Prevenir ou remediar?
Por Antunes Ferreira
Aqui há uns anos, na década de 80, escrevi no “Diário de
Notícias” - de que então ainda era chefe adjunto da Redação – um texto que na
altura muitos consideraram um insulto aos bombeiros que denodadamente combatiam
os cíclicos incêndios florestais, bem como a outros cidadãos que também o
faziam: guardas republicanos, polícias, sapadores florestais e outros. Também
me referia aos meios utilizados pelos “soldados da paz” (designação calina que
nunca tentei, sequer, compreender), desde os autotanques até às mangueiras. Não
se falava ainda em meios aéreos, upa, upa. Anos atrás tinha havido uma
titubeante abordagem deles mas foi chão que deu uvas.
Já estava habituado a que me batessem, me insultassem, quiçá
tentassem “assassinar-me”; tinha, tenho e penso que terei costas largas. As
virgens ofendidas que já tinham perdido os hímenes, os moralistas ad hoc, os
velhos do Restelo, e outros “impolutos” vieram à estacada autopromovidos em
guardiões dos bons costumes, da solidariedade, da religião e da decência. Tinha
sido um desaforo quiçá um crime aquilo que escrevera.
E, afinal, o que motivara esses ataques? Uma frase muito
simples em que opinava que (passo a transcrever de memória) “Os fogos das
florestas, dos centros urbanos, da mais pequena aldeia não devem ser
combatidos, devem sim ser prevenidos!” Qualquer leitor bem-intencionado do
quotidiano centenário com sede na Avenida da Liberdade compreendera que a minha
intenção era repetir um alerta que todos os anos se fazia, aliás debalde.
Talvez os termos que utilizei pudessem dar azo a uma acusação de demência ou de
senilidade. Quando muito. E não era nem sou a Pitonisa de Delfos…
Uns bons anos depois, em 2006, estava como primeiro-ministro
António Guterres e fazendo parte do governo como ministro António Costa, veio a
ser lançado e repetido pelos órgãos oficiais, governo central, governadores
civis e autarquias um veemente apelo: tinha de prevenir-se os incêndios para
que eles não acontecessem ou no mínimo que fossem cada vez menos. Assim, na
prevenção estava o “segredo” da preservação do nosso património florestal,
completada realmente pelo combate ao aumento exponencial dos fogos nas matas.
Os anos foram-se sucedendo e antes do Verão os governos,
como sempre, apresentavam os meios humanos e materiais para se debelar os
incêndios que aconteceriam – como aconteceram. Mais homens, mais viaturas e
depois mais meios aéreos que já se tinham tornado imprescindíveis no combate às
chamas. Debalde; os incêndios continuavam a acontecer e de ano para ano
aumentava a superfície ardida.
Estamos em 2016 e a uma só voz o Presidente da República, o
primeiro-ministro e outros membros do governo, autarcas, autoridades, todos
repetiram a ideia da prevenção. "Esgotou-se
o tempo comprado há dez anos com a reforma da Proteção Civil", afirmou o
primeiro-ministro aos órgãos da comunicação social. A aposta na
prevenção e reorganização da floresta foi a mensagem dominante de António Costa
que, além da "mão criminosa", falou também em "mão
negligente" na origem dos incêndios. "A prevenção passa por ter uma
floresta devidamente estruturada e não uma ameaça constante para as
pessoas", sendo as "áreas protegidas onde deve existir excelência na
prevenção", reiterou.
Será que desta vez é mesmo a vez? Pelo andar da carruagem
(habitual) tenho as minhas dúvidas. Nós, os portugueses, somos assim: deitados
à sombra de um pinheiro bravo ou manso vamos deixando correr “as coisas” Só
quando somos espicaçados é que vamos a correr tirar o pai da forca. Oxalá desta
vez seja mesmo a vez..
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