A pedido do autor, republica-se o post de ontem, sob o mesmo tema
O (ex) tiro de
Draghi
Antunes Ferreira
Debaixo dos pés
levantam-se os trabalhos. O acerto deste ditado é total no que respeita ao tema
dum programa (chame-se-lhe o que se quiser, desde cautelar até segundo resgate)
que não se vê bem onde e quando parará. O (des)Governo começara a embandeirar
em arco e, de repente descobriu que metera água – e de que maneira.
Nestas coisas de batalha
naval nunca se sabe quando o adversário atira a matar. Normalmente, ele faz
movimentos exploratórios antes de dispara os canhões e/ou os torpedos de que
está munido. É uma chatice, mas delas está a vida cheia e o Mundo também. Mais
ou menos como os insubstituíveis que, naturalmente enchem os cemitérios.
Mas, não há nada melhor do
que realmente e as armadilhas da sorte estão sempre prontas a enterrar o
desgraçado que nelas cai. Tome-se como exemplo, o texto que se segue, publicado
na edição on-line do “Público” de
segunda-feira, que cada vez mais é um órgão da comunicação social que ganhou o
seu espaço e agora defende-o tenazmente. O que também é muito natural…
“Os mercados já estavam a dar como
certo que Portugal não ia precisar de um segundo resgate. A questão que se
colocava nesta altura era saber se Portugal iria ter um programa cautelar ou
se, eventualmente, conseguiria uma ‘saída limpa’ da troika como conseguiu a Irlanda. Aliás, ainda ontem, na
conferência para a apresentação dos resultados da décima avaliação, Maria Luís
Albuquerque e Paulo Portas fizeram questão de mostrar que as duas portas ainda
estavam abertas.
O problema é que a seguir à
conferência chegavam notícias contraditórias de Bruxelas, onde Mario Draghi
estava a ser ouvido na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do
Parlamento Europeu. A uma pergunta do eurodeputado do CDS-PP Diogo Feio, o
presidente do Banco Central Europeu veio dizer aquilo que poucos esperavam que
dissesse: que Portugal vai precisar de mais um programa quando o actual
programa de resgate terminar. Draghi não especificou os contornos desse novo
programa – que se supõe ser o tal cautelar –, mas a afirmação vem fechar as
portas para que Portugal possa ter a tal ‘saída limpa’, isto é, sem a ajuda de
terceiros.
As palavras de Mario Draghi não
deixam de ser um balde de água fria para o Governo e, a esta altura, o próprio
Diogo Feio já estará arrependido de ter feito a pergunta. Ao pôr de lado o
cenário de uma saída ‘à irlandesa’ de uma forma tão precoce, Mario Draghi está
a dar um mau sinal para os mercados. Ou seja, nem ele próprio parece acreditar
que daqui a seis meses os juros de Portugal já estejam a níveis que permitam ao
país um regresso tranquilo aos mercados. É uma daquelas profecias que correm o
risco de se auto-realizar, já que os nossos credores vão questionar-se:
"Se Dragui não acredita, porque haveríamos nós de acreditar?". É caso
para dizer que Draghi, no mínimo, falou fora de tempo.”
Entretanto,
e já ontem, terça-feira, Draghi afirmou que as autoridades portuguesas é que
decidirão sobre um novo programa, depois de na segunda-feira, ter garantido que
Portugal teria um programa após o actual resgate. "Cabe exclusivamente às
autoridades portuguesas decidir sobre um possível novo programa", disse o
presidente do Banco Central Europeu numa nota enviada às redacções, em resposta
às muitas questões levantadas sobre as suas afirmações de ontem no Parlamento
Europeu.
O
alarme “às baleeiras” regrediu: nenhum navio tinha ido ao fundo, muito menos em
vias de isso acontecer. O manda-chuva italiano do banco que manda nos euros,
entende que se houver um alerta ele resultará dos pulhas dos jornalistas que
distorcem sem dó nem piedade as afirmações que fez e das quais há registos que
testemunham que as… fez. A comunicação social usa e abusa da gente séria,
prática que se tornou recorrente.
Estamos
perante um facto raríssimo: contrariamente ao que geralmente acontece o BCE copia o (des)Governo português.
Este distinguiu-se ao ter de manhã uma qualquer opinião, à hora de almoço outra
contrária à matinal e ao jantar servir mais uma que não correspondia nem à
primeira, nem à segunda. A cópia feita por Mario Draghi é menos emocionante:
ontem dissera uma coisa, hoje, perante a gaffe veio informar que o que ontem
afirmara não era exactamente assim… Ou seja, copiar é uma coisa, plagiar é
outra; mutatis mutandis: plagiar é
uma coisa, copiar é outra.
Entrementes
o suposto primeiro-ministro, antevendo
mais um plausível chumbo dos malandros do Tribunal Constitucional, reafirmou
que o seu (des)Governo não tem um plano B para aplicar, mas revelou que a 10.ª
apreciação da trica, ops, da Troika correra bem (Portas e Maria Merkel Luís já
o tinham feito numa consonância quase perfeita), mas no caso de … a única forma
de cumprir o acordo com as três sinistras entidades era… aumentar os impostos,
o que atrasaria a alegada retoma da Economia.
Coelho
ou quer classificar os Portugueses, para além de maricas, completamente
obtusos, ou ameaça com mais impostos. É cada vez mais o vampiro que suga o
sangue (e a linfa) de nós. Estamos, na verdade, perante mais um passo no
caminho da chantagem que se vem
fazendo sobre os juízes do Palácio Ratton, ainda que tentando disfarçá-la de
forma canhestra, como o gato escondido mas com o rabo de fora. De Belém a São
Bento, passando por Bruxelas, não há quem tenha deixado em mãos alheias os
ataques ao Tribunal Constitucional. É fartar, vilanagem.
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