quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

POESIA, PARA VARIAR

Afirmas que brigámos. Que foi grave.

 
Que o que dissemos já não tem perdão.

   
Que vais deixar aí a tua chave 

     
e vais à cave içar o teu malão.


Mas como destrinçar os nossos bens? 

 
Que livro? Que lembranças? Que papel? 

   
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens. 

    
Não te devolvo - é minha! - a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho, 

 
não sei se o queres levar, já está no fio. 

   
E o teu casaco roto, aquele vermelho 

    
que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas? 

E o sol que dá no quarto de manhã? 

   
É meu o teu cachorro que eu tratava? 

    
É teu o meu canteiro de hortelã?


A qual de nós pertence este destino?

 
Este beijo era meu? Ou já não era?

   
E o que faço das praias que não vimos?

    
Das marés que estão lá à nossa espera?


Dividimos ao meio as madrugadas?

 
E a falésia das tardes de Novembro?

   
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

    
De quem é esta briga? Não me lembro.

Rosa Lobato de Faria


2 comentários:

Janita disse...

Que belo poema como só a Rosinha sabia escrever. Adorei e vou levar...
...esta divisão de bens impossível de fazer!:)

Janita

maceta disse...

Admirava esta Srª.