem a praxe, que ele apelidou de “afronta aos
valores da própria educação e à razão de ser daquelas escolas”.
Infelizmente, volto a dizer, mais ninguém se
interessou e faz alguma coisa. Quantos estudantes terão ainda que morrer?
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