OS PÁSSAROS
Gil Monteiro*
Por que gosto de pássaros? Têm asas? Conquistam os céus? Cantam e encantam?! É por tudo isso e mais, mas, a principal razão, deve ser: são livres! A liberdade esclarecida é o maior bem do ser humano. Nasce connosco ou conquista-se?!
Os dois modos são válidos, e apresentam variáveis, conforme a idade e as condições de vida. Se a ave é quase autónoma, desde a saída do ninho até à morte (morrem por ter de morrer); o homem leva tempo a obter a sobrevivência e a perdê-la com a velhice. Ver, hoje, tanto idoso sem amparo, e encontrados mortos em residências urbanas, mete dó! Nas pequenas localidades não acontece, pois aí a solidariedade não é uma palavra vã. Mais: quando as maiores carências aparecem, as atenções e solicitude de companheiros ou vizinhos é grande. Aprenderam que, visitar os encarcerados e enfermos, é uma obra de misericórdia. Temos que ter em conta que a assistência à dita 3ª idade é um preceito de cidadania.
Consegui semear e transplantar, do vaso para um antigo quintal das Antas (Porto), uma pereira abacate. Jamais, poderia pensar que iria ter saborosos frutos, de janeiro a maio, e vir a ser obsequiado, este ano, com ninho de melro na árvore! Habituado a cocar as fases de construção de ninhos, nos castanheiros bravos ou na latada do poço da horta, da quinta de Provesende, senti-me um privilegiado ao voltar a ser menino!
Se tivesse engenho poético de Alexandre O’Neill escreveria um poema, não sobre a gaivota mas ao melro; ou a ousadia de poder homenagear Miguel Torga, por ter escrito: “Eu sei um ninho”, narraria, em rimas, o ninho e a pereira abacate.
A observação da passarada é um belo entretenimento, mesmo nas ruas e parques da cidade. Sem referir as gaivotas, a matarem os pombos e a comerem os alimentos dos gatos vadios, colocados por senhoras caridosas; quero lembrar as rolas. Sim, rolas mesmo do tipo que nidificavam nos pinheiros de Roalde, e contribuíam para esfolar as pernas, na subida às árvores, a ver os filhotes a crescerem, quando vinha o verão, e andava de calções! Invadiram a cidade, depois do controlo da caça?! Se via e ouvia cantar de rolas “domésticas”, vindas da Turquia, sedentárias, talvez libertadas de gaiolas caseiras, em locais ainda campestres, perto de residências, e onde se vê semear milho; ouve-se, agora, um arrulhar autêntico, como o gravado na meninice; e fiquei perplexo por ser mesmo e, tal como, poder observar um casal de melros, na varanda de um 4º andar, procurando migalhas!
Num domingo de tarde, fora do vício de frequentar a beira-mar, depois de ir lanchar na zona do Padrão, num boteco de servir pratinhos ao balcão e vinho a copo (rótulo escolhido), é um prazer passear ou estar sentado nos bancos do Jardim de São Lázaro. Era o local chique do Porto no século XIX e, talvez no tempo da 1ª República. Desde que passei a estudante na cidade, os famosos passeios moravam na avenida das tílias do Palácio de Cristal. A calmaria de S. Lázaro é tal que dá para imaginar o “ver” Camilo Castelo Branco a catrapiscar uma menina, enamorada das letras, Ana Plácido, a passear de braço dado com marido idoso. Ouvir o arrulhar dos pombos, enquanto apresentam cenas de namoros incríveis! Mas, são as brincadeiras das crianças, em recinto bonito e fechado, que mais se gosta de observar.
Entre o andar da rua e a Escola secundária em frente, pousaram duas rolas bravas, num poste elétrico, bem alto e curvo, local escolhido para o acasalamento. Tive a sorte de assistir. O surpreendente foi ver a continuação de carinhos (bicadinhas nas cabeças), depois do ato consumado!
Porto, 30 de maio de 2012
*José Gil Correia Monteiro
Jose.gcmonteiro@gmail.com
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