Mais um contributo do Henrique Antunes Ferreira
“Eu não tenho amigos!”
Por Antunes Ferreira
“Ó sr. deputado, eu não tenho amigos!”, afirmou Pedro Passos Coelho, em resposta a Jerónimo de Sousa. “Não
admira!”, exclamou de imediato o líder da bancada comunista, num aparte bem
audível no plenário. E a oposição rompeu em gargalhadas, o que motivou que
Coelho corrigisse logo a seguir, “Eu não tenho amigos no Banif”. Assim
respondia ao secretário-geral do PCP que afirmara que o (des)Governo só tinha
mãos largas para os amigos. Referia-se ao estranho caso do BPN. E perguntou
ainda se estava “em condições de garantir que os portugueses não vão ser
chamados a pagar outro BPN no caso do Banif”.
Coelho não gostou da pergunta do líder do PCP Mas nos
minutos que tinha para responder a Jerónimo o chefe do Governo acabou por não
dizer se o Banif já liquidara ou não as tranches das ajudas estatais que
recebeu. Teve de esperar até ao final do debate para, com um papel na mão,
dizer que o Banif “já devolveu 150 milhões de euros com o primeiro reforço de
capital que foi realizado”.
A sessão par(a)lamentar de ontem foi um tremendo desastre
para o nosso primeiro. Se quisermos sintetiza-la numa curta frase não será difícil:
foi um circo. Com Passos sem compasso como palhaço aparentando ser rico, mas no
fundo sendo pobre. De espírito. Os deputados da coligação espúria
aplaudiram-no, defenderam-no, mas, pouco, com convicção alegro ma non tropo. Os
da oposição riram-se – e não tiveram pena dele.
João Semedo já o “incomodara”; ou seja, a oposição
toureava-o e naturalmente a pseudo serenidade de Passos foi-se esbatendo,
chegando ao ponto de ruptura do verniz com que tenta disfarçar as mentiras que
diz aos Portugueses. Encostado às cordas sobra-lhe em irritação o que tenta
passar de calma e tranquilidade a quem todos os dias é roubado por ele próprio
ou pelos seus capangas.
Na sua edição on-line de
hoje, como habitualmente, o Expresso publica a coluna Politicoesfera assinada pelo seu titular João Lemos Esteves. Com
este não estou de acordo por diversas vezes; mas o texto merece-me um aplauso,
de tal forma que, se mo permitisse a minha cabeça (e o meu teclado) não teria
pejo de o assinar. Mas, assim, limito-me a transcrever dois passos dele.
“João Semedo afirmou, ontem no debate parlamentar, que
não sabe se o Governo ainda tem tropas - mas certamente já não tem generais.
Pois bem, acrescento que o general Passos Coelho nunca existiu e já está praticamente
deposto - e as tropas, face à inexistência política absoluta do general (e
inexistência, como se sabe, é mais grave do que nulidade política), as tropas - e as melhores tropas - de
Portugal continuam a desertar.
(…)
Passos Coelho cometeu um erro pornográfico: afirmou que o Orçamento de Estado para o próximo ano comporta vários riscos. Portanto, já não bastava que o OE tivesse sido elaborado a trouxe-mouxe , nos últimos dias legalmente previstos para a sua apresentação; já não bastava as indefinições e o défice de esclarecimento sobre algumas medidas pré-anunciadas do Orçamento - ontem, Passos Coelho confessou a sua impotência para executar o Orçamento! Já não é um problema da troika. Já não é um problema de gestão política do executivo e a nossa dependência face ao exterior: é um problema de incompetência exclusiva do Governo, pois é o único órgão que tem poderes para aplicar o Orçamento de Estado e garantir a sua aplicação!”
Passos Coelho cometeu um erro pornográfico: afirmou que o Orçamento de Estado para o próximo ano comporta vários riscos. Portanto, já não bastava que o OE tivesse sido elaborado a trouxe-mouxe , nos últimos dias legalmente previstos para a sua apresentação; já não bastava as indefinições e o défice de esclarecimento sobre algumas medidas pré-anunciadas do Orçamento - ontem, Passos Coelho confessou a sua impotência para executar o Orçamento! Já não é um problema da troika. Já não é um problema de gestão política do executivo e a nossa dependência face ao exterior: é um problema de incompetência exclusiva do Governo, pois é o único órgão que tem poderes para aplicar o Orçamento de Estado e garantir a sua aplicação!”
(O destaque em negro é do
autor, a quem felicito pelo artigo.
Aliás, aproveito esta
oportunidade para referir que parte deste comentário é respigada do “Público” e
de outros órgãos da comunicação social. A todos, o meu obrigado)
Entretanto, António José Seguro também entrou na dança. Não falou em eleições, mas não
deixou de insinuar a necessidade de chamar os portugueses às urnas caso o país
recorra a um segundo pedido de ajuda. O que também irritou
Coelho que, na reposta, recusou debater "clichés". E porquê?
Porque o líder socialista acusou o
(des)Governo de chamar "programa cautelar" ao que na prática não
passa de um "segundo resgate". Seguro notou que "existem
quatro formas de regressar aos mercados e só uma delas é independente e
dispensa condicionalidades".
António José Seguro
frisou que "se houver um segundo pedido de ajuda", Passos deverá
"tirar consequências" e não terá "perdão" porque significa
que "o programa falhou". Com o semblante carregado, Passos
considerou que "é lamentável que o PS pense em confundir os
portugueses". E renovou o desafio
ao líder dos socialistas: "No dia em que quiser fechar o nosso programa
sem populismo e sem demagogia, eu estou disponível para fazer uma discussão
séria”. Por isso, a comunicação social considerou que o frente-a-frente entre
Passos e Seguro foi o momento mais quente do debate quinzenal.
A dado passo da sua
intervenção, Seguro recordou as afirmações do "ministro do CDS"
(Pires de Lima, em Londres, sobre o programa cautelar que já estaria a ser
preparado). Passos corrigiu: "não é um ministro do CDS. É um ministro do
meu Governo". E até garantiu que a preparação de um programa cautelar não
estava na sua mesa, nem na da ministra das Finanças, nem na mesa das
negociações com a troika. Foi uma tentativa desesperada de interpretar “As
pombinhas da Catrina”. Cruxificado, ainda assumiu pateticamente que está a
aguardar o fim do programa na Irlanda para decidir como é que Portugal vai ter
assistência no regresso aos mercados. Além de não saber – confessou-o – qual
será o futuro da economia, está à espera de ver em que param as modas.
Irlandesas.
Foi assim, com esta
afirmação – que deve ser lida segundo o ditado “quem espera sempre alcança? –
que Coelho deixou uma vez mais no ar a irresponsabilidade de um (des)Governo de
putos mal preparados (e mal educados) quando dizem que não foram eles que
tinham ido à lata dos biscoitos que a mãe tinha usado para impedir, em vão, o
furto desses bolos secos. Porque o roubo que acontece quotidianamente não é de
biscoitos. É daquilo com um cidadão em primeiro lugar usa para se alimentar a
si e aos seus: dinheiro. Por isso estão muitos Portugueses a morrer de fome.
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