Jornalistas na prisão
Por Antunes Ferreira
Entre as regras fundamentais da Liberdade e da
Democracia para mim avulta a Liberdade de Informação. Mal se entra nas
instituições onde se ensina – ou se tenta ensinar… - o Direito, uma das
primeiras bases que nos são transmitidas diz respeito à avaliação de quem quer
que seja, em especial de quem cometeu qualquer delito: ninguém é bom juiz em causa própria.
Os actores principais das peças jurídicas
desempenhadas sobretudo nos tribunais são natural e obviamente os juristas,
desde os juízes até aos advogados. Mas para além destes há toda uma panóplia de
juristas entre os quais avultam os professores, os notários e os consultores.
Poe, portanto, falar-se de corporativismo jurídico, tal como de corporativismo
médico, corporativismo de trabalhadores da Função Pública e outros.
Por isso o que hoje me traz aqui é o corporativismo
dos jornalistas; e pelas mais dolorosas maneiras: as prisões, as torturas e as
mortes. Existe uma organização aceite pela ONU que e o Comité para a Protecção
dos Jornalistas (CPJ) que desde 1990 começou a fazer e a manter registos tão
detalhados quanto possível sobre os jornalistas presos em todo o Mundo: Foram
agora conhecidos os números recolhidos pelo último censo que para o efeito é
realizado todos os anos: no dia 1 de Dezembro deste ano encontravam-se presos 259 jornalistas, o que, pode ser comparado com 199 enclausurados em todo o Mundo
em 2015. O recorde global anterior fora 232
jornalistas na prisão em 2012.
Uma análise desta situação e sobretudo do aumento de
presos leva imediatamente àquilo que Ancara, mais precisamente o presidente
Recep Tayyip Erdoğan um golpe de estado (?) que resultou num movimento caótico
a capital do Egipto e noutras cidades do país. Muito oboa gente asseverou que
fora um golpe de teatro montado pelo próprio regime, destinado a consolidar o
reforço dos poderes do presidente “votados e aprovados” por unanimidade por um
parlamento que é a imagem do próprio Erdoğan.
Os milhares de presos num leque que abarcou desde
“militares” (supostamente) “revoltosos” até professores universitários,
englobava obviamente jornalistas, todos acusados de “práticas subversivas”.
Curiosamente este “motivo” tem sido tão usado e repetido que já se tornou calino.
Eu próprio fui detido três vezes pela seráfica e benéfica Polícia Internacional
e de Defesa do Estado, uma delas, já sendo jornalista, por tal motivo. Mas
nunca fui preso, apenas sofri detenção. Da primeira e porque ainda não era
totalmente subversivo (pois tinha 18 anos e nunca me tinham apanhado nessas
alhadas) e muto menos comunista (quem sabe se?...) apenas me deram um enxurro de
porrada partindo-me duas “costeletas” (flutuantes). Nada mau…
Só na Turquia há 81 jornalistas presos, número a que
se segue o da China, com 38, o que, parecendo mal dizê-lo, há que referir que
melhorou, ou seja decaiu. Quando se pensa que os calabouços de Beijing devem
estar atafulhados de jornalistas (os chineses são apenas um bilião e trezentos
e cinquenta milhões) faz-se o cálculo por estimativa e descobre-se o exagero do
resultado que se havia alcançado. Ter-se-á de concluir que a China não é tão má
como a pintam – de amarelo…
Três países ocupam o “quadro de honra dos jornalistas
engaiolados” o Egipto, a Eritreia e a Etiópia, todos representantes do
continente africano que neste “brilhante contexto” não poderiam ficar de fora,
mesmo que fosse à porta de entrada… Peço que me desculpem a ironia espúria.
Mas, para os que me conhece, sabem que não consigo uma bacorada…
Não trouxe aqui à estacada os jornalistas (e, quero
acentuar, as jornalistas que me
permiti englobar na generalidade da palavra jornalista) que foram
miseravelmente atacados, feridos mais ou menos gravemente e
mortos/assassinados, perante os quais não posso fazer mais do que guardá-los na
minha memória e homenageá-los. Andei em três guerras, uma de canhota as mãos,
infelizmente, as outras duas como jornalista e tenho de o confessar, tive medo,
tive mesmo muito medo. Mas tinha de reportar. Porém sabia, sei e saberei que
não nasci para roi.
Mais jornalistas estão presos em todo o mundo do que
em qualquer outro momento desde que o Comitê para a Proteção dos Jornalistas
(CPJ) começou a manter registros detalhados em 1990, sendo que a Turquia tem
quase um terço do total global, informou o CPJ em seu censo anual de
jornalistas presos em todo o mundo.
Em meio à contínua repressão que se acelerou depois de
uma fracassada tentativa de golpe em julho, a Turquia está encarcerando pelo
menos 81 jornalistas em relação ao seu trabalho, o maior número em um único
país, de acordo com registros do CPJ. As autoridades turcas acusaram cada um
desses 81 jornalistas - e dezenas de outros cuja prisão o CPJ não conseguiu vincular
diretamente ao exrecicío da profissão - de atividades contra a segurança do
Estado.
O total global de 259
jornalistas aprisionados em 1º de dezembro de 2016, comparado com 199 atrás
das grades em todo o mundo em 2015. O recorde global anterior
foi 232 jornalistas na prisão em 2012.
Oficiais de segurança à paisana
confrontam uma jornalista do lado de fora de um tribunal que julga um
proeminente advogado de direitos humanos em Pequim, em 22 de dezembro de 2015.
Jornalistas que documentam abusos de direitos humanos ou protestos correm risco
de prisão na China. (AFP / Greg Baker)
Depois da Turquia, os piores infratores em 2016 são a
China, que havia encarcerado a maioria dos jornalistas em todo o mundo nos dois
anos anteriores; Egito, onde o total aumentou ligeiramente a partir de 2015;
Eritréia, onde os jornalistas há muito desapareceram sem qualquer processo
legal no sigiloso sistema de detenção do país; e a Etiópia, onde a repressão de
longa data de jornalistas independentes se intensificou nos últimos meses.
Este ano é a primeira vez desde 2008 que o Irã não
está entre os cinco piores carcereiros, já que muitos dos condenados na
repressão pós-eleitoral de 2009 cumpriram suas penas e foram libertados. O CPJ
identificou oito jornalistas em prisões iranianas, em comparação com 19 de um
ano atrás. No entanto, Teerã ainda está enviando jornalistas à cadeia, incluindo
o cineasta Keyvan Karimi, que está cumprindo pena de um ano de prisão e 223
chicotadas, em relação ao seu documentário sobre pichações políticas,
"Escrevendo sobre a Cidade".
Na Turquia, a liberdade de imprensa já estava sitiada
no início de 2016, com as autoridades prendendo, assediando e expulsando
jornalistas e fechando ou tomando posse de meios de comunicação noticiosos; a
taxa sem precedentes de violações da liberdade de imprensa estimulou o CPJ a
distribuir um diário especial, "Turkey Crackdown
Chronicle" [Crônica da Repressão na Turquia], em março. O ritmo
das prisões eclodiu depois que uma tentativa caótica falhou em 15 de julho de
2016 para derrubar o presidente Recep Tayyip Erdoğan em um golpe militar.
Depois da tentativa de derrubada - que o governo atribuiu a alegada organização
terrorista liderada pelo clérigo exilado Fethullah Gülen - o governo
concedeu-se poderes de emergência e, num período de dois meses, deteve, pelo menos brevemente, mais de 100
jornalistas e fechou pelo menos 100 meios de comunicação noticiosos.
Entre os que estão atrás das grades na Turquia está
Mehmet Baransu, ex-colunista e correspondente do diário Taraf, que
informou extensivamente sobre uma tentativa de golpe anterior. É acusado, entre
outros crimes, de obter documentos secretos, insultar o presidente e ser membro
de uma organização terrorista. O mais recente conjunto de acusações contra ele
soma a uma pena máxima de 75 anos de prisão. A esposa do jornalista disse ao
CPJ que o marido foi deliberadamente mantido sem comer, em condições sujas,
abusado verbalmente e maltratado ao ser transferido da prisão para vários
tribunais para audiências.
Um desenho animado em apoio a Musa Kart,
cartunista do jornal turco Cumhuriyet, preso por atividades contra a segurança
nacional. (Dr. Jack & Curtis)
Também preso na Turquia está Kadri Gürsel, colunista e
consultor editorial do jornal opositor Cumhuriyet, que foi detido
junto com pelo menos 11 outros durante uma batida policial na redação do jornal
em Istambul em 31 de outubro, e acusado de produzir propaganda para dois grupos
rivais, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o que o governo chama
de Organização Terrorista Fethullah Gülen (FETÖ). A investigação do Cumhuriyet foi
selada por ordem judicial, de modo que os advogados de defesa e o público têm
acesso limitado às provas do Estado.
As autoridades turcas também submeteram jornalistas
curdos a uma nova rodada de prisões e julgamentos, além de fechar meios de
comunicação noticiosos pró-curdos. Zehra Doğan - jornalista da Jin News Agency
(JİNHA), constituída inteiramente por mulheres - foi presa no sudeste da
Turquia no local da guerra urbana entre as forças de segurança turcas e os
combatentes étnicos-curdos. As provas do Estado consistem em testemunhos de
pessoas dizendo que viram Doğan conversando com pessoas na rua e tirando fotos,
de acordo com registros de interrogatório e um indiciamento que o CPJ revisou.
O CPJ examinou os casos de outros 67 jornalistas
presos na Turquia no final de 2016, mas não conseguiu confirmar um vínculo
direto com seu trabalho. Em muitos casos, documentos judiciais foram selados e,
em outros casos, o CPJ não conseguiu identificar ou entrar em contato com
advogados do acusado - ou os advogados não estavam dispostos a discutir o caso
de seus clientes com o CPJ, um reflexo da atmosfera tensa na Turquia. Mais de
125 mil pessoas, incluindo funcionários públicos, como policiais,
professores e soldados, foram demitidas ou suspensas e cerca de 40 mil pessoas foram
presas desde a tentativa de golpe, segundo informações internacionais.
Khaled al-Balshy, membro da diretoria do
Sindicato dos Jornalistas Egípcios, junta-se a protestos contra uma operação de
segurança na sede do órgão, em maio de 2016. Em meio à repressão no Egito, 25
jornalistas estão atrás das grades. (AFP / Mohamed el-Shahed)
Na China, que consistentemente se classifica entre os piores
carcereiros de jornalistas do mundo, 38 jornalistas estavam na prisão em 1º de dezembro.
Nas últimas semanas, Pequim intensificou sua repressão a jornalistas que cobrem
protestos e abusos de direitos humanos. Huang Qi, editor do site de
notícias 64 Tianwang, foi preso em novembro; ele já havia passado
dois longos períodos na prisão por seu trabalho documentando violações de
direitos humanos. Depois que 64 Tianwang, informou que a polícia
prendeu manifestantes que protestavam pela morte de um peticionário que
disseram ter sido espancado por partidários do governo, Huang disse à Radio Free Asia que tais denúncias
"poderiam lhe causar problemas".
Os protestos são também uma zona proibida para jornalistas
no Egito, onde o CPJ identificou 25 na cadeia. Os prisioneiros incluem Mahmoud
Abou Zeid, fotojornalista freelance conhecido como Shawkan, que está atrás das
grades sem condenação desde 2013, quando foi preso fotografando a violenta
dispersão de um protesto em apoio ao destituído presidente Mohamed Morsi. Ele é
acusado de reunião ilegal e assassinato, em um processo que envolve mais de 700
réus. O CPJ homenageou Shawkan com o Prêmio Internacional de Liberdade de
Imprensa 2016; em um vídeo preparado para a cerimônia de gala de premiação, sua mãe mostrou como ela
prepara suas refeições todas as semanas, escondendo frutas frescas em baixo da
comida, porque é proibido levar para a prisão de Tora onde ele é mantido.
Shawkan também está com Hepatite C.
Globalmente, foram relatados problemas de saúde em
mais de 20% dos jornalistas no censo do CPJ sobre prisões.
Na região das Américas, o CPJ identificou quatro
jornalistas na prisão em 1º de dezembro, em comparação com nenhum jornalista no
ano anterior.
Um manifestante cruza seus pulsos em um
gesto de solidariedade na Etiópia, em outubro. As autoridades encarceraram
jornalistas que cobriam um estado de emergência declarado depois dos tumultos.
(AFP / Zacharias Abubeker)
Outras tendências e detalhes que surgiram na pesquisa
do CPJ incluem:
·
Cerca de três quartos dos encarcerados globalmente
enfrentam acusações de atividades contra a segurança nacional. Desde 2001, os
governos têm se aproveitado das leis de segurança nacional para silenciar
jornalistas críticos que cobrem questões confidenciais como insurreições,
oposição política e minorias étnicas.
·
Os cinco piores carcereiros são responsáveis por 68%
de jornalistas presos em todo o mundo.
·
Cerca de 20 por cento dos jornalistas na prisão são
freelancers. A percentagem tem diminuído desde 2011.
·
A grande maioria dos jornalistas aprisionados
trabalhou on-line e/ou na imprensa escrita. Cerca de 14 por cento trabalharam
em meios de comunicação áudio visuais.
·
Etiópia, Panamá, Cingapura e Rússia estavam todos
detendo jornalistas que eram estrangeiros. Pelo menos dois jornalistas, detidos
pela Eritreia e pela Venezuela, têm cidadania dupla.
·
Vinte dos 259 jornalistas em todo o mundo são do sexo
feminino.
·
Países que prenderam jornalistas em 2016, que não
estavam listados na pesquisa do CPJ em 2015, foram Cuba, Cazaquistão, Nigéria,
Panamá, Cingapura, Tunísia, Venezuela e Zâmbia. Além disso, Montenegro apareceu
no censo de 2016 quando o CPJ tomou conhecimento pela primeira vez de um
jornalista preso em 2015.
O censo da prisão menciona apenas jornalistas sob
custódia do governo e não inclui aqueles que desapareceram ou são mantidos em
cativeiro por grupos não estatais.
(Esses casos - como o do jornalista britânico
freelance John Cantlie, detido pelo grupo militante Estado Islâmico - são classificados como "desaparecidos" ou "seqüestrados".) O CPJ calcula que
pelo menos 40 jornalistas estão desaparecidos ou sequestrados no Oriente Médio
e no Norte da África.
O CPJ define jornalistas como pessoas que cobrem
notícias ou comentam sobre assuntos públicos na mídia, incluindo matéria
impressa, fotografias, rádio, televisão e online. No seu censo anual de presos,
o CPJ inclui apenas os jornalistas que tenha confirmado terem sido presos em
relação ao seu trabalho.
O CPJ acredita que os jornalistas não devem ser presos
por fazerem seu trabalho. No ano passado, a advocacy do CPJ levou à libertação
antecipada de pelo menos 50 jornalistas presos em todo o mundo.
A lista do CPJ é um resumo dos encarcerados às 12:01
da manhã de 1º de dezembro de 2016. Não inclui os muitos jornalistas presos e
libertados ao longo do ano; o relato desses casos pode ser encontrado em www.cpj.org. Os jornalistas continuam na lista do CPJ até que a
organização determine com razoável certeza que eles foram libertados ou
morreram enquanto presos.
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