Por Antunes Ferreira
Hoje, mesmo sem vos pedir permissão vou – em vez de fazer o
habitual comentário – transcrever passos do discurso do Presidente da República
proferido ontem, sexta-feira a encerrar o Congresso da OROC. Penso que,
concordando ou não, ele deve ser pelo menos um contributo assinável para o
debate nacional que no nosso país vem sendo objecto de extrapolações algumas
sem razão de ser…
"2016 ou
2017 não são 2011. Por muito que seja tentador para uns atacar o panorama que
forçou ao memorando de entendimento e para outros atacar os que executaram esse
memorando, é bom que se tenha presente que o mundo mudou e a Europa também. Na
Europa, a disposição que existiu para programas de ajustamento como o de 2011
já não existe, tal o número de questões e desafios que surgiram. E sucessivas
eleições e referendos nos próximos anos não a trarão de volta", avisou
Marcelo Rebelo de Sousa que ainda deixou um apelo para que não sejam
desperdiçadas "energias nesses
debates estéreis, sobre se vai ou não acontecer o que a ninguém aproveitaria dindo
concentração no fundamental: Garantir um rigor financeiro requerido, a justiça
social possível e o bom senso de evitar medidas que afastem o investimento
interno e externo".
Segundo o PR, as economias com défice em
processo de controlo "sabem que têm
de contar em primeira linha consigo próprias", quer as que cortaram no
investimento público e tiveram défices menores, mas também menor crescimento,
quer as que não cortaram e tiveram défices maiores, mas cresceram mais”. “E que
não ganham nada em passar a vida a debater, na luta quotidiana, cenários que
não podem ocorrer, tal como nunca apareceriam programas com remédios externos
para alegada salvação interna", criticou a discussão levantada ainda sobre
um eventual novo resgate a Portugal. E
por isso pediu que seja garantida "a
estabilidade política, financeira e fiscal tão necessária".
Outro tema que abordou foi o OE para
2017. Na sua opinião considerou que ele requer "ponderação, serenidade e muito bom senso" pois que "conjugar rigor, com justiça e
resistir ao erro de afugentar investimento com medidas aparentemente sedutoras
para o rigor ou emblemáticas para preocupação social, mas negativas no conteúdo
ou na forma para a visão dos investidores, é um exercício difícil".
"A
análise sobre o Orçamento do Estado para 2017 ganhará em ser compreensível para
os portugueses e para isso serena, pensando no médio e longo prazo e não apenas
no dia-a-dia imediato". O debate democrático é salutar e
acentuou "ademais quando há duas
visões muito diversas acerca de governação do país". "Mas será bom
que esse debate possa ser entendido pelos portugueses, com clareza e sem
paixão, o que supõe serenidade. E que olhe não somente para o curto prazo, mas
para horizonte mais vasto", .
Para o chefe do Estado enquanto quase
tudo se concentrar "no calor da luta
de cada dia, em miniciclos políticos", será perdido "em perspetiva
de fundo" e não se ganhará em credibilidade dos políticos e das instituições.
Leram? Eu também. Por isso entendi que
substituir o comentário pelas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa é salutar.
Concorde-se ou não com ele, há que admitir que é essencial no momento político
que estamos a viver.
(Um agradecimento ao Diário de Notícias
onde foram publicados estes excertos)
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