segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Só pode estar a gozar connosco!

O merceeiro-mor das mercearias Pingo Doce deu, neste último fim-de-semana, uma entrevista ao DN e à TSF. Não li, e apenas ouvi alguns excertos. Mas continuo a interrogar-me do porquê de tanta entrevista e tanto protagonismo mediático. O homem, coitadinho, até já não é o mais rico de Portugal, já que foi ultrapassado por Américo Amorim que em tempos de crise, pasme-se, duplicou a fortuna.
Do pouco ou muito pouco que ouvi fixei três ou quatro coisas que se calhar, de tão absurdas, são o porquê das várias entrevistas para que é solicitado. Dá sempre jeito à Comunicação Social uma boa polémica.
Disse o merceeiro-mor que em Portugal a esperança de vida aumentou muito. Já se vive até mais tarde. Algumas pessoas vivem até aos noventa anos. Por isso, conclui o homem: Os que se reformarem com a idade actualmente prevista para a reforma, vão viver muitos anos à custa do Estado. Para ele setenta ou mais anos ainda é uma boa idade para trabalhar! Provavelmente o merceeiro Santos quer voltar ao tempo da escravatura, em que as pessoas trabalhavam até morrer. E porque não, aqueles que sendo velhos e já produzirem pouco, trabalharem por uma malga de caldo.
Como bom e fanático neoliberal que é, o merceeiro Santos acha que ainda há muito Estado em Portugal. Daí, propõe que sejam entregues às empresas privadas muitas das tarefas que ainda estão na esfera pública. E justifica: as empresas privadas são bem geridas, não têm greves nem corrupção! O quê? Quantas empresas privadas foram à falência num ano por má gestão? E greves? É verdade que, por medo da perda do posto de trabalho, há muito menos greves e grevistas no privado, mas também as há, e haverá, em sectores estratégicos. E quanto à corrupção? Bom, quanto à corrupção, o corruptor é sempre ou quase sempre do privado – fornecedores de bens e serviços, empreiteiros, sucateiros, etc – enquanto o corrupto, tanto é do privado, como do público.
Por tudo isto que ouvi, concluo: O homem só pode estar a gozar connosco! E é grave. Não esqueçamos que este parceiro não pode dar lições de portuguesismo, já que para fugir aos impostos, mudou a sedes das suas empresas para a Holanda.


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