Mais um contributo do Henrique Antunes Ferreira
O tiro de Draghi
Debaixo dos pés levantam-se os trabalhos. O acerto deste
ditado é total no que respeita ao tema dum programa (chame-se-lhe o que se
quiser, desde cautelar até segundo resgate) que não se vê bem onde e quando
parará. O (des)Governo começara a embandeirar em arco e, de repente descobriu
que metera água – e de que maneira.
Não adianta tecer mais comentários sobre o que foi o tiro de
Mario Draghi ao declarar em Bruxelas que o nosso país vai precisar de mais um
programa quando o actual programa de resgate terminar, de tal forma ele atingiu
o porta-aviões de São Bento, os submarinos de Portas, a caravela do Imóvel de
Belém que os vai levar a naufragar, para não dizer mesmo, a ir ao fundo.
Nestas coisas de batalha naval nunca se sabe quando o
adversário atira a matar. Normalmente, ele faz movimentos exploratórios antes
de dispara os canhões e/ou os torpedos de que está munido. É uma chatice, mas
delas está a vida cheia e o Mundo também. Mais ou menos como os indispensáveis
que, naturalmente enchem os cemitérios.
Mas, não há nada melhor do que realmente e as armadilhas da
sorte estão sempre prontas a enterrar o desgraçado que nelas cai. Tome-se como
exemplo, o texto que se segue, publicado na edição on-line do “Público” de
segunda-feira, que cada vez mais é um órgão da comunicação social que ganhou o
seu espaço e agora defende-o tenazmente. O que também é muito natural…
“Os mercados já
estavam a dar como certo que Portugal não ia precisar de um segundo resgate. A
questão que se colocava nesta altura era saber se Portugal iria ter um programa
cautelar ou se, eventualmente, conseguiria uma ‘saída limpa’ da troika como conseguiu a Irlanda. Aliás, ainda
ontem, na conferência para a apresentação dos resultados da décima avaliação,
Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas fizeram questão de mostrar que as duas
portas ainda estavam abertas.
O problema é que a
seguir à conferência chegavam notícias contraditórias de Bruxelas, onde Mario
Draghi estava a ser ouvido na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do
Parlamento Europeu. A uma pergunta do eurodeputado do CDS-PP Diogo Feio, o
presidente do Banco Central Europeu veio dizer aquilo que poucos esperavam que
dissesse: que Portugal vai precisar de mais um programa quando o actual
programa de resgate terminar. Draghi não especificou os contornos desse novo
programa – que se supõe ser o tal cautelar –, mas a afirmação vem fechar as
portas para que Portugal possa ter a tal ‘saída limpa’, isto é, sem a ajuda de
terceiros.
As palavras de Mario
Draghi não deixam de ser um balde de água fria para o Governo e, a esta altura,
o próprio Diogo Feio já estará arrependido de ter feito a pergunta. Ao pôr de
lado o cenário de uma saída ‘à irlandesa’ de uma forma tão precoce, Mario
Draghi está a dar um mau sinal para os mercados. Ou seja, nem ele próprio
parece acreditar que daqui a seis meses os juros de Portugal já estejam a
níveis que permitam ao país um regresso tranquilo aos mercados. É uma daquelas
profecias que correm o risco de se auto-realizar, já que os nossos credores vão
questionar-se: "Se Dragui não acredita, porque haveríamos nós de
acreditar?". É caso para dizer que Draghi, no mínimo, falou fora de
tempo.”
1 comentário:
Não seria possível juntar o Pedro, o Paulo, o Mário, a Lagardere, o Barroso, a Merkel (e porque não não o Imóvel?), no sentido de falarem a mesma linguagem, entendível? Pois é, mas se assim fosse, os "mercados" não ganhavam o seu, como é legítimo.
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