Sou a favor do princípio de que as escolas públicas e privadas devem ser avaliadas, mas considerando muitas outras variáveis para além dos resultados dos exames nacionais. Por outro lado, nada tenho contra o ensino particular, bem pelo contrário. Acho que tem dado um bom contributo para a melhoria do sistema educativo em Portugal.
Agora, o que não posso aceitar, porque não é correcto, ou melhor, não é honesto, é estabelecer-se um ranking com base nos resultados dos exames nacionais, tomando-se esse ranking como indicador das melhores e das piores escolas. Não se podem comparar escolas que têm muitos alunos a fazer exames com outras que têm poucos. Não se podem comparar escolas implantadas em zonas sócio económicas com nível muito baixo, com escolas junto a zonas sócio económicas com nível médio ou até alto. Exemplo: não é justo que se comparem a Escola Secundária do Cerco do Porto, implantada na zona problemática do Bairro do Cerco e a Escola Secundária Garcia da Orta, implantada na zona Nevogilde-Foz. Por isso não me admira que as primeiras escolas do ranking sejam escolas privadas. Estas são frequentadas por alunos oriundos de estratos sociais médios e elevados. Os "alunos problema", pertencentes a famílias desestruturadas, frequentam as escolas públicas, já que lhes está vedado o acesso aos colégios particulares, quer porque não podem pagar uma mensalidade próxima do salário mínimo, para muitos o único rendimento familiar, quer porque nunca seriam seleccionados pelo colégio onde poderiam querer ingressar. As escolas privadas, sobretudo as primeiras do ranking, são escolas fechadas onde, por força da procura ser maior que a oferta, fazem selecção aquando da entrada e ao longo do percurso escolar. Rejeitam-se matrículas com o objectivo de não piorarem o lugar no ranking. As escolas públicas são escolas abertas onde têm que aceitar, à partida, todo o tipo de alunos, muitos deles com necessidades educativas especiais para quem é necessário muito apoio. O Clégio de N. S. do Rosário - a primeira escola do ranking, fica situado na Freguesia de Ramalde. Tenho quase a certeza que nenhum dos seus alunos reside nos bairros das Campinas, de Ramalde, de Ramalde do meio, de Francos, etc. Estes estão espalhados por outras escolas da Freguesia ou de Freguesia contígua. Não tenho dúvidas do que vou dizer: para obter os mesmos resultados um profesor tem que trabalhar muito mais numa escola pública do que numa escola privada.
E já agora senhores da comunicação social, antes de elogiarem as escolas privadas e depreciarem as públicas, tendo em conta os resultados dos exames nacionais, vão às Universidade e às entidades ligadas à investigação e inovação científicas e tecnológicas e procurem saber as percentagens de investigadores que frequentaram o ensino público, com a percentagem dos que frequentaram o ensino privado. Sou capaz de "pedir meças".
1 comentário:
Não sou contra os rankings, de escolas ou de outros serviços, públicos ou privados. Só que... Como é óbvio, não é razoável meter na mesma tabela os colégios privados e as escolas públicas, uma vez que estamos a tratar por igual o que não é igual. São universos totalmente distintos. E, como muito bem diz, nem sequer é razoável comparar a escola do bairro do Tarrafal com a escola de Nevogilde/Foz, ou uma escola central de Lisboa ou Porto com a de uma vila de Trás-os-Montes ou Beira Interior. Há que aprimorar o critério.
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