Nobel – O
feitiço e o feiticeiro
Por Antunes Ferreira
O Mundo
onde vivemos tem em cada dia novidades que ainda nos surpreendem; pelo menos
falo por mim e por isso usar o colectivo talvez seja um tanto abusivo. Mas
tinha forçosamente de fazer este introito face ao tema que vou abordar esta
semana – o Nobel da Literatura.
A Academia Sueca, abalada por um escândalo envolvendo fugas de informação e
abusos sexuais que fez sair cinco dos seus membros, poderá não atribuir este
ano o prémio Nobel da Literatura, indicou ontem, sexta-feira, o presidente da
Fundação Nobel, Carl-Henrik Heldin.
Em declarações à televisão pública sueca
SVT, o responsável falava depois de a rádio pública SR ter noticiado que várias
pessoas do Comité Nobel e da Academia Sueca consideram que o prémio não deve
ser concedido este ano, para dar tempo à instituição para cicatrizar as feridas
e recuperar a confiança da opinião pública.
Assim, seriam outorgados dois prémios de
Literatura em 2019, um dos quais correspondente ao ano anterior, de acordo com
uma ideia apoiada por Peter Englund, um dos membros que abandonou a academia.
O escândalo rebentou em Novembro do ano
passado, quando o jornal Dagens Nyheter
publicou a denúncia anónima de 18 mulheres de abusos e agressões sexuais contra
o dramaturgo Jean-Claude Arnault, ligado à academia através do seu clube
literário e marido de um dos seus membros, Katarina Frostenson.
A academia cortou todas as ligações a Arnault
e encomendou uma auditoria independente sobre as suas relações com a
instituição, mas divergências internas quanto às medidas a adotar desencadearam
demissões, acusações e saídas de cinco membros, entre os quais a secretária
permanente em exercício, Sara Danius, e Katarina Frostenson.
O relatório rejeita que Arnault tenha
influenciado decisões sobre prémios e subsídios, embora o apoio económico que
recebeu viole as regras de imparcialidade, pelo facto de a sua mulher ser
coproprietária da empresa que geria o clube literário; e confirma que a
confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi diversas vezes violada.
Esta é a principal transcrição das
notícias publicadas pelos media e através das redes sociais e que caiu como uma
“bomba atómica de megatoneladas
literárias”. Até os Prémios Nobel!... Que mais poderá acontecer? A pergunta
calina que ficou célebre como título da comédia de 2001 que agitou o mundo do
filme tem perfeito cabimento neste contexto.
O inventor da explosiva dinamite nunca
pensaria que uma fundação criada como o seu nome para dar prémios prestigiosos
a pessoas e entidades que assim ficavam prestigiadas resultasse agora numa
situação… explosiva. Volta-se o feitiço contra o feiticeiro?
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