O
Brexit venceu – a Europa morreu?
Por Antunes Ferreira
Cada vez mais não acredito em
sondagens – e em especial nas britânicas. Recordo o caso do referendo sobre a
Escócia e pelos resultados ao viés do que previam os “sondajadores” foi o que viu: as sondagens enviadas directamente
para as urtigas. Mas não contentes com isso, as agências de pool como dizem os
habitantes do então RU repetiram a dose: os britânicos, de acordo com as
consultas ao povo iam ficar. Escolheram o sair.
Houve quem escrevesse no
“Expresso” que “Hoje (sexta-feira da
semana anterior) é daqueles dias
em que sabemos que acordámos e o mundo mudou.
Ainda não sabemos quanto mudou, mas que mudou, mudou...” Concordo
absolutamente com o autor que também escreveu “Podemos estar a assistir à mais extraordinária sucessão de eventos na
Europa desde a queda do Muro de Berlim, em 1989.” Para mim ontem a (des)União Europeia começou a morrer. Jean Monnet e
Robert Schuman devem ter dado uma volta de 360 º onde quer que se encontrem.
Agora há que encarar duas
realidades: A Europa sem o Reino Unido e o Reino Unido sem a Europa. Os que
ainda me leem dirão que se trata de um axioma lapaliceano e que melhor faria o
autor em estar calado do que fazer afirmações destas. No entanto, confirmo-as e
repeti-las-ei à saciedade. Uma Europa cada vez mais velha e sem outra
alternativa para ver a natalidade aumentar senão recorrer aos imigrantes muito
mais prolíficos é uma Europa no mínimo duvidosa. Porém os emigrantes aumentam
aos milhares e nem todos pedem auxilio para sobreviverem; há muitos
oportunistas e quem sabe se dentro deles há muitos preparados para perpetrar
ciúmes hediondos
A União Europeia - estádio a que
chegamos os europeus desde as datas da fundação do Comecon e da CEE - está cada
vez mais (des)unida o que é seguramente um contrassenso. No pós Brexit - que
ainda nem começou - as opiniões vindas de todos os lados, sabores e cores como
os chupa-chupas convergem numa pergunta – e depois? O “Financial Times” chama ao Brexit o “divórcio mais complicado do
mundo” e nesse artigo explica
os próximos passos que levarão à saída da União do país. Só para ter uma ideia, estima-se que as negociações para a saída
do país podem levar algo como entre dois a… dez anos. Mas em Bruxelas
sempre comanda pela Alemanha exige-se que sejam os dois anos previstos pelos
tratados, especialmente o de Lisboa, o do Porreiro,
pá!
Como disse antes uma coisa é a
(des)União Europeia sem o Reino Unido (até ver…), e outra bem diferente é o
Reino Unido sem (des)União Europeia. Não sou de todo especialista em finanças
(que comandam o Mundo) nem em economia que cada vez mais lhes está apenas
associada – mas tento perceber o estado a que nós, os europeus chegámos. E no
caso vertente nem é preciso perguntar aos nossos emigrantes que estão nas ilhas
britânicas, nomeadamente aqueles que lá ganham a vida que não conseguiram
endireitar cá, o que pensam que lhes vai acontecer. E não é preciso porque penso
que o que lhes possa acontecer é negativo.
Disse o ministro dos Negócios
Estrageiros Augusto Santos Silva (antes de conhecer o resultado do referendo)
que esse fosse pelo sim ou pelo não, uma coisa era certa: o mais antigo tratado
do Mundo subsistiria. Em termos político-diplomáticos Santos Silva deve ter
razão; mas em termos práticos tê-la-á? E – como atrás também escrevi - estou
apenas a pensar no caso (ou os caso) dos nossos patrícios no Reino Unido (?). É
que agora já não se pode de todo dizer “com o mal dos outros posso eu bem”…”
Porque a bem ou a mal lixamo-nos
todos.
A segunda economia europeia
(só suplantada pela alemã) não pode continuar a ser apenas umas ilhas.
Napoleão, recorde-se, tentou invadir o país do outro lado da Mancha. Perdeu a
intenção, não a conquistou. Hitler também o desejou com a sua Luftwaffe a
bombardear as cidades das ilhas mas o batalha da Inglaterra vergou-o e teve de
voltar os seus exércitos contra a União Soviética, o que significou dois
desastres e o começo do fim do seu louco “império ariano”. E, mais importante,
foi o início da Guerra Fria.
O Reino Unido (?) fora da
(des)União Europeia até agora já resultou no pedido de demissão do
primeiro-ministro Cameron. E outros acontecimentos se perfilam no horizonte da
Europa e do Mundo. Do lado da (des)União Europeia que fez uma despudorada
campanha pelo remain, os comentários
são bem a demonstração do medo (não utilizo meias palavas nem o politicamente
correcto) que surgiu em Berlim e associados.
E depois? E a Escócia? E o País
de Gales? E a Catalunha? E o País Basco? As coisas são o que são, por mais
voltas que se queiram dar. Washington e a NATO alinham pelas mesmas dúvidas, a
Rússia observa antes de bater palmas, Putin é um espertalhão. E até o criminoso
Daesh já meteu o bedelho, Não haja dúvidas não é a Europa que mudou – é o
Mundo.
E por cá? Enredados e
preocupados pela possibilidade das sanções da (des)União não sabemos bem em que
pé nos apoiamos para falar sobre o Bretix. Será pernicioso ou favorável para o
nosso país?As opiniões - que sempre divergem entre a esquerda e a direita -
agora conjugam-se sobre as malfadadas sanções: António Costa e Passos Coelho
defenderam naturalmente o não. Marcelo também acalmar os mais desanimados, para
não falar noutros políticos portugueses., tentam pôr calma, ainda que Catarina
opine na revanche com um Protugexit. Porém os alemães donos de isto tudo.
Wolfgang Schüble com o seu intencional sim-não-sim-talvez deitou petróleo sobre
a fogueira e o vice-presidente Valdis Dombrovskis já sugeriu o congelamento dos
fundos estruturais. O que quer dizer, para utilizar o inglês,
que estamos metidos num beautiful bummer
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