Mais um contributo do HAF, que continua por Goa a correr de médicos para as farmácias
ÁGUA DE COCO
Pobre Sporting
Antunes Ferreira
Perto do mercado de Pangim, nos prédios que o rodeiam há consultórios
médicos a dar por um pau. Católicos (que vão diminuindo, acompanhando o se
passa com a população cristã) hindus das mais diversas origens, muitos destes
sendo goeses, chineses, tibetanos, muçulmanos; anestesistas, ortopedistas,
cirurgiões de todas as especialidades, cardiologistas, oftalmologistas,
otorrinos. Descobri nestas minhas andanças sanitárias uns quantos esculápios
judeus goeses. Por vezes também é possível encontrar magos, curandeiros,
adivinhos, endireitas, e muitos mais falcatrueiros que teimam em fingir que são
melhores do que os clínicos verdadeiros. E em tentar impingir-nos os seus
“beneméritos serviços”
Em todas as sociedades desde o Norte ao
Sul, do Oeste ao Leste podem-se descobrir figurões deste quilate, vi-os na
China, na Venezuela, em Cachemira, na Austrália, nos gelos pré polares da
Lapónia e do Canadá, enfim, por toda a parte em que tenho posto o pé, ou,
melhor no plural. Deixem-me que vos conte uma peculiaridade local. Quando se
pergunta a um cidadão mais ou menos tisnado nascido nestas latitudes o que ele
é a resposta é imediata sou goês. E
perante a então os outros de tonalidades iguais, de imediato salta a afirmação:
esses são indianos… No mínimo,
curioso.
Foi num deles que fui encontrar a Dr.ª
Flora Miranda que, como já contei, é dermatologista e professora universitária.
Depois da consulta o Zito Menezes, a Raquel e eu fomos a uma farmácia para
comprar os medicamentos receitados. Estrategicamente situada no rés-do-chão do
edifício existe uma. Dois senhores e uma senhora atendem ao balcão os
pacientes. O estabelecimento nem parece ser farmacêutico, o balcão de
atendimento dá directamente para a rua, aliás prática quase generalizada.
Excepção para a Farmácia Salcete, na 18 de
Junho, a rua principal da capital um tanto à maneira duma Rua Augusta, (onde se
encontram as principais lojas, incluindo as de marcas), obviamente muito menor,
mas com o trânsito diabólico que vigora em Goa – e no resto da Índia. Na minha
rua, que já vos disse onde fica, existe outra, modernaça, mas em contrapartida com
muitas faltas de mezinhas. Porém com donos simpatiquíssimos, dando logo a
entender que são goeses, até nos pedidos de desculpas pelas carências nas
prateleiras.
Porém, já me alonguei demasiado; volte-se
então à farmácia já citada no prédio onde abundam os consultórios médicos. Quem
nos atende fala um português fluente, obviamente como sotaque local. Mas o
outro farmacêutico e a senhora idem também se expressam na língua de Camões e
de Pessoa, ou seja a nossa. O Dr. Zito Menezes que os conhece bem aponta o
primeiro e diz, sorridente, este é dos nossos. Zito é sportinguista ferrenho,
eu sou-o também, mas mais moderado e portanto o farmacêutico também é leão, o
que confirma de modo assaz tímido.
Embora havendo quórum não se realizou uma
assembleia-geral verde e branca; os dois restantes elementos da farmácia não se
pronunciaram sobre a cor clubista e a minha esposa é… lampiona. Lá se compraram os medicamentos e
despedimo-nos dos camaradas com saudações leoninas. Se o famigerado Bruno ali
estivesse – o que felizmente não acontecia – ficaria de cara à banda ao ver
essa manifestação sportinguista.
Já conhecia a famosa Confeitaria Italiana verdadeira demonstração
viva do sportinguismo; na parede está pintado o emblema do Sporting Clube de
Goa, igualzinho ao nosso, só que com um G em vez do P. De confeitos, bolos,
bolachas não tem nada; já de vinhos e outros álcoois não falta nada. Por
decreto do Bento Miguel, seu proprietário ali só se pode falar do
verde-e-branco. Ai de quem o fizer. A multa não está afixada na porta, mas é
melhor ter cuidado. E logo me salta à memória a Maria José Valério com o cabelo
pintado de verde: “Viva o Sporting! Quer se possa ou não se possa, a vitória
será nossa…”
Entretanto, no Dragon
aconteceu a desgraça dos 3-0, seguido por outros desastres, qual deles pior do
eu o antecessor: nem fui à Confeitaria, mas contaram-me
depois que parecia um funeral. Não gosto deles; o último a que irei, será o meu
e muito obrigado…
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