-- # - SÃO JOSÉ - # --
Gil Monteiro*
São José é meu padrinho. Eu conto:
“ Sou do tempo em que era privilégio serem padrinhos os avós
e compadres. E, quando morriam antes dos nascimentos? Casos frequentes nas
aldeias das serras transmontanas. Regavam o milho, molhavam os pés, e as
gripes, e sem médicos, apontavam cedo os caminhos dos cemitérios! Ainda por
mais, as veigas eram encharcadas de ribeiros e levadas de água e moinhos! Mesmo
os socos fortes deixavam entrar a água...
Sendo o mais novo de cinco irmãos, quando nasci, os avós já
tinham os repousos nos campos santos. Daí ser nomeado padrinho S. José, no ato
da primeira água benta! “
Morriam jovens os avós. As estórias eram contadas ou lidas
por mulheres ou irmãos. O mesmo acontecia com as rezas e vias - sacras ao redor
da capela, na Quaresma.
Pela família e pelo Santo tinha de ser chamado José ou de José,
como se diz no Brasil, onde tinha um tio chamado Gil; fiquei pois José Gil!
Nem em Portugal e, mais tarde, na terra do samba, vi o tio
Gil Monteiro!
O meu pai foi novo para a terra dos cariocas, mas, em nove
meses, re gressou à terra da promissão, onde tinha deixado noiva bonita e ansiosa;
de chinela no pé, na romaria da senhora da Saúde!
São José da Sagrada Família, pouco conhecido em leituras
biblíacas: o que lhe aconteceu, após a morte de Jesus?, onde faleceu?, deu-me a
sua graça na Pia-Benta. Fiquei abençoado, capaz de o poder encontrar no reino
dos céus, quando chegar o momento...
Só na escola primária fui conhecido por José, por ter um
colega mais velho, chamado João Gil. Tinha que ser que ser o Zé Gil, ainda, o
sou para a Família mais próxima.
O dia 19 de março, dia consagrado a S. José, era feriado e
dia Santo (dia de missa). Havia sermão e missa tocada e cantada, na minha
aldeia antiga.
Ia para o coreto a assistir deslumbrado aos acordes e cenas;
via as caras espelhadas nos bombardinos e trombones! No palco do palco da
capela, os três padres, música e outros cantores faziam uma ópera!
O dia santificado foi extinto e S. José entrou em
esquecimento lento. O bondoso e altruísta, tornado divino, é, felizmente, muito
lembrado nas igrejas orientais; até na Grécia se notam os efeitos!, nem é
preciso visitar a ilha onde a Virgem morreu!!!...
No tempo de Herodes, teve que fugir para o Egito salvando o
Menino. A burrinha levava Santa Maria. São Salvador do Mundo assim, mais uma
vez, escapou à morte, decretada por romanos. Após o desaparecimento de Pilatos,
regressaram à Palestina.
S. José é símbolo da benemerência e do trabalho. Morreu,
dizem, velhinho. Mas, formou o Presépio Eterno...
2 comentários:
Parabéns senhor José Gil. Gosto muito das suas excelentes narrativas, embora as não comente sempre. Desta, gostei especialmente, por se tratar uma viagem pelas memórias do seu passado - bem passado - que se enquadra na época pascoalina.
Obrigado, em nome do autor.
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