quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais um contributo do Henrique Antunes Ferreira

“Eu não tenho amigos!”
Por Antunes Ferreira

“Ó sr. deputado, eu não tenho amigos!”,  afirmou Pedro Passos  Coelho, em resposta a Jerónimo de Sousa. “Não admira!”, exclamou de imediato o líder da bancada comunista, num aparte bem audível no plenário. E a oposição rompeu em gargalhadas, o que motivou que Coelho corrigisse logo a seguir, “Eu não tenho amigos no Banif”. Assim respondia ao secretário-geral do PCP que afirmara que o (des)Governo só tinha mãos largas para os amigos. Referia-se ao estranho caso do BPN. E perguntou ainda se estava “em condições de garantir que os portugueses não vão ser chamados a pagar outro BPN no caso do Banif”.
Coelho não gostou da pergunta do líder do PCP Mas nos minutos que tinha para responder a Jerónimo o chefe do Governo acabou por não dizer se o Banif já liquidara ou não as tranches das ajudas estatais que recebeu. Teve de esperar até ao final do debate para, com um papel na mão, dizer que o Banif “já devolveu 150 milhões de euros com o primeiro reforço de capital que foi realizado”.
A sessão par(a)lamentar de ontem foi um tremendo desastre para o nosso primeiro. Se quisermos sintetiza-la numa curta frase não será difícil: foi um circo. Com Passos sem compasso como palhaço aparentando ser rico, mas no fundo sendo pobre. De espírito. Os deputados da coligação espúria aplaudiram-no, defenderam-no, mas, pouco, com convicção alegro ma non tropo. Os da oposição riram-se – e não tiveram pena dele.
João Semedo já o “incomodara”; ou seja, a oposição toureava-o e naturalmente a pseudo serenidade de Passos foi-se esbatendo, chegando ao ponto de ruptura do verniz com que tenta disfarçar as mentiras que diz aos Portugueses. Encostado às cordas sobra-lhe em irritação o que tenta passar de calma e tranquilidade a quem todos os dias é roubado por ele próprio ou pelos seus capangas.
Erro pornográfico
Na sua edição on-line de hoje, como habitualmente, o Expresso publica a coluna Politicoesfera assinada pelo seu titular João Lemos Esteves. Com este não estou de acordo por diversas vezes; mas o texto merece-me um aplauso, de tal forma que, se mo permitisse a minha cabeça (e o meu teclado) não teria pejo de o assinar. Mas, assim, limito-me a transcrever dois passos dele.
“João Semedo afirmou, ontem no debate parlamentar, que não sabe se o Governo ainda tem tropas - mas certamente já não tem generais. Pois bem, acrescento que o general Passos Coelho nunca existiu e já está praticamente deposto - e as tropas, face à inexistência política absoluta do general (e inexistência, como se sabe, é mais grave do que nulidade política), as tropas - e as melhores tropas - de Portugal continuam a desertar.
(…)

Passos Coelho cometeu um
 erro pornográfico: afirmou que o Orçamento de Estado para o próximo ano comporta vários riscos. Portanto, já não bastava que o OE tivesse sido elaborado a trouxe-mouxe , nos últimos dias legalmente previstos para a sua apresentação; já não bastava as indefinições e o défice de esclarecimento sobre algumas medidas pré-anunciadas do Orçamento - ontem, Passos Coelho confessou a sua impotência para executar o Orçamento! Já não é um problema da troika. Já não é um problema de gestão política do executivo e a nossa dependência face ao exterior: é um problema de incompetência exclusiva do Governo, pois é o único órgão que tem poderes para aplicar o Orçamento de Estado e garantir a sua aplicação!”
(O destaque em negro é do autor, a quem felicito pelo artigo.
Aliás, aproveito esta oportunidade para referir que parte deste comentário é respigada do “Público” e de outros órgãos da comunicação social. A todos, o meu obrigado)

Entretanto, António José Seguro também entrou na dança. Não falou em eleições, mas não deixou de insinuar a necessidade de chamar os portugueses às urnas caso o país recorra a um segundo pedido de ajuda. O que também irritou Coelho que, na reposta, recusou debater "clichés". E porquê? Porque o líder socialista acusou o (des)Governo de chamar "programa cautelar" ao que na prática não passa de um "segundo resgate". Seguro notou que "existem quatro formas de regressar aos mercados e só uma delas é independente e dispensa condicionalidades".
António José Seguro frisou que "se houver um segundo pedido de ajuda", Passos deverá "tirar consequências" e não terá "perdão" porque significa que "o programa falhou". Com o semblante carregado, Passos considerou que "é lamentável que o PS pense em confundir os portugueses".  E renovou o desafio ao líder dos socialistas: "No dia em que quiser fechar o nosso programa sem populismo e sem demagogia, eu estou disponível para fazer uma discussão séria”. Por isso, a comunicação social considerou que o frente-a-frente entre Passos e Seguro foi o momento mais quente do debate quinzenal.
A dado passo da sua intervenção, Seguro recordou as afirmações do "ministro do CDS" (Pires de Lima, em Londres, sobre o programa cautelar que já estaria a ser preparado). Passos corrigiu: "não é um ministro do CDS. É um ministro do meu Governo". E até garantiu que a preparação de um programa cautelar não estava na sua mesa, nem na da ministra das Finanças, nem na mesa das negociações com a troika. Foi uma tentativa desesperada de interpretar “As pombinhas da Catrina”. Cruxificado, ainda assumiu pateticamente que está a aguardar o fim do programa na Irlanda para decidir como é que Portugal vai ter assistência no regresso aos mercados. Além de não saber – confessou-o – qual será o futuro da economia, está à espera de ver em que param as modas. Irlandesas.

Foi assim, com esta afirmação – que deve ser lida segundo o ditado “quem espera sempre alcança? – que Coelho deixou uma vez mais no ar a irresponsabilidade de um (des)Governo de putos mal preparados (e mal educados) quando dizem que não foram eles que tinham ido à lata dos biscoitos que a mãe tinha usado para impedir, em vão, o furto desses bolos secos. Porque o roubo que acontece quotidianamente não é de biscoitos. É daquilo com um cidadão em primeiro lugar usa para se alimentar a si e aos seus: dinheiro. Por isso estão muitos Portugueses a morrer de fome.

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