Mais um contributo do Zé Gil.
CANTAR
DE GALO
Gil Monteiro*
Cantar de galo é, e terá
sido, uma expressão depreciativa. Será por dar ares de arrogância de
comportamento ou pela exuberância das penas ou corpulência?! Como pessoas que
se armam nessa matriz?!
Ao nível do
conhecimento, muita gente canta de galo – esquecendo as regras das loas
contadas de cor!
Ter a ventura de
assistir a avó a por a galinha a chocar ovos, e tinha que ser pedrês (forte e
bonita), no fundo de um cesto vindimeiro, onde estavam os 12 ovos e o ninho de
palha centeia, foi uma aula prática perfeita que, meio século depois, os conhecimentos
adquiridos estão presentes, mas não os vou contar todos...
Apenas informo como se
conheciam os pintainhos por sexos:
Quando as penas
começavam a crescer, eram pendurados pelo bico, antes de regressarem ao cesto,
os que se debatiam forte, arranhando a mão com as patas, eram frangos e os mais
pacíficos eram futuras galinhas produtoras de ovos e carne. Claro, o mais
ativo, futuro “comandante” do galinheiro, era-me oferecido ou melhor dito meu.
Não podia ser sacrificado, nem para dar sabor às alheiras! Os outros, bem
identificados pela Adélia, morriam pelas festas! Levar frangos assados, para a
Senhora da Azinheira, no alto da serra, até o concerto da Banda de Mateus era
mais afinado, e o Codinhas dançava melhor à sombra dos castanheiros; no dia seguinte,
os sãomartinhenses comiam as merendas à volta da Ermida; aos toques do “piqué”,
bailavam e conviviam.
Estamos a voltar ao
antigo. As músicas e os hábitos é que são outros... Os automóveis mudaram tudo
– os cafés e restaurantes estão logo ali. Mas, as bandas musicais continuam a
subir nos coretos!
Curiosa nota:
A febre da compra de
alojamento nas zonas balneares, principalmente no Algarve, está a ser invertida
pelo adquirir casas ou terrenos nas aldeias, não só por naturais da beira-mar
como holandeses ou belgas. Alguns só passam as férias, mas outros vão ficando.
O regresso à agricultura vai surgindo...
Os sons campestres são
sempre encantadores. Ouvir o chilrear dos pássaros, pela manhã, o balir das
ovelhas, o cantar dos ralos, em serenas noites de verão nos lameiros, e as
melodias das cigarras nas ribeiras?!
Mas, há agora quem
embirre com o cantar do galo de noite, e se queixe às autoridades próximas!
No tempo que só o meu
pai tinha relógio de bolso e de tampa de abrir, as horas, pelas manhas de inverno,
eram dadas pelo cantar do galo – “toca a sair da cama, já o galo cantou três
vezes”! A noite chegava, embrulhada em neblina, quando as galinhas começavam a
recolher ao poleiro. Outras horas eram referidas às passagens das carreiras
(autocarros), nas idas e vindas dos comboios do Pinhão, quando nas estadias na
quinta de Provesende. Mas, a melhor referência era a sombra da cruz cimeira da
capela na rua, com descontos conforme o andar dos dias.
A residir na freguesia
de Paranhos (Porto), tive o privilégio, e ainda vou tendo, de ouvir o có-corócó
dos galos e garnisés. Perto da quinta do Covelo, organizada em parque
biológico, ainda perdura alguma rusticidade, agricultura e alguns galinheiros.
As noites mal dormidas têm música de capoeira, que enleva o sono e embala o
sonho, nos cós-corós!
E as modernices?
- Ter vidros duplos, nas janelas
e varandas, é bom.
O cantar do galo ficou
mais longe!...
Porto, 2 de outubro de 2013
*José Gil Correia
Monteiro
jose.gcmonteiro@gmail.com
1 comentário:
Sempre interessantes estas estórias doo autor do texto.
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