Por Antunes Ferreira
Finalmente acabou o ano mais desastroso dos últimos
três. Oxalá este 2015 que já chegou seja menos gravoso do que este amaldiçoado
2014; pior será impossível. Estamos metidos numa camisa de forças, num
imbróglio inimaginável e, sobretudo num desespero que leva a que nos possamos
considerar pessimistas no mais alto grau. Salvaguardo: pelo menos, eu estou.
O novo ano
traz consigo – e como sempre acontece ao virar-se a última folha do calendário
– alguma réstia de esperança em dias melhores. Ainda que esta, prostituída e
improvável, tenha a cotação (e o cotão) mais baixos nos bolsos da esmagadora
maioria dos Portugueses, o pouco que dela resta ainda tenta animar os mais
desencantados, abandonados, famintos e roubados, por um (des)Governo autista
que teima em dizer que tem razão nas barbaridades que faz, contra tudo e contra
todos (ou quase…). Mas, tristeza, debalde.
Coelho e Portas, capitaneados pelo sôr Silva – ainda
no final de 2014 na 25.ª da TVI que fez a retrospectiva da vida política do
ex-senhor todo-poderoso da Região Autónoma da Madeira, bem se viu e ouviu
Alberto João Jardim a proferir o tratamento que então dava a Cavaco –
carregaram nas tropelias que já vinham fazendo desde 2011. Deram um golpe
(quase) mortal na classe média, empobreceram os mais pobres, anavalharam os
reformados, enfim atingiram o cúmulo do desaforo.
Tudo isto para salvar a Pátria à beira da
bancarrota – dizem eles numa autojustificação patética, semelhando à anedota do
escuteiro que, para fazer a boa acção diária que é seu timbre e regra, ajudou a
passar para o outro passeio uma idosa, que afinal queria ficar no primeiro. Estes
safardanas usaram e usam (e ousarão usar?) para esse alegado salvamento - que,
aliás não lhe foi pedido -, agacharam-se perante a sinistra troika, o que é o
mesmo que perante a Frau Merkel. O ministro das Finanças desta desde 2005, Wolfgang Schäuble
há dias ameaçou a Grécia: com governo ou sem governo, o país helénico tem de
cumprir o pagamento das prestações da “ajuda” (!?!?!?) em falta. Se não,
acabou-se o bodo! Não leva mais nada!
É a esta gente dominadora e arrogante, que já fez mais mal à Europa do
que o Adolf Hitler - e sem o Wehrmacht… - que o triunvirato fatídico, Cavaco, Coelho
& Portas, tem vinda a fazer repetidas vénias. A mesma gente que os
aplaudiu, mas agora os critica pelo “aumento fabuloso” do salário mínimo
nacional ou por haver demasiados licenciados em Portugal, ao mesmo tempo que os
recruta para irem trabalhar da Deutschland. Dois pesos, duas medidas, duas
velocidades. Já basta.
A
Europa (des)Unida cada vez mais envelhecida aproveita a força de trabalho dos
emigrantes, dos que mais qualificação e nenhum trabalho nos seus países de
origem. Brada aos céus! Assim é fácil respeitar o défice comunitário
Concertado/imposto em Conselhos Europeus diversos. Com alegações dramáticas
sobre os saldos excessivamente negativos, a dívida pública soberana e a
malfadada crise, dela decorrente a austeridade criminosa e – por que não? – a
autoridade, tentam enforcar os pobres “do Sul”.
Que,
afirmam eles, tocam guitarra qual cigarra, enquanto eles próprios, os “Grandes”
trabalham como as formigas para aforrar os euros que depois “emprestam” com
juros desaforados aos desgraçados que bailam e cantam, vão à praia sem
preocupações, e muito menos produtividade. O Senhor La Fontaine nunca poderia
imaginar a utilização sinistra da sua fábula. Mas, a verdade é que o é.
Diz o
povo que a nossa casa é o nosso forte, de tal maneira que para nos tirarem dela
são preciso quatro gatos-pingados. Os sacanas que nos (des)governam não são
parvos, mas pelo sim, pelo não querem fazer de nós idiotas. Em Trás-os-Montes
há um ditado que reza: “Deus manda-nos
ser bons, mas não nos manda ser parvos”. E, pelo andar da carruagem,
somo-lo. Não pode ser, não o pomos ser.
Por
isso, com toda a paciência (em que somos especialistas) e com a cerviz dobrada
como nos habituámos a estar, temos de mais uma vez esperar que o 2015 nos traga uma melhoria de vida, ainda que
pouca. As legislativas de Outubro têm de motivar essa espera, têm alimentar
essa réstia de esperança, também têm de chutar esta malta para o diabo que a
carregue!
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