sexta-feira, 18 de novembro de 2016

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Ganhar e perder

Por Antunes Ferreira


O actual presidente do Partido Social Democrata Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, cargo que desempenha desde 2010, nesta última semana tem-se visto em palpos de aranha para conseguir ligar para o senhor Belzebu. Ou porque as linhas têm estado trocadas (parece que ainda não há ligações directas via Intelsat 905), ou porque a operadora está de baixa por parto, ou porque – dizem – o patrão dos demónios manda dizer pelo secretário que ele não está…
Isto tudo porque o ex-primeiro-ministro vinha avisando que as múltiplas asneiras cometidas pelo governo de António Costa levariam a que os Portugueses chegassem a uma situação dos diabos. Ou seja a diabolização estava a caminho e muito em breve chegaria a Portugal como se fora uma das sete pragas que assolaram o Egipto conjuradas por Moisés. Uma não – as sete. E não havia como escapar.
Havia, mas para isso o Dr. Passos Coelho tinha de voltar a S. Bento (de onde nunca devia ter saído) para continuar a ensinar o povo como baixar a cabeça, as calças e… ser feliz. Com mais uns impostos? (não, ele nunca faria isso!) Com mais uns descontos nas pensões (não, ele nunca faria isso!) Com mais austeridade? (não, ele nunca faria isso!) E como o prometido é sempre devido o Demónio dignar-se-ia a descer do Inferno para ajudar o Dr. Pedro Manuel Mamede Passos Coelho a institucionalizar o Paraíso em Portugal.
No entanto mesmo os mais salutares propósitos como é o caso vertente têm sempre as suas adversativas que só servem para os atrapalhar e mesmo, veja-se a desfaçatez, para os inviabilizar. É o caso do que aconteceu nesta semana que, além do mais veio provar o conluio entre Lisboa e Bruxelas. Quem diria? Mas, pior ainda: veio provar que Her Wolfgang Schäuble estava errado. Quem? O todo poderoso ministro das Finanças alemão em cadeirinha de rodas. Estava. Podia lá ser? Podia.
Foi o que pode dizer uma “semana louca” Depois dos dados sobre o crescimento económico do terceiro trimestre, revelados pelo INE e dos dados do emprego e desemprego, o Governo chegou à quarta-feira passada com mais “três excelentes notícias”: a luz verde que Bruxelas deu ao Orçamento do Estado para 2017, a decisão de não avançar com a proposta de suspensão dos fundos comunitários, e ainda a previsão da Comissão Europeia sobre o défice português para 2016, que deverá ficar abaixo dos 3%. Para Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, que reagiu no mesmo dia às notícias, “estão reunidas as condições para encarar 2017 com redobrada confiança”.
No mesmo sentido se pronunciou o primeiro-ministro (mal parecia se assim não fosse) que sublinhou que os Portugueses só podem “estar otimistas relativamente a 2017 quanto ao sinal que isto representa em termos de confiança nas finanças públicas portuguesas” E ainda fez duas referências: uma quanto às famílias; outra sobre as empresas. De acordo com o líder do executivo, "as famílias podem começar a olhar para o seu dia-a-dia com maior tranquilidade, sem sobressaltos de cortes ou de aumentos de impostos". "As empresas portuguesas podem olhar com confiança para as condições de financiamento e o país pode olhar com confiança e tranquilidade quanto ao seu relacionamento com as instituições europeias",
E agora veja-se o que disse o ex-primeiro-ministro. Pedro Passos Coelho afirmou que é “positivo” que a proposta de Orçamento do Estado para 2017 tenha recebido a luz verde de Bruxelas. “O importante é que o projeto de orçamento não tivesse sido rejeitado, como poderia ter chegado a acontecer”. Para Pedro Manuel Mamede Passos Coelho o que aconteceu significou, portanto, que não é do lado da Comissão Europeia que haverá dificuldades para que o país possa ter o seu orçamento aprovado. Isso é sempre positivo e deve-se saudar que seja assim.”
Não deixou, porém de acentuar que “a Comissão chama atenção para alguns riscos que são efetivos”, tal como “o conselho de finanças públicas e a UTAO já tinham chamado atenção”. E lembrou que há “outros aspetos relevantes”, para além dos propósitos da redução do défice, “que têm que ver com as opções que queremos fazer para atingir essas metas”, mas que cabem aos países.

Ou seja para o líder da Oposição a questão é muito simples e muito complexa: quem foi primeiro – a galinha ou o ovo? Saber ganhar é ma grande virtude; mas saber perder ainda o é mais.

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