Mais um textículo do Henrique Antunes Ferreira, que continua pelas Índias
ÁGUA DE COCO
ÁGUA DE COCO
A sesta das zebras
Por Antunes Ferreira
Não é de agora a constatação; tal como no calino anúncio publicitário,
já vem de longe. De princípio tive a sensação de que alguma coisa não batia
certo – porque ainda não entendia o que passava no meu cérebro – e, depois,
fez-se luz. Se o trânsito era caótico, um cidadão vindo de outras latitudes,
apenas tinha dois caminhos a tomar: entendê-lo ou voltar tão rapidamente quanto
lhe fosse possível pra o local de origem. Optei pelo primeiro. Fiquei.
Antes do mais tinha de guardar na massa cinzenta que o trânsito era pelo
lado como o inglês, o que na primeira vez que chegara ao Reino Unido me valeu a
oportunidade de levar com um autocarro ainda por cima de dois andares. Safei-me
por uma unha negra e quando me preparava para invectivar, à boa e vernácula
maneira lusitana o motorista do monstro, uma alma caridosa me explicou que lá
era preciso olhar para a direita de onde vinha o mastodonte motorizado e só
depois atravessar olhando então para a esquerda.
Mas era melhor cumprir as regras e alcançar o outro lado da rua pelas
zebras pintadas no pavimento; as zebras eram as passagens dos peões. A
experiência que podia ter sido dolorosa levou-me a que nos países com o tráfego
à moda inglesa passasse a utiliza-lo. Como bom Português, habituado ao
toca-e-foge das ruas, e ao alegre não cumprimento do Código da Estrada, a
rigidez dos bifes e correlativos era um exagero. Daí que isso resultasse numa
mistura explosiva: o trânsito incongruente e os desastres que originava. Ser
Português é ser infractor. Nisso somo especialistas…
Mas, afinal o que são as zebras? Aqueles cavalos de pijama às riscas
também o são, mas aqui falo das passadeiras que atrás mencionei. Onde os peões
se sentem seguros quando as utilizam para passar para o lado de lá. Tem dias,
pois há condutores que as ignoram pregando cagaços aos pedestres e por vezes
mandando-os para o hospital e até para o cemitério mais próxima da residência
dele. Porém, na generalidade, as zebras não se encavalitam. Na especialidade é
que reside o busílis da questão. Não
falo de São Bento, apesar da terminologia ser semelhante. No caso presente e no
Parlamento há os Passos Perdidos. Oxalá os houvesse, mas com outra finalidade.
Já estou daqui a ver os escassos leitores a perguntar a que vem este
arrazoado? No escrito fala-se ou não de Goa? Ou
por outro lado o que tem o cu com calças? Tem sim senhor. Tome-se o caso
da capital Pangim – é só um exemplo, na especialidade porque na generalidade
são outras quinhentas mil rupias – onde há algumas, poucas, zebras, aliás muito desbotadas. E desde já um
conselho: se aqui vierem não passem nelas!
No meio de um trânsito mais do que caótico ninguém as respeita, muito
pelo contrário são verdadeiros alvos para os condutores dos veículos
motorizados, dando até a impressão que não são listadas mas sim concêntricas.
Já participei em tráfegos citadinos e rurais e a ideia que continuo a ter é que
as zebras de aqui seguem a norma geral: são sucêgadas. Isto porque Goa também o
é, o que em devido tempo escrevi sem peias.
Para completar o panorama há que dizer que polícias de trânsito e
escassos sinaleiros afinam pela mesma medida. Ou seja, assistem, impávidos (e
impávidas pois também as há…) e serenos/as aos atropelos das regras (se é que
elas existem há…) quotidianos, diria até permanentes. Por isso repito o aviso
se quiser atravessar por exemplo a 18 de Junho) que é a principal, treine
afincada, prudente e atempadamente nos 3.000 metros obstáculos, nas fintas, nos
dribles e nos 100 metros.
E se chegar incólume ao outro lado da rua não se admire: é mais fácil a
correr por entre automóveis, carrinhas, furgões, camionetas, motorizadas,
bicicletas e peões despreocupas do que tentar utilizar as zebras desbotadas que
são poucas, mas que também são verdadeiras armadilhas. Enfim, estas zebras fazem a sesta 24 horas por dia
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