Na morte de um piloto
Por Antunes Ferreira
Nunca gostei do chamado desporto automóvel; aliás tenho más
relações com a viatura. Não gosto de conduzir e só faço por não ter rendimentos
que me permitissem ter um motorista. Tirei a carta (há quem pergunte: a
quem?...) no terceiro exame e ainda hoje penso que o saudoso pai deve ter pago
umas “luvas” ao examinador. Arrumar o carro é um tormento porque para isso é
preciso utilizar a marcha atrás – abominável!
Quando menino decorria um duelo entre os pilotos Juan Fangio
e Stirling Moss ao longo dos circuitos que então existiam e que durou anos. Uma
cunha do então presidente do ACP obrigou-me a dar uma volta ao circuito de
Monsanto no carro de corridas pilotado pelo inglês. Terminada a “façanha” júri
que nunca mais me meteria em tais
assados. E cumpri. Ainda me tentaram no Grande Prémio de Macau já lá vão muitos
anos. Claro que apesar da insistência dei a maior nega da minha vida.
Em 1994 faleceu Ayrton Senna no circuito de Ímola vitima de
um desastre passado em directo nas televisões e que felizmente não vi. A BBC
considerou-o o maior piloto do Mundo. Mas esse qualificativo não impediu o seu
doloroso fim. A morte do tricampeão do Mundo rodeou-se de enorme controvérsia e
penso que até hoje as versões mais díspares continuam a guerrear. Isso ainda
mais acentuou o verdadeiro ódio que voto a circuitos, rallies e correlativos.
Pois bem ontem morreu mais um piloto desta feita de moto,
Luís Salom, de 24 anos, ou seja na flor da vida. O acidente fatal que o vitimou
ocorreu nos treinos livres do Grande Prémio da Catalunha Moto2. De novo não o
presenciei nos ecrãs televisivos o que não admira porque não vejo as
transmissões. Porém de acordo com o que os órgãos da comunicação que depois
consultei ter-lhe-iam sido prestados todos os cuidados médicos que
desgraçadamente não resultaram. Ainda foi transportado para o Hospital Central
da Catalunha onde ainda chegou a ser operado. Debalde.
Se como comecei por dizer nunca gostei do chamado desporto
automóvel essa rejeição transformou-se num ódio visceral como também atrás escrevi.
Vidas ceifadas aos 24 anos há muitas – há muitíssimas. Se pensarmos no que
acontece neste Mundo louco nem é bom ver as estatísticas. E mesmo antes dessa
idade, mesmo durante o parto, nem vale a pena ler, ouvir e ler as desgraçadas
estatísticas.
Porém Luís Salom corria nas provas de motos porque o queria
fazer, porque lhe dava prazer, porque lhe levantava o ego – as razões serão
muitas mais; e tinha a consciência de que a cada prova ariscava a vida. Não
entrei no seu interior físico, muito menos no psíquico; mas tenho quase a
certeza de que devia ser assim. Bem diz o povo que só quem corre por gosto não
se cansa.
Porém o piloto espanhol não se cansou – morreu.
1 comentário:
O Henrique diz que não gosta de corridas automóveis. Melhor, não gosta de conduzir automóveis, ponto. Também não gosto de touradas, ponto, ainda que razões diversas.
Talvez porque vi, anos a fio, correr os grandes desse tempo (em automóveis e motos), nos anos 1950, em Vila Real, gosto do desporto. Ainda que sejam de lamentar as mortes que ocorrem, os corredores conhecem os perigos da profissão. E, em boa verdade, hoje em dia há muito menos acidentes mortais do que há anos.
Já as touradas, por razões evidentes, deveriam começar por ser proibidas de transmissão via tv.
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