Afirmas que
brigámos. Que foi grave.
Que
o que dissemos já não tem perdão.
Que
vais deixar aí a tua chave
e
vais à cave içar o teu malão.
Mas como
destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças?
Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu
que os tens.
Não te devolvo - é minha! - a
tua pele.
Achei ali um
sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já
está no fio.
E o teu casaco roto, aquele
vermelho
que eu costumo vestir quando
está frio?
E a planta
que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de
manhã?
É meu o teu cachorro que eu
tratava?
É teu o meu canteiro de
hortelã?
A qual de
nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não
era?
E o que faço das praias que
não vimos?
Das marés que estão lá à
nossa espera?
Dividimos ao
meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de
Novembro?
E as sonatas que ouvimos de
mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me
lembro.
Rosa Lobato
de Faria
2 comentários:
Que belo poema como só a Rosinha sabia escrever. Adorei e vou levar...
...esta divisão de bens impossível de fazer!:)
Janita
Admirava esta Srª.
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