terça-feira, 22 de abril de 2014

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais uma estória do Zé Gil


DIÁLOGOS

                                                                *Gil Monteiro

Saber dialogar é fácil. Saber bem dialogar não é nada fácil. Antes de mais, é preciso escutar e “estudar” as perguntas. As conversações ouvidas, na rádio, televisão ou vídeos, são atropelos de vozes, tornando os assuntos caóticos. A solução é desligar. Os locutores, que mais vociferam e barafustam, são os mais desacreditados!
Para calar um palrador excitado, basta conseguir dizer-lhe, compassado e de baixa voz:
 – Por favor, gostava de ouvir melhor o que está a expor!
As jogadas imprevistas, quando o feitiço não se vira contra o feiticeiro, têm o efeito de surpresa. Um orador de nomeada motivou a palestra, sobre as catástrofes climáticas, entregando uma folha branca aos interessados, sem qualquer comentário...
O bom mestre não é o que fala bem e argumenta melhor, mas o que faz falar o aprendiz e o leva a realizar tarefas, cada vez mais complexas. Educar pelo exemplo é, e será sempre, importante. Educação tem muito de imitação... Uma obra literária ou científica pode ser elaborada em diálogos, comparando os dados podemos fazer evoluir a arte criativa; para chegar seu Desterrado, muito gesso gastou Soares dos Reis! Foi com o espírito socrático ou seus derivados que a aquisição de conhecimentos progrediu, e se tornou universal. É pela música e pela dança que é fácil aprender línguas. Ainda um neto não sabia o abc e trauteava (!) palavras inglesas das canções em voga. Zorba, o Grego, pouco falava, mas cantava, dançava, dançava..., construindo um filme maravilhoso, e mostrando uma Grécia encantadora, onde as ondas sonoras batiam nas escadas dos anfiteatros escavados nas rochas calcárias!
Os diálogos de amor foram sendo perdidos. Mas as falas surdas dos namorados acabaram mesmo. As horas de espera, para ver a sua querida beldade abrir a janela, foi um ar que lhe deu! Destes, os que foram até ao altar, de boca calada, foram felizes para sempre! Pudera, – disse o Manuel João.
No tempo de estudante, com delicadeza e paciência, ainda se conseguia um beijinho numa cachopa, se a mãe zelosa não estivesse por perto ou um irmão defensor distraído. Nos salões de baile dos Fenianos e outros locais dos bailes da Queima, as mamãs, sentadas à volta da dança, tinham a mira bem apontada! Qualquer tentativa, e as meninas não eram autorizadas a voltar a tal parceiro. Mas, havia um desconhecido mosqueteiro que a ia convidar para a entregar ao lesado, na confusão dos pares!
A cidade do Porto é muito académica. Os estudantes universitários quase todos a viverem na Baixa, em quartos familiares alugados. Conviviam, lado a lado, com os portuenses mas, era na Queima das Fitas que a fraternidade mais se notava. O cortejo da Queima era o clímax! O Porto tinha orgulho de possuir a maior Universidade do País.
A chegada do cortejo à Praça e ao Passeio das Cardosas era um delírio!
Apeado do meu carro alegórico, corro atrás duma menina, que deu troco, para um beijinho, mas, como fugiu para o meio das pessoas das Cardosas, tive de entrar na onda humana feminina!
 – Ai tu queres beijinhos?!
 – Toma, toma!...
Fiquei pintado a batom!

Porto, 14 de abril de 2014

                                                                                            *José Gil Correia Monteiro

                                                                                         jose.gcmonteiro@gmail.com

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