Os pais “helicópteros”
Por
Antunes Ferreira
Já
tinha ouvido chamar aos pais muitos qualificativos mas esta é a primeira vez
que vejo que também podem ser “helicópteros”. Leram bem – helicópteros, aquelas
aeronaves que se sustentam nos ares graças a duas hélices uma estabilizadora e
a outra propulsora, aliás desnecessária se torna explicar o significado da
palavra, mas o que parece importante é, sim, tentar explicar a expressão “pais helicópteros”…
Ela
pode ser encontrada num artigo da jornalista Carmen Garcia do El País aqui da
nossa vizinha Espanha. Para melhor elucidação transcrevo a abertura do seu
texto:
“Meu amor, tome cuidado para não cair.” “Filhinho,
coma o salame devagar para não se engasgar.” Frases desse tipo, em princípio
inocentes, podem ser prejudiciais para as crianças da casa se usadas com
frequência excessiva. Trata-se de uma atitude coloquialmente conhecida
como paternidade-helicóptero,
ou seja, aqueles pais e mães que sempre estão de olho nos seus filhos.
Esse comportamento super protector pode ser muito nocivo para eles, segundo um
novo estudo elaborado pela Universidade de Minnesota e publicado na revista
“Development Psychology”
Para os autores do artigo do estudo, um
pai-helicóptero é aquele que está a contror continuamente o seu filho, que lhe
diz como deve brincar, como guardar as suas coisas, como agir, entre outras
determinações. “Diante desse comportamento, e segundo os nossos resultados, as
crianças reagem de maneira diferente. Algumas tornam-se desafiadoras com
relação aos pais, outras simplesmente apáticas ou mostram-se muito frustradas.
Sou
do tempo em que isto era impensável mas as coisas mudaram e hoje em dia no que
toca à aprendizagem os métodos são bem diferentes. Ainda dei os primeiros
passos na leitura pela Cartilha Maternal do João de Deus e também dos reflexos
condicionados do Pavlov que partido da experiência famosa que metia um cão, uma
campainha e um naco de carne influenciou os métodos do ensino.
Até
agora sempre pensei que havia pais bons, pais maus, pais presentes, pais
ausentes, pais a quem se dia chamar pais e até pais incógnitos, infâmia que era
permitida nos registos de nascimento e que felizmente foi riscada dos assentos
das conservatórias.
É
vulgar ouvir-se falar em mães galinhas as que também são super protectoras,
quais galináceas que controlam os seus pintos e não os deixam pôr as patas em
ramo verde e inseguro.
Agora
chegou a vez aos pais. Pensei que talvez pudessem ser classificados com pais
galos. Mas, pelos vistos não. Os galos não migam prego nem estopa no cuidar dos
pintos, usando uma palavra rasca querem que eles
se lixem. Nem com um voo picado de um gavião esfomeado se preocupam. Nem
mesmo sendo pais helicópteros que afinal são um fiasco: não voam.”.
Pais
superprotetores, crianças que não sabem lidar com suas
emoções. Esta é a premissa. E tem suas
consequências.Costumam ser meninos e meninas que não controlam suas alterações
de humor, suas emoções e seus sentimentos, e são mais fracos na hora de
enfrentar os desafios de cada etapa do crescimento. “Isto é ruim. As crianças
precisam de cuidadores que lhes sirvam de guia na hora de entender o que
acontece com elas”, acrescentam os especialistas.
Segundo
esses pesquisadores, os pais devem:
- Ser
sensíveis às necessidades de seus filhos, reconhecendo quais são suas
capacidades na hora de encarar diferentes situações.
-
Orientar a criança, sem interferir nem solucionar o problema, para que ela
consiga o objetivo a que se propõe, orientando-lhe que pode se virar sozinha, o
que a levará a um melhor desenvolvimento da sua saúde mental e física e a
melhores relações sociais e resultados escolares.
- Não
limitar as oportunidades das crianças.
- Ajudar seus filhos a controlarem suas
emoções, conversando com eles sobre como
entender seus sentimentos e explicando-lhes que os comportamentos podem
resultar de certas emoções, assim como as consequências que as diferentes
reações podem acarretar.
-
Também podem ajudar seus filhos a identificar estratégias de confrontação
positivas, como respirar fundo, ouvir música, colorir ou se retirar para um
lugar tranquilo.
“Nossas
conclusões salientam a importância de educar os pais, frequentemente bem
intencionados, sobre o apoio à autonomia de seus filhos perante os desafios
emocionais”, prosseguem os autores. “Também podem ser um bom exemplo para seus
filhos. Por exemplo, eles podem usar estratégias de confrontação positivas, na
hora de lutar com suas próprias emoções e comportamentos quando estão
incomodados ou irritados”, concluem.
Para
chegar a estes resultados, os pesquisadores analisaram durante oito anos 422
meninos e meninas de diferentes etnias e condições econômicas, fazendo
avaliações em três ocasiões: aos 2, 5 e 10 anos de idade. Os dados surgiram da
análise das interações entre pais e filhos, de relatórios de seus professores e
de sua própria experiência narrada aos 10 anos. O teste consistia em que
progenitores e crianças brincassem da mesma maneira como em casa. Segundo seus
resultados, o controle excessivo na criação dos filhos
quando a criançatinha dois anos estava associado a
uma pior regulação emocional e de comportamento aos cinco. Ao contrário, quanto
maior era a regulação emocional de uma criança aos cinco anos, menos provável
era que tivesse problemas emocionais e maior a probabilidade de que tivesse
melhores habilidades sociais e fosse mais produtivo na escola aos 10. Da mesma
maneira, aos 10, as crianças com um melhor controle dos impulsos tinham menos
probabilidades de sofrerem problemas emocionais e sociais e mais probabilidades
de irem bem na escola.
Essas
conclusões não são uma novidade. Pesquisas anteriores já apontavam as
consequências negativas da superproteção das crianças. Uma delas, de 2016, concluía que “as crianças com pais intrusos e
controladores, aqueles que pressionam muito os filhos a obterem boas notas,
podem ser mais propensas a se tornarem altamente autocríticas, ansiosas e
deprimidas”. E outra de 2017mostrava também que a paternidade-helicóptero era mais
frequente com as meninas, “e que este comportamento podia ser prejudicial para
sua capacidade de desenvolver mecanismos de confrontação efetivos para resolver
conflitos e lidar com os fatores de estresse da vida cotidiana”.
“Efetivamente,
os principais efeitos da superproteção são que não deixamos que os menores
aprendam por si mesmos a resolver os problemas do seu dia a dia. Ao não
desenvolverem tais habilidades, normalmente eles têm mais propensão a serem
mais ansiosos e a terem mais dificuldades de regulação emocional”, explica por
email o psicólogo espanhol Jesús Matos, mestre em Psicologia Clínica e da
Saúde. “Se em lugar de fomentar a autonomia optamos pela superproteção”,
prossegue, “estamos criando crianças muito dependentes, que irão sofrer mais na
hora de enfrentar as dificuldades inerentes à vida, por não terem ninguém que
as resolva.”
As
chaves para a educação são o apoio e os limites, não a superproteção. “Tudo bem
ajudarmos nossos filhos a resolverem certos problemas, mas sempre tentando
envolvê-los na tarefa. Para que entendam que há uma relação entre esforço e
recompensa. Desta maneira, pouco a pouco fomentamos sua autonomia. Obviamente,
sempre é preciso levar em conta os perigos potenciais que podem aparecer, e se
manter precavido contra eles. Uma boa maneira de proteger com controle é falar
com outros pais e professores de crianças da mesma idade para estabelecer
limites aproximados do que cada criança tem condições de enfrentar. Não podemos
pretender que nossos filhos de quatro anos encarem problemas como os de 12”,
argumenta o especialista.
Além
de Matos são muitos os especialistas que enfatizam a importância fundamental de
dar autonomia às crianças, permitindo que desenvolvam suas emoções e
comportamentos de forma adequada. Há alguns meses, Eva Millet, autora do
livro Hiperniños ¿Hijos Perfectos o Hipohijos? (“hipercrianças:
filhos perfeitos ou hipofilhos?”) dizia a este jornal que“as hipercrianças são
produto de uma hiperpaternidade na hora de criar e educar nossos pequenos, uma
criação que lhes dá tudo, as protege de tudo e lhes indica como devem ser”. E
enfatizava que, para ela, “a criação na atualidade é monstruosamente intensiva.
A superproteção infantil produz crianças-altar, o que a transforma em hipocrianças,meninos
e meninas que não sabem se defender, que não são autônomos, porque já recebem
tudo pronto. Recebem tudo resolvido.”
JESÚS MATOS,
PSICÓLOGO E ESPECIALISTA EM PSICOLOGIA CLÍNICA E DA SAÚDE
Os principais benefícios são o aumento
de autoestima das crianças, que assim se percebem como capazes de enfrentar
situações. Isto por sua vez ajuda o menor a administrar com eficácia emoções
como a ansiedade, o medo e a frustração. Porque cada vez vai adquirindo mais
experiência em situações difíceis (sempre procurando que sejam adequadas à sua
idade).
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