segunda-feira, 14 de março de 2016

MÚSICAS ANTIGAS



Não Venhas Tarde


"Não venhas tarde!",
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde
Do que me pedes, baixinho
"Não venhas tarde!",
E eu peço a Deus que no fim
Teu coração ainda guarde
Um pouco de amor por mim.

Tu sabes bem
Que eu vou p'ra outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer,
Tu estás sentindo
Que te minto e sou cobarde,
Mas sabes dizer, sorrindo,
"Meu amor, não venhas tarde!"

"Não venhas tarde!",
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde
Na fogueira do ciúme.
"Não venhas tarde!",
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela

Tu sabes bem,
Que eu vou p'ra outra mulher.
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.

Sem alegria,
Eu confesso, tenho medo,
Que tu me digas um dia,
"Meu amor, não venhas cedo!"

Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E seja tarde demais!


Autor: Aníbal Nazaré


E que me dizem a isto?

3 comentários:

Janita disse...

Não sei o que os outros dizem da letra desse Fado, José, mas o que eu digo é que seria muito bem feito que um dia ele chegasse cedo a casa e fosse tarde demais.

Como escreveu o meu poeta popular preferido, o António Aleixo:

Aquele que arrasta a asa
à mulher deste e daquele
merecia ter em casa
um outro no lugar dele.

As palavras podem não ser precisamente estas, mas são mais ou menos isto!
Nesta quadra há rima, mas a métrica não está lá muito famosa, pois não?

500 disse...

Diria que esta letra é, nos dias de hoje, politicamente (e não só) incorrecta. Contudo, é um machismo reconhecido pelo próprio, o que já não é mau.
(Sabe que eu gostava de ouvir o Carlos Ramos, castiço que era, eu que não sou um grande apreciador de fado, como julgo já ter dito).
Na quadra talvez o 3.º verso devesse ser "merecia ter lá em casa" ou coisa parecida, mas não está mal.
Abraço

maceta disse...

Dos fadistas que mais admiro pela voz castiça e que tão bem interpretou o verdadeiro fado. E a letra tão genuína...