Quem se lixa é o mexilhão
Por Antunes Ferreira
“Ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o
mexilhão, de que são sempre os mesmos (...) desta vez todos contribuíram e
contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dívida", afirmou Coelho, em Braga ao encerrar um seminário sobre Economia
Social, organizados pela União de Misericórdias de Portugal. A notícia é do
Correio da Manha, ups, com til e afigura-se-me muito interessante.
Coelho, aparentemente, interessa-se por ditados, o que não é exactamente
por diktats. Desta feira escolheu o exemplo do “quando o mar bate na rocha quem
se lixa é o mexilhão” para o negar peremptoriamente afirmando sem pejo que “(…)
desta vez todos contribuíram e contribuiu quem tinha mais” Se fora Portas a
fazer tal afirmação teria dito que ela era irrevogável; mas para o chefe do
(des)Governo “disso não há dúvidas”. O trocadilho fácil que eu queria evitar,
saiu-me: Mas há dívidas…
Num contexto gravíssimo como é este que estamos a viver quotidianamente,
o (des)Executivo não pára de dar arrotos de importância. É a Dona Maria Luís
que afirma convictamente que todos os que se pronunciam negativamente sobre o
OE 2015 estão errados; o único que está certo é o gangue em que está inserida.
É Portas quem quer voltar atrás (honny soit…) no (des)feriado de 1 de Dezembro,
enquanto o nosso primeiro diz que nem penar, talvez daqui a cinco anos.
No meio da salganhada há até quem diga que a coligação está uma outra
vez em risco, o que me cheira a reprise, desta feita quiçá irrevogável. As
frases e as palavras que as constituem estão cada vez mais prostituídas; mas,
infelizmente não são só elas: é o país que se transformou num bordel que vive
num pântano lamacento e mal cheiroso. E eu que também sou gente – ainda que,
por vezes não pareça – cito também um dito popular. Deus manda ser bom, mas não
manda ser parvo.
É, bem vistas as coisas, disso que se trata: os membros deste
(des)Governo querem fazer de nós parvos. E se calhar somos: parvos e péssimos
(o mau não chega), agachados ou inclinados como se devem fazer as vénias. E
sofredores. E pacientes: E sem coluna vertebral. Sá assim se podem qualificar
os portugueses (que também sou); se fossemos de outro jaez, as coisas não
estavam assim, plácidas e serenas.
Basta vermos as reportagens televisivas sobre a Grécia e os Estados
Unidos (e são apenas dois exemplos dum pat-pourri generalizado) para
compreendermos que somos uns bananas, o que para mim é não só desagradável, não
é só irritante – é criminoso. E não me venham com Aljubarrota e com os
Descobrimentos, com os conjurados do João Pinto Ribeiro, ou seja com o “passado
glorioso”.
Porque a verdade é que o Dom Sebastião nunca voltou do nevoeiro montando
um cavalo branco; porque a verdade é que Sidónio Pais o Presidente-Rei mal
chegou ao poder foi assassinado; porque a verdade é que Oliveira Salazar não
era eterno: uma conspícua cadeira tornou-o num imbecil que julgava que os
ridículos conselhos de ministros eram verdadeiros e não uma encenação burlesca
e dramática.
Coelho enveredou pelos adágios populares – a opção é dele – mas podia
ter usado termos mais politicamente correctos. O povo também usa o termo
mexilhão, mas muitas vezes não usa que é este que se lixa: usa a palavra de
calão que não é “trama”, mas que é exactamente a mesma coisa.
Para mal dos nossos pecados (os meus são muitos, mas vivo excelentemente
com eles…), quem não se sente, não é filho de boa gente; e pelo andar da
carruagem coelho nem se sente. No tempo da outra senhora havia uma quadra
popular que dizia:
Dos dois Antónios
de que Lisboa desfruta
Um é filho das Sé;
E o outro… não é…
1 comentário:
não sei porquê estas pretensas piadas do rapazola são preparadas pelos grandes cérebros que o acompanham...
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