sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

O ovo ou a galinha?

Por Antunes Ferreira

E, de repente, os noticiários laçaram uma bomba: o substituto de Steve Jobs saíra do armário. O CEO da Apple, desde que o “patrão” Jobs decidira abandonar o cargo, foi e é Tim Cook. Com êxitos na condução do gigante da informática ele, que já fizera um percurso profissionalmente impecável e rápido na empresa, assumira normalmente o posto mais importante dela. Muito se falava dele face aos resultados da Apple que indiciavam que Jobs fora bem sucedido quando o indicara para seu sucessor. Mas também se insinuava que a sua opção sexual tinha a ver com homens.

Finalmente num artigo que publicou nesta semana, Tim Cook assumiu a sua homossexualidade, garantindo que sê-lo foi uma das maiores dádivas que Deus lhe deu. Pertencer a uma minoria deu-lhe "a pele de um rinoceronte" contra o preconceito e a adversidade. Isto quer dizer que embora muito se fale de igualdade sexual entre os parceiros de um relação, mesmo nos Estados Unidos o preconceito sobre a matéria ainda tem muita força.

Cook ainda disse mais: "Embora eu nunca tenha negado a minha sexualidade, eu também nunca a reconheci publicamente, até agora. Deixem-me ser claro: orgulho-me de ser gay, e considero ser gay uma dos maiores dádivas que Deus me deu". O texto dado à estampa correu o Mundo, nomeadamente através da via informática. Pelos vistos a globalização também está na liberdade sexual… Com os meios informatizados as notícias estão na casa de cada um que utiliza o computador.

Mas, os restantes meios da informação social não quiseram deixar de difundir a notícia explosiva. Nunca me esqueço daquilo que na minha primeira experiência jornalística como profissional, mais precisamente no “Diário Ilustrado” (que hoje pouca gente  sabe o que foi) no primeiro dia na Redacção, o falecido Victor da Cunha Rêgo veio ter comigo. “Ouve lá, ó semiputo, nunca te esqueças do que te vou dizer.

Era o tempo em que os subordinados se dirigiam aos superiores tratando-os por Senhor. E que a condição  sine qua non do Sindicato dos Jornalistas para se entrar na profissão era saber ler e escrever. Sem saudosismos piegas, tenho a certeza que a conditio devia continuar. Cunha Rêgo disse-me – o que nunca mais esqueci – “a notícia não é quando um cão morde num homem, mas sim quando um homem morde num cão…”

Tudo isto me entrou pela massa cinzenta quando li o escrito por Tim Cook; Em Portugal, por mais que se diga o contrário, ainda somos puritanos, as mais das vezes falsos, mas somos. E perante as afirmações do actual CEO da Apple, nos EUA, as coisas também subsistem. A chegada dos Peregrinos, que depois passaram a ser chamados Founding Fathers, os Pais da Pátria, trouxe embrulhado na Bíblia o puritanismo.

Daí que no nosso país as reacções foram a demonstração da frase que se tornou calina entre os heterodoxos: “não tenha nada contra os homens que se deitam com outros homens… desde que não seja comigo…” Os órgãos da comunicação social descobriram a mina que Cook havia colocado, e praticamente nenhum aplaudiu o texto assinado pelo autor. Mas inda há alguns que não se limitaram a embarcar no barco geral e do texto que se tornou viral.

Entre eles o “Expresso” foi ouvir Isabel Fiadeiro Adveirta,  a vice-presidente da ILGA, a Intervenção Lésbica, Gay. Bissexual e Transgénero) que afirmou que “ao contrário do que acontece em países como Espanha, Itália ou França, Portugal nunca teve um ministro ou um destacado responsável político a assumir publicamente a sua homossexualidade” e que “mesmo a nível de deputados, houve apenas um caso, o do antropólogo Miguel Vale Almeida, cuja eleição pelo PS esteve associada à defesa da legalização do casamento gay”. E quanto a políticos e grandes empresários? A  dirigente da ILGA não se coibiu: ” a este nível, o receio não estará relacionado com despedimento mas com o medo de que o facto de revelar publicamente a sua orientação sexual os impeça de virem a aceder a determinados cargos.”

Não sou defensor do homossexualismo, ninguém me mandatou para o ser, mas não gosto do exibicionismo. As manifestações homossexuais têm todo o direito de serem organizadas e de desfilarem ostentando dísticos a favor dessa orientação sexual. A Liberdade também é isto e a Democracia igualmente. Mas, pergunto-me se é necessário fazer tais exibições. Já se imaginou uma manifestação de heterossexuais para defenderem a sua prática? Já aonteceu.


E ainda se pode pôr a eterna questão: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

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