quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Um Cardeal do passado?

O patriarca emérito de Lisboa – Cardeal D. José Policarpo – participou há dois ou três dias numa conferência intitulada “Caridade é a fé em acção”. Nessa conferência o senhor D. José aproveitou a ocasião para mandar recados aos cidadãos que manifestam o seu descontentamento com as políticas postas em prática pelo actual governo, e em particular aos trabalhadores que se manifestam reivindicando os seus direitos, acusando-os de não perceberem que estamos em crise e teimam em impor as suas reivindicações, preterindo o bem comum. Fiquei a saber que o patriarca emérito engrossa a lista daquelas pessoas que fazem questão de mostrar que são mais troikistas que a Troika e que defendem esta política de austeridade, que empobrece os portugueses, com o argumento de que caso não se atinjam as metas da troika não vai haver dinheiro para pagar salários e pensões. No fundo, amedrontam as pessoas com o dilema: Ou a austeridade ou “fim do mundo!”.
O senhor Cardeal Policarpo, enquanto cidadão, tem todo o direito de defender as políticas neoliberais do Governo, mas deve ter algum cuidado na forma e nos lugares em que o faz, para que não suceda o que me sucedeu a mim: ao ler o que ele disse comecei a recordar as preleções do Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira quando fazia a defesa da velha política de Salazar: “pobretes mas alegretes”. É verdade que D. José Policarpo é patriarca emérito (felizmente, digo eu), mas não deixa de ser Cardeal e, assim, faz parte do Sacro Colégio Cardinalício, podendo participar num Consistório ou até num Conclave, dado que ainda não tem oitenta anos. Mas está completamente desalinhado com os novos princípios que o Papa Francisco pretende implementar na Igreja Católica. Este quer uma Igreja preocupada sobretudo com os pobres e os mais desprotegidos, o combate ao desemprego e a defesa dos direitos de quem trabalha. Infelizmente, à boa maneira do Estado Novo, o Cardeal D. José Policarpo quer uma Igreja ao serviço do Governo, auxiliando-o a convencer os cidadãos da inevitabilidade das suas más políticas. Mas, até ver, e para nosso sossego, a maioria dos prelados portugueses não pensa assim.

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