Quem ganhou com o Jesus?
Por Antunes Ferreira
Neste momento não se fala noutra coisa: a “transferência” de
Jorge Jesus do Benfica para o Sporting. Comentadores de todos os feitos,
idades, filiação clubista, militantes partidários, directores e jornalistas de
órgãos de comunicação escritos e paper, on-line, de televisões, de
participantes em mesas redondas, analistas financeiros, rádios (que eu saiba
com excepção da Rádio Amália e alguns órgãos paroquiais, sublinha-se
alguns) e muitos mais.
A grande questão é saber quem ganha com o tema a caminho da
eternidade, viral nas redes sociais, nos barbeiros, nos cabeleireiros de
senhoras, nas minis, pequenas e médias empresas, nas multinacionais sediadas no
nosso país, nas artérias mais diversas, enfim por tudo o que é sítio. Benfica?
Luís Filipe Vieira? Sporting? Bruno de
Carvalho? Porto? Pinto da Costa? Jesus?
Marco Silva? Rui Vitória? Parece-me que nenhum dos apontados com ponto de
interrogação.
Para mim quem ganha – como quase sempre acontece – é o
(des)Governo que infelizmente aturamos, é o suposto e vingativo e desbocado PR,
resumindo é (como se dizia no tempo salazarento) a Situação, enfim, a Nação.
Esta epidemia de Jesuses & Companhia, S.A. fez lindamente aos ditos órgãos
de soberania, mas igualmente à troika que aí está a chegar para investigação de
como correm as coisas, um tanto ao invés do que, em tempos mandara. E ainda
hoje manda.
Explico-me: quem fala sobre a privatização da TAP? Quem fala
sobre a remarque que é o pífio programa de governo da coligação? Quem fala
sobre a despesa pública, menor do que a privada? Poucos, muito poucos. Alguns
submissos e tímidos órgãos da comunicação social (?), uns comentadores laranjas
e azuis e pouco mais.
O povo, esse, que se queixa da austeridade (e da autoridade)
e que é constituído pelos os pensionistas e os reformados que vêem, em ano de
eleições, promessas ténues de reposições das pensões que em boa parte lhes
foram roubadas, os trabalhadores da Função Pública, as forças de Segurança, os
militares (que, em ano de eleições, viram a promessa de aumentos dos respectivos
efectivos, dos meios correspondente e até de aumentos). Resumindo: os cidadãos
anónimos diariamente espoliados que constituem o povo.
Mas ele, o povo, prefere falar do folhetim JJ da demissão do
senhor (?) Sepp Blatter, da corrupção na
FIFA, da final da Champions, até da selecção nacional dos senhores Fernandos,
Santos e Gomes, enfim do futebol que nos tempos da outra senhora integrava a
trilogia dos fff e agora também: Fado, Futebol e Fátima. O povo português entre
o FMI e o Cristiano Ronaldo, escolhe obviamente o segundo.
Acrescente-se que entre a Fräu Merkel e o Mourinho, escolhe
naturalmente o “Jousé”, que entre a Paula Rego e o Wilson Carvalho, ainda
escolhe o médio do Sporting, e que entre o BCE e Leonardo Jardim, também
escolhe o segundo. No fundo e como é habitual, recorre o dito povo aos exemplos
de alguns dos seus antepassados, no caso vertente a Roma do Césares: panem et circenses. Enquanto vê, discute, comenta e fala do
futebol, não fala da política, das
finanças e da economia; muito menos das legislativas.
É uma regra sagrada em ano eleitoral: dar ao povo um pouco
do que lhe foi furtado, partindo do princípio de que ele tem memória curta. Ó
diabo; por mais que se queira negar isto, chega-se à mesma conclusão: tem
mesmo. E a memória curta, que nem os elefantes têm, reflecte-se nas urnas.
Obviamente nas eleitorais, naquelas em que se deitam os votos, não nas dos
funerais. O busílis da questão é que, bastantes vezes as primeiras desembocam
nas dos cemitérios.
Por isso repito e sublinho o que advoguei acima: quem ganha
com o Jesus e adjacentes são os putativos órgãos da Soberania. A coligação
espúria que ganhar as eleições de Outubro para se perpetuar (pelo menos mais
quatro anos) no poder. A mesa do Orçamento é bem abastecida de iguarias e bebidas;
por que bulas haverá novos comensais, se nós estamos tão bem. Palavra do Senh…,
digo, palavras dos senhores.
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