O merceeiro-mor das mercearias Pingo Doce deu, neste
último fim-de-semana, uma entrevista ao DN e à TSF. Não li, e apenas ouvi
alguns excertos. Mas continuo a interrogar-me do porquê de tanta entrevista e
tanto protagonismo mediático. O homem, coitadinho, até já não é o mais rico de
Portugal, já que foi ultrapassado por Américo Amorim que em tempos de crise,
pasme-se, duplicou a fortuna.
Do pouco ou muito pouco que ouvi fixei três ou quatro
coisas que se calhar, de tão absurdas, são o porquê das várias entrevistas para
que é solicitado. Dá sempre jeito à Comunicação Social uma boa polémica.
Disse o merceeiro-mor que em Portugal a esperança de
vida aumentou muito. Já se vive até mais tarde. Algumas pessoas vivem até aos
noventa anos. Por isso, conclui o homem: Os que se reformarem com a idade
actualmente prevista para a reforma, vão viver muitos anos à custa do Estado.
Para ele setenta ou mais anos ainda é uma boa idade para trabalhar! Provavelmente
o merceeiro Santos quer voltar ao tempo da escravatura, em que as pessoas trabalhavam
até morrer. E porque não, aqueles que sendo velhos e já produzirem pouco,
trabalharem por uma malga de caldo.
Como bom e fanático neoliberal que é, o merceeiro
Santos acha que ainda há muito Estado em Portugal. Daí, propõe que sejam
entregues às empresas privadas muitas das tarefas que ainda estão na esfera
pública. E justifica: as empresas privadas são bem geridas, não têm greves nem
corrupção! O quê? Quantas empresas privadas foram à falência num ano por má
gestão? E greves? É verdade que, por medo da perda do posto de trabalho, há
muito menos greves e grevistas no privado, mas também as há, e haverá, em
sectores estratégicos. E quanto à corrupção? Bom, quanto à corrupção, o
corruptor é sempre ou quase sempre do privado – fornecedores de bens e
serviços, empreiteiros, sucateiros, etc – enquanto o corrupto, tanto é do
privado, como do público.
Por tudo isto que ouvi, concluo: O homem só pode estar
a gozar connosco! E é grave. Não esqueçamos que este parceiro não pode dar
lições de portuguesismo, já que para fugir aos impostos, mudou a sedes das suas
empresas para a Holanda.
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