O Rei Sol e o rei Lua
Por Antunes Ferreira
Os franceses tiveram o seu Rei Sol entre dois séculos, Luís
XIV; nós temos o Rei Lua, o político mais longevo desde o 25 de Abril, Aníbal
Cava Silva; as diferenças entre os dois não são diferentes como se possa
imaginar. Luís XII foi o monarca europeu que durou 72 anos e 110 dias o que significa que o seu reinado
foi o mais longo da história da Europa.
Por seu turno Cavaco na política desde 1980, até 1981, ministro das
finanças de Sá Carneiro ; amealhou mais 11 anos como primeiro-ministro a que se
juntam pelo menos mais nove (nesta data em que escrevo) que ainda podem chegar
aos dez. Ou seja há 22 anos, mais coisa, menos coisa, que o aturamos.
Luís XIV tinha o seu cardeal Giulio Mazarino, Cavaco tem o
seu Pedro Passos Coelho; ao primeiro é atribuída a frase “L´État cést moi”, ao
segundo atribuem-se muitos ditos incríveis e inultrapassáveis, como por
exemplo, o famoso
façarei e os cidadões. Ao Rei Sol credita-se-lhe a frase "Eu quase que esperei'". Dizia isso,
mesmo com todas as suas carruagens chegando à hora marcada, o que demonstra bem
o carácter absolutista e a visão que ele tinha de si mesmo.
Ao senhor Silva
(recorde-se Alberto João Jardim) entre outras bacoradas credita-se-lhe o
incrível “Para serem mais honestos do que eu
tinham que nascer duas vezes”, que, aliás, afirmou, por duas vezes. O homem de
Boliqueime também pensa que o Estado é ele. Basta ver-se a forma como entrou na
pré-campanha eleitoral de 4 de Outubro, ao lado do seu partido, o PSD,
transformado no eco, audível e visível do (des)Governo. E ainda mais: se não houver uma maioria
absoluta que garanta um modelo estável não dará posse ao Governo que sair das
legislativa, seja ele do PS ou da coligação PSD/CD. Raios! E a Constituição?
É inacreditável, mas verdadeiro.
Cavaco continua a ser o presidente dos ditos sociais-democratas, quando devia
ser o Presidente de todos os Portugueses. Estultícia. Hoje em dia (quase) todos
os Portugueses, pelo menos os que têm melhor formação e melhor informação (?),
riem-se das bojardas em que é perito e até já acham (veja-se António Costa) que
o falecido almirante Américo Tomás, último Presidente do Estado Novo, consegue
ser melhor do que Cavaco.
Por vezes tem-se a sensação que
ele é o pior PR do regime em democracia e liberdade que resultou do 25 de Abril
– pelo menos eu assim penso. Mas creio que os meus concidadãos pensam da mesma
maneira; ainda que as sondagens valham o que valham, ele é o menos votado, ou
seja, tem a pior percentagem de intenções de voto de todos os Presidentes que o
antecederam. Seria preciso mais? Para mim, não. Para alguns as sondagens
mentem. Pontos de vista contraditórios.
É, infelizmente, uma situação
muito complicada. O imbróglio é que por agora só existe uma dicotomia: um bom
candidato – ou um mau candidato. De todos parece que o menos mau é Sampaio da
Nóvoa. Porém pode ser o “mons parturiens”? Muita gente vem anunciando que se
vai candidatar a Belém, mas são peanuts. Ninguém acredita que o engenheiro
Henrique Neto, o dr. Paulo Morais, Carvalho da Silva e outros possam ganhar as
eleições presidenciais. Há ainda aqueles de quem se diz que são candidatos a
candidatos: Marcelo Rebelo de Sousa, Ri Rio e Pedro Santana Lopes. Livre-nos
Deus…
O mais engraçado nesta política à
portuguesa – e como diria La Palice ou o amigo Banana – é que enquanto se pensa
nas presidenciais, parece que se esquecem as legislativas. Não é, porém,
verdade. Os Partidos principais coligados ou isolados já apresentaram os
respectivos “cadernos de encargos, os respectivos Programas para as eleições de
4 de Outubro. E já escolheram ou estão prestes a fazer as suas listas e candidatos.
Pelo andar da carruagem até parece
que os partidos têm medo das… presidenciais. Se já tivessem escolhido os
candidatos ao palácio de Belém, estariam no que se convencionou zona de
conforto. Esta e o mito urbano ficaram, para já, na História de Portugal. No
entanto, quando abordo este tema crucial lembra-me sempre a anedota sobre os
partidos. Eu conto. Num comício eleitoral o candidato que chefiava a lista de
qualquer coisa, engrossando a voz, apontava a si mesmo: Eu não vou em cantigas.
Eu sou um homem de um só partido! E repisava, eu sou um homem de um só partido!
E no meio dos assistentes ouviu-se
claramente uma voz: “Então, vem cá abaixo que eu parto-te
o outro…” Si non è vero è ben trovato…
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