segunda-feira, 28 de setembro de 2015

LIDO

(...) Por cá, alguém que não conhecesse o país suporia que foi o PS que esteve no Governo nos últimos quatro anos. Da direita à esquerda só se discute o PS, o programa do PS, as promessas do PS, os cortes na segurança social do PS, o acordo da troika que o PS assinou, o plano secreto que o PS tem para se aliar à CDU e ao BE para não deixar o centro-direita governar. A coligação Portugal à Frente acusa o PS de criar instabilidade e insegurança, a CDU e o BE acusam o PS de subscrever as políticas da direita.

E ninguém debate os últimos quatro anos, os 485 mil emigrantes que vão de engenheiros, economistas e médicos a investigadores, enfermeiros e bombeiros, os cortes nos salários da Função Pública e nas pensões dos reformados, a desmotivação completa dos funcionários públicos, o desemprego, o emprego que está a ser criado (90% é precário), os 50% de portugueses que ganham menos de 8000 euros por ano, o facto de estarmos a trabalhar mais 200 horas por ano e a ganhar em média menos 300 euros, o descalabro na educação (com o silêncio ensurdecedor de Mário Nogueira e da FESAP, ao contrário do que aconteceu quando Maria de Lurdes Rodrigues era ministra da Educação), a miséria que se vive no Serviço Nacional de Saúde (onde muitos profissionais são obrigados a comprar luvas ou a fazer garrotes com material improvisado), os medicamentos que faltam nas farmácias e só estão disponíveis daí a dois dias, a machadada que levou a ciência e investigação, os problemas que se continuam a verificar na justiça, a inexistência de respostas ao envelhecimento da população (em 2014 já havia mais de 4000 pessoas acima dos 100 anos em Portugal e há 595 mil portugueses com mais de 80 anos), a irrelevância do ministro dos Negócios Estrangeiros, a fragilidade da ministra da Administração Interna, as múltiplas garantias de Passos Coelho que foram sempre desmentidas por decisões do próprio Passos Coelho, o programa da coligação que não se discute porque não existe, etc, etc.

Ora, é tudo passado. Como disse Passos Coelho, «felizmente conseguimos ultrapassar a situação de emergência financeira que trouxe uma crise que nós resolvemos. Fizemos muito para poder chegar a este momento e os sacrifícios que fizemos valeram a pena. Já não temos necessidade de vos pedir um contributo adicional. Já não temos nenhuma medida restritiva nas pensões». Pronto, a crise está resolvida e agora é sempre a alargar o cinto.

Por isso, o líder da coligação Portugal à Frente pede agora aos eleitores «uma maioria boa, uma maioria grande» e diz que «quando temos necessidade de qualificar maiorias, alguma coisa esta errada. Estou a referir-me a um governo estável que tenha apoio no Parlamento para evitar que daqui a nove meses tenha de haver eleições», disse, esclarecendo porque não pede uma maioria absoluta. «O que nós queremos não é o absoluto, é estabilidade para governar».

Além disso, «nestes quatro anos tentei sempre um espaço de compromisso, de diálogo, com a oposição». Mas infelizmente «é a oposição a dizer que não dará condições para o país ser governado» e «os portugueses têm de julgar isso». Em qualquer caso, avisa: «Andamos com a alma cheia mas não andamos com o rei na barriga. Nós sabemos que as eleições se ganham a 4 de outubro».

Mas o certo é que na tracking pool diária do Público a coligação vai com 5,1 pontos à frente do PS, embora o número de indecisos tenha aumentado. E a coligação vira agora o discurso para tentar recuperar os 600 mil votos de eleitores que perdeu desde que em 2011 chegou aos 2,8 milhões de votantes. Para já, os resultados são estes: 38% PàF; 33% PS; 9% CDU: 6,7% BE; indecisos 25%.

Também o inquérito diário da Aximage para o Jornal de Negócios mostra que a vantagem da coligação face ao Partido Socialista atingiu, este domingo, o valor mais elevado. 5,6 pontos separam, agora, as duas forças políticas: 37,9% contra 32,3%. Jorge de Sá, responsável da Aximage, é taxativo: a probabilidade de coligação ter mais votos que PS pode ser «estimada em mais de 60%». Para o Correio da Manhã, a coligação segue à frente com 37,9% e o PS tem 32,3%.

Perante isto o que faz e diz António Costa? Pois o líder do PS recebeu ontem uma injeção de ânimo de Freitas de Amaral, que em Braga lhe disse: «Vai ganhar! Não acredite nas sondagens! O António Costa vai ganhar!». O certo é que Costa foi levado em ombros em Guimarães e em Barcelos, onde a cada passo um abraço, pediu a concentração de votos em torno do PS para obter uma maioria que lhe permita governar. Numa sessão em que João Cravinho se sentiu mal quando estava a discursar, Francisco Assis juntou-se a Costa no apelo ao voto útil.

O líder do PS, que ouviu jovens emigrantes através do Skype – e todos lhe disseram que não vêem condições para voltar tão cedo – advertiu que o atual Governo pretende prosseguir «um programa impiedoso» nos próximos quatro anos. «Ao longo destes quatro anos, a coligação mostrou ser radical. Colocou os portugueses uns contra os outros. Nós queremos a estabilidade das famílias, das pessoas, das empresas, do quadro fiscal. Para isso, é necessária uma mudança com confiança», defendeu. (...)



Nicolau Santos, in Expresso

2 comentários:

Kim disse...

Falta acrescentar que o PS foi o culpado pela falência do Lehaman Brothers.

500 disse...

E, já agora, da barraca dos VW da senhora Merkel, sim, porque a coisa já vem de longe.