Aqui vai mais uma crónica do meu Amigo Zé Gil
AQUI – D’EL – REI
Gil Monteiro*
Serão
os efeitos da crise económica que fazem lembrar os tempos idos?! Magia não é.
Quando,
à lareia, após a ceia, se ouvia o vento zoar nas telhas e chaminé, levava a avó
Ana, tratada, carinhosamente, por mãezinha, a interromper os seus contos e
ditos, pelo fumo e choinas saídos da entrada para a chaminé; o serão parecia um
filme com efeitos especiais!
Foi
à volta do lar que ouvi, à luz mortiça do candeeiro, com os ruídos noturnos de
uma casa de lavoura, e do chiqueiro dos porcos por perto, que ouvi arrepiado
contar “A Esperteza da Velha”! Cheguei a sair do colo do pai a fim de ir à
porta das escadas ver se o povo chegava para apanhar o ladrão, escondido
debaixo da cama! Jamais voltei a ouvir tais pedidos de socorro...
É
preciso chegar ao século XXI e quase a ter bisnetos, e assistir a uma crise
económica forte no nosso Portugal, para lembrar, novamente, um “aqui – d’el –
rei”!
A
rua onde moro, em Paranhos (Porto), talvez por ser nova, larga e bem iluminada,
os assaltos, e roubos nos carros estacionados, são poucos, e até um camião TIR
pernoitava em fim-de-semana...
Quem
tem uma cadelinha para passear na rua, e zonas verdes, notou a ausência do TIR
parado.
– As baterias eram roubadas! – informou a
Estrela, companheira nos passeios caninos.
Ao
encontrar o Sr. Orlando, enquanto seu cão, velhinho e pesadote, aproveitava
para se sentar no passeio, informou:
– Aqui na rua, começaram os roubos das
baterias dos carros estacionados ao relento, e o rebentar, e levar, os pequenos
portões do passeio, antes dos jardins de entrada?!
Fui
ver. Era incrível!
Necessário
se torna dizer: a mesma rua faz um ângulo reto (?) e nas moradias, onde mora o
Sr. Orlando, é mais estreita e atafulhada de carros nos passeios – mais furtos,
portanto.
Tenho
o privilégio de ter por perto as matas da quinta do Covelo e, ainda, alguns
terrenos agrícolas, onde os milheirais e os nabais se renovam (este ano
poucos). Têm toscos muros, para os passeios da rua, protetores da invasão dos
campos, e são recobertos de capas de cimento. E o que vi?! Destruídas a cinzel
para roubar as varinhas de ferro de muro rematado!
– Isto é que vai uma roubalheira – afirmou o
Armando, habituado a guardar a chave da sua casa duriense, em buraco da parede,
quando era pequenito, e pessoas a pedirem licença de entrada, no fundo das escadas
granítico-xistosas, para subirem até à porta; e, agora, ser assediado pelos
vendedores de novas tecnologias, na entrada do seu andar!
Estava
longe de vir a encontrar o Afonso, discípulo de outros tempos. A conversa foi
apetitosa, mesmo no passeio de rua! Quando chegou à desgraça de ouvir que
andava à procura de emprego, antes de ter que emigrar, pois a carpintaria, onde
trabalhava faliu, dei-lhe um abraço, e entrei no carro triste. Antes de
arrancar, o Afonso vem ao automóvel e diz:
–
Tem uma moedinha?
– AQUI – D’EL – REI?! Tirem-me deste filme!...
Porto, 4 de setembro de 2013
*José Gil Correia Monteiro
jose.gcmonteiro@gmail.com
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