sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Uma réstia de esperança

Por Antunes Ferreira


Finalmente acabou o ano mais desastroso dos últimos três. Oxalá este 2015 que já chegou seja menos gravoso do que este amaldiçoado 2014; pior será impossível. Estamos metidos numa camisa de forças, num imbróglio inimaginável e, sobretudo num desespero que leva a que nos possamos considerar pessimistas no mais alto grau. Salvaguardo: pelo menos, eu estou.
 O novo ano traz consigo – e como sempre acontece ao virar-se a última folha do calendário – alguma réstia de esperança em dias melhores. Ainda que esta, prostituída e improvável, tenha a cotação (e o cotão) mais baixos nos bolsos da esmagadora maioria dos Portugueses, o pouco que dela resta ainda tenta animar os mais desencantados, abandonados, famintos e roubados, por um (des)Governo autista que teima em dizer que tem razão nas barbaridades que faz, contra tudo e contra todos (ou quase…). Mas, tristeza, debalde.
Coelho e Portas, capitaneados pelo sôr Silva – ainda no final de 2014 na 25.ª da TVI que fez a retrospectiva da vida política do ex-senhor todo-poderoso da Região Autónoma da Madeira, bem se viu e ouviu Alberto João Jardim a proferir o tratamento que então dava a Cavaco – carregaram nas tropelias que já vinham fazendo desde 2011. Deram um golpe (quase) mortal na classe média, empobreceram os mais pobres, anavalharam os reformados, enfim atingiram o cúmulo do desaforo.
Tudo isto para salvar a Pátria à beira da bancarrota – dizem eles numa autojustificação patética, semelhando à anedota do escuteiro que, para fazer a boa acção diária que é seu timbre e regra, ajudou a passar para o outro passeio uma idosa, que afinal queria ficar no primeiro. Estes safardanas usaram e usam (e ousarão usar?) para esse alegado salvamento - que, aliás não lhe foi pedido -, agacharam-se perante a sinistra troika, o que é o mesmo que perante a Frau Merkel. O ministro das Finanças desta desde 2005, Wolfgang Schäuble há dias ameaçou a Grécia: com governo ou sem governo, o país helénico tem de cumprir o pagamento das prestações da “ajuda” (!?!?!?) em falta. Se não, acabou-se o bodo! Não leva mais nada!
É a esta gente dominadora e arrogante, que já fez mais mal à Europa do que o Adolf Hitler - e sem o Wehrmacht…  - que o triunvirato fatídico, Cavaco, Coelho & Portas, tem vinda a fazer repetidas vénias. A mesma gente que os aplaudiu, mas agora os critica pelo “aumento fabuloso” do salário mínimo nacional ou por haver demasiados licenciados em Portugal, ao mesmo tempo que os recruta para irem trabalhar da Deutschland. Dois pesos, duas medidas, duas velocidades. Já basta.
A Europa (des)Unida cada vez mais envelhecida aproveita a força de trabalho dos emigrantes, dos que mais qualificação e nenhum trabalho nos seus países de origem. Brada aos céus! Assim é fácil respeitar o défice comunitário Concertado/imposto em Conselhos Europeus diversos. Com alegações dramáticas sobre os saldos excessivamente negativos, a dívida pública soberana e a malfadada crise, dela decorrente a austeridade criminosa e – por que não? – a autoridade, tentam enforcar os pobres “do Sul”.
Que, afirmam eles, tocam guitarra qual cigarra, enquanto eles próprios, os “Grandes” trabalham como as formigas para aforrar os euros que depois “emprestam” com juros desaforados aos desgraçados que bailam e cantam, vão à praia sem preocupações, e muito menos produtividade. O Senhor La Fontaine nunca poderia imaginar a utilização sinistra da sua fábula. Mas, a verdade é que o é.
Diz o povo que a nossa casa é o nosso forte, de tal maneira que para nos tirarem dela são preciso quatro gatos-pingados. Os sacanas que nos (des)governam não são parvos, mas pelo sim, pelo não querem fazer de nós idiotas. Em Trás-os-Montes há um ditado que reza: “Deus manda-nos ser bons, mas não nos manda ser parvos”. E, pelo andar da carruagem, somo-lo. Não pode ser, não o pomos ser. 

Por isso, com toda a paciência (em que somos especialistas) e com a cerviz dobrada como nos habituámos a estar, temos de mais uma vez esperar que o 2015  nos traga uma melhoria de vida, ainda que pouca. As legislativas de Outubro têm de motivar essa espera, têm alimentar essa réstia de esperança, também têm de chutar esta malta para o diabo que a carregue! 

Sem comentários: