sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CONTRIBUTOS EXTERNOS

Mais um contributo do Henrique Antunes Ferreira


Francisco e o poder
Por Antunes Ferreira
As declarações, práticas e decisões do Papa Francisco têm provocado as mais diversas opiniões dentro e fora Igreja Católica Apostólica e Romana. Parecendo ser uma verdade do amigo Banana ou de Monsieur de la Palice, a verdade é que não é. O que disse, por exemplo, sobre os homossexuais veio abanar um dos pontos de honra do Vaticano: ele tem vindo permanentemente a considera-los pecadores.
O primeiro cardeal do continente americano e oriundo dos jesuítas de seu nome Jorge Mario Berglogio, de acordo com uma senhora Amália que namorou quando adolescente, tinha pedido a sua mão e, em caso de recusa, seria padre. E a Papa chegou, escolhido ao segundo dia do Consistório, mais precisamente a 13 de Março deste ano que está prestes a terminar. E logo na sua primeira aparição aos fiéis que enchiam a praça de S. Pedro, deu uma indicação de algo iria mudar na Santa Sé: apareceu à varanda usando apenas a batina Branca.
Tudo o que a seguir viria a acontecer demonstrou que Francisco (escolheu em homenagem ao santo dos pobres, S. Francisco de Assis) trilhava novos caminhos para religião católica. Despoja do que considerou o excesso de pompa, decidiu morar na residência dos cardeais quando estes se deslocam a Roma. Para não estar só, disse então, pois precisava de gente para conversar, trocar ideias, em última análise, pessoas com quem queria conviver.

Daí em diante esforçou-se numa conduta para demonstrar essas intenções, o que para o ramo mais conservador da Igreja começou a parecer um exagero. Porém, por outra facção mais liberal foi entendido como um reformador. O povo dos fiéis achou-o simpático, simples, com quem se podia conversar; o episódio do seu telefonema para um jovem que lhe enviara uma carta, transformou-o num Papa aberto, civilizado, actualizado.
No entanto não se pode esconder que o marketing tem cada vez maior importância no Mundo. E os que o organizam no Vaticano sabem o que estão a fazer. Uma figura constrói-se à volta de quem tem condições para isso. Francisco tem-nas. Facilitou assim o trabalho dos especialistas. Mas, simultaneamente, começou a correr que era demasiadamente “incómodo”. E de pronto se apontou o Papa João Paulo cuja morte continua a provocar as mais diversas especulações resumíveis numa pergunta: teria sido eliminado, assassinada para bastantes investigadores?
De repente, Francisco divulgou o primeiro documento importante de seu pontificado, a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho). Ao longo de 84 páginas, o papa faz um apelo à protecção dos cristãos nos países muçulmanos, condena os excessos do capitalismo financeiro e defende reformas na Igreja Católica. Mas, por outro lado, continua intransigente em relação a questões como a ordenação das mulheres e o aborto.
No texto, o papa exorta os líderes das principais potências mundiais a lutar contra a pobreza e as desigualdades geradas pelo capitalismo financeiro, que ele chama de "nova tirania invisível". Ele denuncia "a nova idolatria do dinheiro" e um sistema económico que causa "exclusão". O papa sublinha que "o dever dos ricos, em nome de Cristo, é ajudar os pobres".
"Não é possível que um idoso obrigado a viver na rua morra de frio na indiferença de todos, enquanto dois pontos de alta na bolsa de valores se tornem manchete nos jornais", escreve o papa num capítulo dedicado aos desafios globais da actualidade. "A desigualdade social é a raiz dos males da sociedade", afirma. Pode assim sintetizar-se este “programa de governo” numa frase do texto: quando acenta que o sistema económico criou “algo de novo: os excluídos não são explorados, são desperdícios, lixo”.
"Enquanto os problemas dos pobres não forem radicalmente resolvidos por meio da rejeição da autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira, e pelo ataque às causas estruturais da desigualdade, nenhuma solução será encontrada para os problemas do mundo ou, nessa matéria, para quaisquer problemas", ainda escreveu..

O papa argentino pretende renovar a Igreja, mas apenas até certo ponto. Há temas, como atrás se refere: são intocáveis, por mais liberal que seja a “reforma” preconizada: o aborto e a ordenação das mulheres. E mesmo a discussão entre os católicos,  de forma organizada, dos mais variados assuntos da religião foi encarada – e é – por muitos deles que torceram o nariz perante a iniciativa papal. Receiam que se esteja a demonstrar o mons parturiens. Ou dito de forma diferente: tanta publicidade na inovação para no fim continuar o mesmo produto, ou seja tudo como dantes.

1 comentário:

500 disse...

O João Paulo referido é o I, não?
Não me espanto com o uso do marketing por parte do Vaticano. Seja como for, este Papa tem qualquer coisa de diferente dos anteriores. Reconduz-me ao Papa João XXIII, esse com o aspecto rural e provinciano. E Roma e Pavia não se fizeram num dia, como é sabido. O Vaticano nunca deu passos maiores que a perna e tempo é o que não lhe falta. Aguardemos.