sábado, 6 de dezembro de 2014

CONTIBUTOS EXTERNOS


Quem se lixa é o mexilhão

Por Antunes Ferreira


“Ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (...) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dívida", afirmou Coelho, em Braga ao encerrar um seminário sobre Economia Social, organizados pela União de Misericórdias de Portugal. A notícia é do Correio da Manha, ups, com til e afigura-se-me muito interessante.

Coelho, aparentemente, interessa-se por ditados, o que não é exactamente por diktats. Desta feira escolheu o exemplo do “quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão” para o negar peremptoriamente afirmando sem pejo que “(…) desta vez todos contribuíram e contribuiu quem tinha mais” Se fora Portas a fazer tal afirmação teria dito que ela era irrevogável; mas para o chefe do (des)Governo “disso não há dúvidas”. O trocadilho fácil que eu queria evitar, saiu-me: Mas há dívidas…

Num contexto gravíssimo como é este que estamos a viver quotidianamente, o (des)Executivo não pára de dar arrotos de importância. É a Dona Maria Luís que afirma convictamente que todos os que se pronunciam negativamente sobre o OE 2015 estão errados; o único que está certo é o gangue em que está inserida. É Portas quem quer voltar atrás (honny soit…) no (des)feriado de 1 de Dezembro, enquanto o nosso primeiro diz que nem penar, talvez daqui a cinco anos.

No meio da salganhada há até quem diga que a coligação está uma outra vez em risco, o que me cheira a reprise, desta feita quiçá irrevogável. As frases e as palavras que as constituem estão cada vez mais prostituídas; mas, infelizmente não são só elas: é o país que se transformou num bordel que vive num pântano lamacento e mal cheiroso. E eu que também sou gente – ainda que, por vezes não pareça – cito também um dito popular. Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo.

É, bem vistas as coisas, disso que se trata: os membros deste (des)Governo querem fazer de nós parvos. E se calhar somos: parvos e péssimos (o mau não chega), agachados ou inclinados como se devem fazer as vénias. E sofredores. E pacientes: E sem coluna vertebral. Sá assim se podem qualificar os portugueses (que também sou); se fossemos de outro jaez, as coisas não estavam assim, plácidas e serenas.

Basta vermos as reportagens televisivas sobre a Grécia e os Estados Unidos (e são apenas dois exemplos dum pat-pourri generalizado) para compreendermos que somos uns bananas, o que para mim é não só desagradável, não é só irritante – é criminoso. E não me venham com Aljubarrota e com os Descobrimentos, com os conjurados do João Pinto Ribeiro, ou seja com o “passado glorioso”.

Porque a verdade é que o Dom Sebastião nunca voltou do nevoeiro montando um cavalo branco; porque a verdade é que Sidónio Pais o Presidente-Rei mal chegou ao poder foi assassinado; porque a verdade é que Oliveira Salazar não era eterno: uma conspícua cadeira tornou-o num imbecil que julgava que os ridículos conselhos de ministros eram verdadeiros e não uma encenação burlesca e dramática.

Coelho enveredou pelos adágios populares – a opção é dele – mas podia ter usado termos mais politicamente correctos. O povo também usa o termo mexilhão, mas muitas vezes não usa que é este que se lixa: usa a palavra de calão que não é “trama”, mas que é exactamente a mesma coisa.

Para mal dos nossos pecados (os meus são muitos, mas vivo excelentemente com eles…), quem não se sente, não é filho de boa gente; e pelo andar da carruagem coelho nem se sente. No tempo da outra senhora havia uma quadra popular que dizia:

Dos dois Antónios
de que Lisboa desfruta
Um é filho das Sé;
E o outro… não é…

    

1 comentário:

maceta disse...

não sei porquê estas pretensas piadas do rapazola são preparadas pelos grandes cérebros que o acompanham...