Quase um conto de Natal
Por Antunes Ferreira
Pelo sim, pelo não, quero deixar aqui uma decisão
irrevogável: este comentário é o último que escrevo… antes do Natal. Claro que
estes irrevogáveis costumam ser a prazo. Do tipo cada vez mais utilizado pelas
crianças: pai, ou dás-me uma playStaiton VR ou chumbo no exame do sexto ano; é
uma decisão irrevogável. Há quem lhe chame chantagem, mas isso é outra estória
porque esta é pré-natalícia e a outra (qual?) é uma estória cor de burro quando foge.
O dito Natal já está ali à esquina, com o trenó de Santa Claus
mal estacionado, pois as renas entraram em greve (o que deixou muito incomodado
o dr. Paulo Portas e outros) pois querem seguro de circulação celestial e o bom
velhinho entende que nem pensar. É óbvio que para estas cenas existe a
concertação social, mas há sempre desmancha-prazeres que estragam a concertação; quanto à social foi chão que
deu uvas.
Quando comecei a escrever esta malfadada prosa tive uma
esperança: o boss não vai deixar passar esta pepineira; mas, tanto quanto saiba
ela gorou-se. Inicialmente pretendia fazer um conto próprio da época com um
título lindo O Suave Milagre, mas um
amigo avisou-me: deixa-te de tretas, o Eça de Queirós é menino para te arranjar
um processo por plágio. Face à advertência prometi a mim próprio que de
processos e insubstituíveis estão os cemitérios cheios exceptuando, obviamente,
os fornos crematórios… Mas, não me fiquei por aqui.
Porém e dado que tomara uma decisão irrevogável, desisti,
por fas ou por nefas do título que me parecia muito suave. No entanto persisti
denodadamente na escrita de um conto de Natal. Deixem-me que diga que o
propósito é digno, apropriado e sincero. Mas as adversativas são o diabo, como
escreveu o meu Amigo Francisco Seixas da Costa. No entanto não é um qualquer mas, todavia, contudo que ladre aos tornozelos de escriba; cão que ladra não
morde. Mas, sensata e avisadamente, não me consta que exista um qualquer adágio
que diga que cão que morde não ladra.
Nos últimos minutos dou por mim a pensar que fazer um conto
de Natal é um bico-de-obra. Por múltiplas razões, a saber:
1)
Desde que S. Francisco de Assis, na cidade
italiana de Greccio em 1223 resolveu fazer o primeiro nunca mais eles pararam
de aparecer. São os cogumelos… Das mais diversas formas e feitios, nos mais
diversos locais tornou-se a imagem do nascimento do Menino; donde não há
qualquer possibilidade de ineditismo;
2)
Tal como os há dos mais diferentes materiais,
desde o tradicional barro ao moderno alumínio desde a lusitana cortiça até ao
moderníssimo poliisocianurato, também existem estórias,
canções, músicas e… contos de Natal;
3)
Dizia o Vasco Santana no Jardim Zoológico para um guarda dos
animais “chapéus há muitos, seu palerma”;
parafraseando o estudante (?) de Medicina Vasco Leitão que ele interpretava na
“Canção de Lisboa”, o primeiro filme sonoro em Português, em 1933, pode-se
também afirmar que “contos de Natal há
muito” (ignorando o seu palerma),
e creio que já chega.
Posto tudo em equação confesso, humílimo e contrito, que não
sei quais são as premissas e muito menos a conclusão desta equação confusa. Mas
que raio de ideia me foi sair escassos dias antes do 24/25. Por isso decido não
fazer qualquer conto de Natal e fico-me pelo quase.
1 comentário:
HenriquAmigo,
Através do nosso amigo comum aqui da Zorra, venho dizer-te que não sei que te diga sobre este quase conto de natal...é quase como o Era não Era que Andava Lavrando na Serra...
Um abraço a ambos os dois e lá mais perto do Natal, falaremos!
Janita
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