– MEMÓRIA DE ELEFANTE –
Gil Monteiro*
Desde pequenito, pensava que a memória do elefante era má,
muito má. Se o animal era um brutamontes as suas faculdades intelectuais seriam
mais que primárias. Por só conhecer os animais dos circos e jardins zoológicos,
e as selvas e as savanas, pelas revistas de bandas desenhadas, e poucos livros
de texto; a dúvida foi continuando. Só quando levei os sobrinhos, acompanhados
pelo pai (obrigatório) a uma ida a uma matiné tardia de dia 15 de agosto em
Lagos, e as pessoas estarem aos magotes na Praia Grandes, apesar de ser nos
anos setenta seis passados, ainda de garrafão de vinho e condessinha (!);
dentro do circo não havia mais de vinte espectadores. Tive o privilégio de
assento na primeira fila de cadeiras! No número dos elefantes, os tratadores
aproveitaram para “ensinarem” duas crias bebés. Ó crueldade! Com aguilhadas de
anéis de aço farpeavam as pernas para as colocarem em bancos altos! E não é que
o faziam mesmo, com tanta docilidade e ternura. Espertos?! Aprenderam...
Anos mais tarde, numa marcada visita ao parque da Gorongosa,
tendo que regressar a Portugal breve, realizei-a num carro particular,
acompanhado por um guia oficial. Pasmei: ver bando de leões em recreações ao
lado de gazelas divertidas! Pode significar que os seres selvagens são mais
humanos que os humanos, só atacam quando se têm de alimentar. Mas, tive em
seguida um susto de respeito de encontrar um enorme elefante solitário! Ia num
pequeno vale parecendo ocupar a estrada! Uma trombada e o carro ID ficariam em
fanicos!
A sorte foi fazer pouco barulho e passar incólume! O vento
contrário ajudou. Têm uma audição apurada, e não é só pelas orelhas...
São vedores de água nos sítios áridos. Conseguem detetar as
camadas freáticas a metros de profundidade! Será pelo apurado olfato? E escavar
os poços de água límpida e fresca com a tromba?! Enfim...
Já viram que nem as crias são atacadas pelos carnívoros?
Um casal de reformados nórdicos resolveu montar uma cabana na
selva africana, infestada de elefantes e outros animais, para gozo dos tempos
terrenos. Foi fácil montar uma casota de pau a pique, pequena horta, e vedações
de ramos. Passaram a respeitar e a serem respeitados muitos e variados bichos,
começaram a dedicar-se ao bem-estar dos elefantes: pomadas param as feridas,
amamentação dos filhotes, libertação da prisão em árvores, etc.
(Vi em vídeo) – No dia da morte do benfeitor, cerca de 30 elefantes
rodearam a “vivenda”, prestando homenagem ao falecido durante uma hora, em
silêncio!...
Porto, 8 de junho de 2016
*José Gil Correia monteiro
jose.gcmonteiro@gmail.com
2 comentários:
Excelente texto. Gosto muito da forma simples e algo humorística, como escreve, e descreve, as diversas situações dos vários textos que já tive o prazer de aqui ler.
Poderia retirar, deste, a ilação de que: os seres aparentemente «abrutalhados», podem ser donos de uma doçura e sensibilidade únicas...
Parabéns e adelante.
:)
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