Demonstrando um nervosismo exasperado a candidatura de Cavaco Silva e o próprio candidato, acusaram o adversário político Manuel Alegre de fazer campanha suja, com ataques desonestos e cobardes. Ora, não se entende o porquê. O que Manuel Alegre quer e muitos portugueses também querem é que Cavaco Silva responda, concretamente e sem subterfúgios e rodeios, a quem comprou e a quem vendeu as acções da SLN/BPN de que foi titular e que lhe renderam um lucro fabuloso. Nada mais do que isso. Ninguém o está a acusar de qualquer negócio ilícito ou fraudulento. Cavaco Silva não é um cidadão comum. É ainda o Presidente da República e candidato a voltar a sê-lo. Por isso, deve esclarecer qualquer negócio invulgar em que se viu envolvido, mesmo que o tenha feito de boa fé. Não é lícito saber porque razão não achou esquisito ganhar tanto dinheiro, em tão pouco tempo, na transacção de acções? Todos nos lembramos do primeiro-ministro que nos anos oitenta alertou os portugueses para não comprarem "gato por lebre", numa altura em que se faziam bons negócios na Bolsa, mas com lucros percentualmente mais baixos do que o dele. É altura de não fugir à questão, como sempre faz.
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2 comentários:
Eu odeio Cavaco Silva. É um facto. Não o odeio, todavia, por nenhuma razão pessoal. Pelo contrário, provavelmente, a seguir a Marcelo Caetano, devo a Cavaco Silva o relativo bem estar em que vivo. Odeio-o, porque ele tem o mais abominável defeito que pode ter um político: é manhoso e, sabendo que isso faz as delícias do povo português, apresenta-se sempre como um político não político, um político que odeia a política e que, ao contrário dos outros políticos todos, está na política por espírito de missão, sacrificando-se imensamente, porque para ele seria muito mais confortável dedicar-se às suas actividades particulares. A pátria, porém, reclama o seu contributo e ele, sofrendo, sacrifica-se. Contudo, ao contrário dos outros todos, ele é impoluto. Está para servir não, como os outros todos, para se servir.
Ora, acontece que Cavaco Silva fez uma negociata com acções de uma sociedade criada para a prática de burlas e trafulhices: nessa negociata ele e a filha ganharam (diz-se e ele ainda não desmentiu) mais de duzentos mil euros. Pela sua formação e pelos cargos que ocupou Cavaco Silva não podia ignorar que esta negociata não era normal e que cheirava mal à distância. Apesar disso, não se absteve de a fazer. Todos os portugueses gostariam de ter feito a negociata que Cavaco fez. Mas não puderem nela entrar. Cavaco só entrou, porque era político e porque a política lhe proporcionou esta oportunidade. Não a deixou escapar.
É este - só este - o problema em questão nesta campanha. Não está em causa a natureza ilícita ou criminosa do negócio. Está em causa o carácter de Cavaco Silva. Não é uma questão judicial. É uma questão política. Afinal, o puro, o honesto, o sacrificado, o político acima da política aproveitou a sua posição para, como todos os outros, enriquecer com uma negociata duvidosa.
Cavaco tem a ronha dos velhos campónios. Também a mim, o que mais me chateia nele é esse ar de enfado pela política, de que se serviu e de que beneficiou grandemente, e deixando cair (se não empurrou mesmo) alguns dos seus amigos e correligionários.
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