Não revelar um centímetro
Por Antunes Ferreira
Alguns Portugueses
mais ingénuos ou menos informados julgavam e julgam que o senhor que ocupa o
Palácio de Belém (felizmente em regime de transitoriedade) era/é o Chefe do
Estado (a que isto chegou…piada calina, mas que gosto de utilizar). Gente
bem-intencionada, muita dela que ainda acredita no Pai Natal, acha que é melhor
ter um Presidente da República do que não ter nenhum. De resto o povo também
afirma que é melhor ter um pássaro na mão do que dois a voar. Longe de mim
fazer tal comparação espúria: os passarinhos não a mereceriam; já os passarões…
E já que estamos no
tema voar, refiro aqui as palavras de Sua Excelência aos jornalistas em Nova
Iorque para onde voou a fim de tomar parte no âmbito da abertura da 70.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Antes de embarcar de volta a Lisboa e perante perguntas que lhe foram feitas
por elementos da comunicação, Cavaco não foi de modas e disse com todas as
letras que "Quanto ao dia 5, eu estou com muita tranquilidade, sei muito
bem aquilo que irei fazer e todos sabem que eu sou totalmente insensível a
quaisquer pressões, venham elas de onde vierem.”
O putativo PR
ainda declarou: “Decidirei nos termos dos meus poderes constitucionais e
colocando sempre em primeiro lugar o superior interesse nacional". No
entanto Cavaco escusou-se a revelar a
forma como irá decidir, apesar de afirmar já ter uma solução pensada: "a
forma como irei decidir, embora já esteja na minha cabeça, eu não irei revelar
nem um centímetro". E acrescentou: "Não quero avançar absolutamente
mais nada, segui o princípio de nunca fazer nenhuma afirmação que pudesse ser
entendida como interferência na campanha eleitoral".
Porém, não se ficou por ali, reiterando
que a campanha eleitoral está a decorrer com "uma razoável
normalidade" e que parece ter sido "mais esclarecedora" e sem
"níveis de ataque pessoal" como no passado, Cavaco pediu que se deixe os partidos terminarem
este período com "o mesmo espírito esclarecedor com que chegaram até
aqui". Ele também fez referência a notícias que saíram sobre o que pensava
do pós-eleições, mas assegurou que nem ele, nem nenhum elemento do seu gabinete
fez declarações sobre a campanha eleitoral além do "pedido elementar"
para que todos se empenhem no esclarecimento e no respeito pelo eleitorado.
"Aguardo, de facto, com toda
a tranquilidade e serenidade o conhecimento dos resultados que irei acompanhar
- como percebem - com muita, muita atenção", disse. Face a uma pergunta
sobre se o número de mandatos que
os partidos alcançarem será um factor determinante na sua decisão, o chefe de
Estado insistiu na recusa em fazer qualquer afirmação sobre o pós-eleição,
argumentando que "poderia ser interpretado como tentando condicionar aqui
ou acolá".
"Irei ainda falar ao povo
português no sábado, será aquilo que é hábito da parte do Presidente da
República, o apelo a que todos vão votar. Isso é o mais importante, que todos
vão votar em consciência", acrescentou, insistindo que "agora ainda é
o tempo dos partidos" e que "não é ainda o tempo do Presidente da
República". No que concerne à abstenção, o venerando chefe de Estado disse
ter esperança que os habituais níveis elevados possam reduzir-se, aludindo às
recentes eleições na Catalunha, onde a taxa de participação foi muito elevada,
porque os eleitores consideraram que estava em causa algo muito importante para
o futuro da Espanha e da região.
Terminou em glória, ainda que sem
palmas: "Eu desejava isso, que os portugueses considerassem que esta
decisão do próximo dia 4 também é algo muito importante para o futuro do país.
É uma decisão dos portugueses e eu espero que eles não deixem de encontrar lá
um espaçozinho nas suas actividades do dia 4 para dirigirem-se às secções de
voto", disse ainda. Gostei particularmente do “espaçozinho” que deverá,
por certo, na galeria de disparates pronunciados: “cidadões”, “façarei”, etc.,
tudo com o apoio à produção da Senhora de
Fátima e da editora do Manual de Berros da autoria de Manuel de Barros.
Este comentário é 90 % respigado
da comunicação social; mas para mal dos meus pecados – que são muitos – também
os ouvivi, contrariando uma vez mais uma decisão irrevogável que antes tinha
tomado e afirmado, E anda um aditamento: quando este texto for lido já estaremos
no período de reflexão. Mas podem crer que ele foi escrito antes, mais
precisamente às 01:30 da quarta-feira passada; porque combater contra os
calendários e relógios que impávidos e serenos marcam, inexoráveis, o tempo, não há reflexão que resista.
1 comentário:
este homem é a negação do cargo que ocupa e no dia em que for para reserva será esquecido.
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