segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais uma crónica do Zé Gil



Azeitona
                                                        Gil Monteiro*

A oliveira será uma árvore especial? Desde pequeno que a considero sagrada. Sem o ramo de oliveira não haveria idas a S. Martinho à Missa de Domingo de Ramos, nem entrega, depois de benzido pelo Senhor Prior, aos padrinhos, para receber o folar da Páscoa!
A iluminação na aldeia era feita com petróleo ou velas. Só em casos especiais ou, na falta de petróleo a vender, é que as candeias de azeite (mais bonitas, diga-se...) entravam em exercício. Os lampiões de ir às lojas dos animais e palheiros, por precaução de incêndios, eram de azeite. Mas, nos velórios toda a iluminação era com azeite, em candeeiros especiais e candeias, emprestados por amigos; assim como as almotolias de abastecimento. Os cheiros dos mortiços pavios tornavam o ambiente da sala mortuária próprio dos templos ou dos céus!?
 Ao matabicho não faltavam os figos secos, e nas merendas as azeitonas marcavam presença, e eram guardadas na talha para todo o ano. Um naco de broa, numa mão, e um punhado de azeitonas, na outra, davam para o lanche da tarde da pequenada da escola! Agora, outros galos cantam: levam pacotes de quase tudo, como as embalagens de batata frita, à frente de outras semelhantes, ou de olivas (nome será poético?), selecionadas e sem caroços.
Em S. João da Pesqueira a bola de carne, como as do folar da páscoa, leva, no recheio, azeitonas caseiras. É com uma tigela delas cortilhadas que o Mateus convida os amigos para a degustação do vinho novo na adega.
As oliveiras podem ser centenares, quando não milenares. Quase se poderia dizer que são eternas. Qualquer tronco queimado ou destruído dá novos rebentos... Numa plantação de vinha foram arrancadas as oliveiras, dispersas no terreno, e colocadas nas bordaduras dos socalcos. Fiquei cético do trabalho, mas mais incrédulo permaneci ao ver abrir um rego e serem “semeados” nacos de oliveira, cobertas com a terra cascalhenta! Mas, o Manuel foi dizendo:
 – Para o próximo ano tenho aqui um alfobre de novas plantas!
Hoje, cercam o plantio de touriga nacional e dão bonitos frutos.
Quando vimos a praça dos Clérigos (Porto) ajardinada com oliveiras e, também, em terraços de prédios modernos, temos que venerar a árvore?! Sim, mas a parte mais sentimental é ela ser, preferivelmente, escolhida para fazerem ninhos os melros e outros pássaros.
Se a dieta alimentar anda tanto na berra, não podemos esquecer o consumo do azeite. Molhar o pão torrado – o de centeio é o melhor – em azeite puro é um manjar! Jamais posso esquecer o dia da safra, na quinta do douro, em que se comiam torradas, do famoso pão de Provesende, feitas no bagaço de aquecimento da azenha e mergulhadas no azeite quente, acabado de sair da separadora. A azeitona, utilizada em saladas e aperitivos, deverá também fazer parte das novas dietas sofisticadas, como, por exemplo, em condimentos dos milhos no pote (!), tão apregoados ultimamente, e pouco encontrados nos restaurantes. É preciso dar força à dieta mediterrânica, não esquecendo as papas de sarrabulho feitas com milhos.
Árvore tão bela, tão santificada, tão modesta no cultivo e tão útil, tinha que ter um contra: a apanha da azeitona, durante as geadas de inverno, é um inferno frio! Só as fogueiras e o sobe e desce do nevoeiro, nas linhas de água, dão alento aos apanhadores dos olivais durienses!
A oliveira devia ser entronizada como a árvore de Portugal.


Porto, 9 de dezembro de 2013

                                                                                       *José Gil Correia Monteiro

                                                                                       jose.gcmonteiro@gmail.com

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