Mais uma estória do Zé Gil
DIÁLOGOS
*Gil Monteiro
Saber dialogar é fácil. Saber bem dialogar não é nada fácil.
Antes de mais, é preciso escutar e “estudar” as perguntas. As conversações
ouvidas, na rádio, televisão ou vídeos, são atropelos de vozes, tornando os
assuntos caóticos. A solução é desligar. Os locutores, que mais vociferam e
barafustam, são os mais desacreditados!
Para calar um palrador excitado, basta conseguir dizer-lhe,
compassado e de baixa voz:
– Por favor, gostava
de ouvir melhor o que está a expor!
As jogadas imprevistas, quando o feitiço não se vira contra o
feiticeiro, têm o efeito de surpresa. Um orador de nomeada motivou a palestra,
sobre as catástrofes climáticas, entregando uma folha branca aos interessados,
sem qualquer comentário...
O bom mestre não é o que fala bem e argumenta melhor, mas o
que faz falar o aprendiz e o leva a realizar tarefas, cada vez mais complexas.
Educar pelo exemplo é, e será sempre, importante. Educação tem muito de
imitação... Uma obra literária ou científica pode ser elaborada em diálogos,
comparando os dados podemos fazer evoluir a arte criativa; para chegar seu
Desterrado, muito gesso gastou Soares dos Reis! Foi com o espírito socrático ou
seus derivados que a aquisição de conhecimentos progrediu, e se tornou
universal. É pela música e pela dança que é fácil aprender línguas. Ainda um
neto não sabia o abc e trauteava (!) palavras inglesas das canções em voga.
Zorba, o Grego, pouco falava, mas cantava, dançava, dançava..., construindo um
filme maravilhoso, e mostrando uma Grécia encantadora, onde as ondas sonoras
batiam nas escadas dos anfiteatros escavados nas rochas calcárias!
Os diálogos de amor foram sendo perdidos. Mas as falas surdas
dos namorados acabaram mesmo. As horas de espera, para ver a sua querida
beldade abrir a janela, foi um ar que lhe deu! Destes, os que foram até ao
altar, de boca calada, foram felizes para sempre! Pudera, – disse o Manuel
João.
No tempo de estudante, com delicadeza e paciência, ainda se
conseguia um beijinho numa cachopa, se a mãe zelosa não estivesse por perto ou
um irmão defensor distraído. Nos salões de baile dos Fenianos e outros locais
dos bailes da Queima, as mamãs, sentadas à volta da dança, tinham a mira bem
apontada! Qualquer tentativa, e as meninas não eram autorizadas a voltar a tal
parceiro. Mas, havia um desconhecido mosqueteiro que a ia convidar para a
entregar ao lesado, na confusão dos pares!
A cidade do Porto é muito académica. Os estudantes
universitários quase todos a viverem na Baixa, em quartos familiares alugados.
Conviviam, lado a lado, com os portuenses mas, era na Queima das Fitas que a
fraternidade mais se notava. O cortejo da Queima era o clímax! O Porto tinha
orgulho de possuir a maior Universidade do País.
A chegada do cortejo à Praça e ao Passeio das Cardosas era um
delírio!
Apeado do meu carro alegórico, corro atrás duma menina, que
deu troco, para um beijinho, mas, como fugiu para o meio das pessoas das
Cardosas, tive de entrar na onda humana feminina!
– Ai tu queres
beijinhos?!
– Toma, toma!...
Fiquei pintado a batom!
Porto, 14 de abril de 2014
*José Gil
Correia Monteiro
jose.gcmonteiro@gmail.com
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