ONU - uma votação complicada
Por Antunes Ferreira
A escolha do novo “patrão” da Organização da Nações Unidas
(ONU) é um caso complicado, para além de ser sui generis poderia até
ser um study case muito interessante.
Se Penélope à espera durante vinte anos do seu Ulisses que tinha ido para a
guerra de Troia não fosse tecendo de dia e desfazendo-a à noite, na opinião de
Homero, a História podia ter sido uma odisseia e seguiria por caminhos ínvios
para mudar o Mundo e, obviamente para mudar-se a ela própria. E não é que foi
mesmo? Pelo menos para ele que escreveu a “Odisseia”.
O método escolhido desde que a ONU é… ONU, é quase um
imbróglio ou um labirinto, de tantas voltas e reviravoltas que contém. São as
votações informais e secretas dos candidatos, cujo número não está definido,
são os apuramentos dos votos alcançados pelos concorrentes, são o passar a bola
para o Conselho de Segurança, são, neste a possibilidade de veto ao candidato
que cortou a meta em primeiro lugar que assim nem sabe se soe ao pódio.
Resumindo: são um berbicacho.
Como é sabido Portugal tem um candidato: o engenheiro
António Manuel Guterres que foi primeiro-ministro e Alto Comissário das Nações
Unidas para os Refugiados entre os catorze que concorreram a Secretário-Geral e
que tudo indica, saalvo um qualquer imponderável, que será o próximo “patrão”,
sucessor do sul coreano Ban Ki-moon. Isto porque o nosso conterrâneo já venceu
e por boa margem as quatro votações informais e secretas. Mas isto é só o
começo, ainda falta muito mais.
Pelo caminho ficou a estranha declaração de Ban Ki-moon que
veio a lume dizer que o seu sucessor devia ser… uma sucessora. O que significa
sem muita dificuldade que seria uma senhora. Na altura das intrigantes palavras
do ainda Secretário-Geral perguntei-me (e creio que com razão, pois julgar em
causa própria não tem validade) se o coreano teria medido bem o que iria
declarar – e declarou. No meio da trapalhada da eleição pareceu-me a situação
do árbitro num estádio de futebol e que apita descarada e declaradamente a
favor do clube A, derrotando assim o clube B. Haja maneiras, haja bom
comportamento!
As votações prosseguem em Setembro e em Outubro. Depois virá
o Conselho de Segurança. E enquanto isso não acontece vão-se contando os votos
(a favor, contra ou neutros) o que seria para os candidatos um quantum satis de
descanso, mas que não é. As campanhas para convencer os países do Conselho de
Segurança prosseguem, pois ninguém gosta de perder.
Convém esclarecer aqui o que será o
último “ensaio” antes do candidato surgir no palco. O vencedor da eleição para
secretário-geral da ONU necessita de pelo menos nove votos a favor e nenhum
veto entre os atuais 15 membros do Conselho de Segurança: EUA, Rússia, China,
Reino Unido, França (que podem vetar), Angola, Egipto, Espanha, Japão, Malásia,
Nova Zelândia, Senegal, Ucrânia, Uruguai e Venezuela.
Entretanto parece surgir uma nova armadilha para o candidato português: a
búlgara Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia, pode entrar
na corrida. E tudo indica que será assim, pois ao que parece Angela Merkel a
apoia e, ainda por cima, anda a tentar convencer outros países no mesmo sentido.
Cada mais me convenço que a Alemanha não gosta nada de Portugal e dos portugueses
Será o termo de uma verdadeira maratona.
Cujas regras são complicadas (como acima escrevi). Corrida em os candidatos vão
desistindo – o que já aconteceu com dois – sem hipótese de recorrer a qualquer
estimulante, ou seja nada de droga. Está visto que se pode classificar com” uma
“droga” (no outro sentido, normalmente utilizado pelos brasileiros…). Mas mesmo assim não há carro vassoura…
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