Inqualificável

O jornal Público Tem às Sextas-feiras um suplemento com o nome de Inimigo Público. Pretende ser um jornal satírico, muito irreverente e crítico. Na sua última página, há sempre um cartoon da autoria de António Jorge Gonçalves que pretende ser uma crítica a um assunto actual.

No último número pretendeu o "inimigo público" criticar o Papa Bento XVI, pelo facto de, enquanto Cardeal da Cúria Romana com altas responsabilidades, ter encoberto, ou ter tratado com alguma ligeireza, alguns casos de pedofilia em que estariam envolvidos padres católicos. É criticável e até pode ser alvo de sátira aquele comportamento do Cardeal Ratzinger, mas há limites. O cartoon a que me refiro tem Bento XVI a carregar uma cruz cujas duas tábuas são: uma um pénis e a outra dois testículos.

Não alinho em falsos moralismos, e sei bem que Portugal é um estado laico, em que os membros do clero não têm, em caso algum, tratamento especial nem estão imunes a críticas. Mas tal cartoon fere a consciência religiosa de muita gente. O Papa, para lá de líder supremo da Igreja Católica, é o Chefe de Estado de um estado soberano. Aquele cartoon seria sempre um cartoon boçal, rasteiro e a roçar intelectualmente o obsceno, mesmo que dirigido a outra figura. Tratando-se do chefe de uma das maiores confissões religiosas do mundo é, inqualificável.