O ovo ou a galinha?
Por
Antunes Ferreira
E,
de repente, os noticiários laçaram uma bomba: o substituto de Steve Jobs saíra
do armário. O CEO da Apple, desde que o “patrão” Jobs decidira abandonar o
cargo, foi e é Tim Cook. Com êxitos na condução do gigante da informática ele,
que já fizera um percurso profissionalmente impecável e rápido na empresa,
assumira normalmente o posto mais importante dela. Muito se falava dele face
aos resultados da Apple que indiciavam que Jobs fora bem sucedido quando o
indicara para seu sucessor. Mas também se insinuava que a sua opção sexual
tinha a ver com homens.
Finalmente
num artigo que publicou nesta semana, Tim Cook assumiu a sua homossexualidade,
garantindo que sê-lo foi uma das maiores dádivas que Deus lhe deu. Pertencer a
uma minoria deu-lhe "a pele de um rinoceronte" contra o preconceito e
a adversidade. Isto quer dizer que embora muito se fale de igualdade sexual
entre os parceiros de um relação, mesmo nos Estados Unidos o preconceito sobre
a matéria ainda tem muita força.
Cook ainda disse mais: "Embora eu nunca
tenha negado a minha sexualidade, eu também nunca a reconheci publicamente, até
agora. Deixem-me ser claro: orgulho-me de ser gay, e considero ser gay uma dos
maiores dádivas que Deus me deu". O texto dado à estampa correu o
Mundo, nomeadamente através da via informática. Pelos vistos a globalização
também está na liberdade sexual… Com os meios informatizados as notícias estão
na casa de cada um que utiliza o computador.
Mas, os restantes meios da informação social não
quiseram deixar de difundir a notícia explosiva. Nunca me esqueço daquilo que
na minha primeira experiência jornalística como profissional, mais precisamente
no “Diário Ilustrado” (que hoje pouca gente
sabe o que foi) no primeiro dia na Redacção, o falecido Victor da Cunha
Rêgo veio ter comigo. “Ouve lá, ó semiputo, nunca te esqueças do que te vou
dizer.
Era o tempo em que os subordinados se dirigiam
aos superiores tratando-os por Senhor. E que a condição sine qua non do Sindicato dos Jornalistas
para se entrar na profissão era saber
ler e escrever. Sem saudosismos piegas, tenho a certeza que a conditio
devia continuar. Cunha Rêgo disse-me – o que nunca mais esqueci – “a notícia
não é quando um cão morde num homem, mas sim quando um homem morde num cão…”
Tudo isto me entrou pela massa cinzenta quando li
o escrito por Tim Cook; Em Portugal, por mais que se diga o contrário, ainda
somos puritanos, as mais das vezes falsos, mas somos. E perante as afirmações
do actual CEO da Apple, nos EUA, as coisas também subsistem. A chegada dos
Peregrinos, que depois passaram a ser chamados Founding Fathers, os Pais da
Pátria, trouxe embrulhado na Bíblia o puritanismo.
Daí que no nosso país as reacções foram a
demonstração da frase que se tornou calina entre os heterodoxos: “não tenha
nada contra os homens que se deitam com outros homens… desde que não seja
comigo…” Os órgãos da comunicação social descobriram a mina que Cook havia
colocado, e praticamente nenhum aplaudiu o texto assinado pelo autor. Mas inda
há alguns que não se limitaram a embarcar no barco geral e do texto que se
tornou viral.
Entre eles o “Expresso” foi ouvir Isabel Fiadeiro
Adveirta, a vice-presidente da ILGA, a Intervenção
Lésbica, Gay. Bissexual e Transgénero) que afirmou que “ao contrário do que acontece em países como Espanha, Itália ou França,
Portugal nunca teve um ministro ou um destacado responsável político a assumir
publicamente a sua homossexualidade” e que “mesmo a nível de deputados, houve
apenas um caso, o do antropólogo Miguel Vale Almeida, cuja eleição pelo PS
esteve associada à defesa da legalização do casamento gay”. E quanto a
políticos e grandes empresários? A
dirigente da ILGA não se coibiu: ” a este nível, o receio não estará
relacionado com despedimento mas com o medo de que o facto de revelar
publicamente a sua orientação sexual os impeça de virem a aceder a determinados
cargos.”
Não sou defensor do homossexualismo,
ninguém me mandatou para o ser, mas não gosto do exibicionismo. As
manifestações homossexuais têm todo o direito de serem organizadas e de
desfilarem ostentando dísticos a favor dessa orientação sexual. A Liberdade
também é isto e a Democracia igualmente. Mas, pergunto-me se é necessário fazer
tais exibições. Já se imaginou uma manifestação de heterossexuais para
defenderem a sua prática? Já aonteceu.
Sem comentários:
Enviar um comentário