segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

GAMANÇOS

Se estou melhor do que em 2011?

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Em 2011 eu trabalhava mesmo mal remunerado, porque neste país o trabalho nunca foi bem pago. Agora vivo tranquilamente, não trabalho já deixei de ter subsídio de desemprego e até já nem tenho de ir tirar cursos de jardinagem promovidos pelo centro de emprego, já nem procuro trabalho, nem vale a pena, nem os salários miseráveis que agora querem pagar merecem o esforço.
Provisório ou não em 2011 era professor, agora estou desempregado e as únicas ofertas de empego que recebo são de doméstica, balconista na McDonald’s ou repositora no supermercado. Tive que pagar uma taxa para poder concorrer ao concurso mas até agora não sei qual será o meu futuro.
Sou funcionário público e agora ganho menos 25% do que ganhava em 2011, dantes era um profissional considerado enquanto agora sinto vergonha de dizer em público que sou funcionário público, o governo transformou-se num dos profissionais mais mal remunerados do país e ainda por cima atirou toda a comunicação social contra mi, de alguém útil à sociedade passei a ser um inútil e um chulo do país.
Sou pensionista, durante toda a vida descontei, nunca aceitei empregos com ordenados por fora e só pedi a reforma já tinha passado a data em que me podia reformar. Agora sou tratado como um inútil, um parasita do país, um fardo pesado para a geração mais nova a quem paguei as escolas, a modernização do país, as estradas e os hospitais. Agora consideram que não tenho qualquer direito à pensão e por isso cortam nela sempre que precisam de dinheiro para o BPN ou para financiar os colégios privados.
Em 2011 era empregada de um café, mas tanto o Passos Coelho como o Vítor Gaspar consideraram que o negócio do meu patrão estava a mais no país, que devia ser perseguido até deixar de ser viável e foi isso que sucedeu, agora estou desempregada e vou sobrevivendo com umas horas como empregada doméstica, pagas miseravelmente e sem quaisquer descontos para a Segurança Social.
Em 2011 era pedreiro numa média empresa que se dedicava a recuperar casas de habitação, mas a crise mais a eugenia económica defendida pelo Gaspar levou todo o sector da construção à falência, o meu patrão faliu e nem teve dinheiro para me indemnizar. Vivi dois anos do subsídio de desemprego e depois de calcorrear o país em busca de emprego desisti.
Em 2011 acabei a universidade com resultados brilhantes, comecei a preparar o meu doutoramento beneficiando de uma bolsa. Agora perdi a bolsa e só me resta emigrar para um país que tenha um governo de gente normal e que goste dos seus concidadãos, em Portugal estou a mais.
Em 2011 era professor catedrático, apesar de mal remunerado ainda assim gostava de ser professor no meu país. Mas o ódio de Passos Coelho a todos os que tenham um curso melhor tirado do que o do Relvas levou a que neste país um professor ganhe pouco mais do que uma empregada doméstica. Com tantos cortes e tantas medidas para desmantelar a minha universidade cansei-me, desisti, e quando recebei um convite de uma universidade estrangeira não pensei duas vezes, abandonei o meu país onde as universidades são desprezadas.
Em 2011 era polícia, não ganhava muito mas era o suficiente. Mas sofri tantos cortes no vencimento que já ganho menos do que um desses trabalhadores das empresas de segurança, que não correm riscos e se limitam a dizer bom dia à menina que entra. Muitos colegas meus passam fome, outros são apanhados a roubar, eu penso muito seriamente na hipótese de emigrar para Angola, não é que esteja seguindo a sugestão de Miguel Relvas, mas em África há uma grande procura de seguranças.
Em 2011 era um oficial do quaro, a remuneração não era grande coisa mas era respeitada a dignidade dos militares. Agora temos um ministro que usa as cerimónias militares para fazer comícios e depois dos cortes ganho menos como oficial do Exército do que a secretária do Ulrich, o tal ideólogo do governo que certo dia disse que nós portugueses que não somos ricos somos capazes de aguentar tudo o que o governo decida.
Sou português e em 2011 tinha orgulho de o ser, agora tenho vergonha do meu país.

Se estou melhor do que 2011? Estou, chamo-me Belmiro de Azevedo, chamo-me Soares dos Santos, chamo-me Fernando Ulrich, chamo Eduardo Catroga e estou bem melhor do que em 2011.


Gamado a O Jumento  

1 comentário:

500 disse...

O único que não achou piada foi aquele senhor ali à esquerda. Deverá ter inconseguido entender onde estava a piada.