quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O Guião

Embora já fora de tempo, quero tecer algumas considerações sobre o famoso e tão badalado guião para a reforma do Estado, um documento que o Governo apresentou, com praticamente nove meses de atraso, pelo guionista Paulo Portas. Confesso que não vi Portas a apresentá-lo nem o procurei para ler, mas pelos vários comentários que ouvi, vi e li, fiquei convencido de que não perdi nada de importante. Quase todos os comentários foram no sentido de que o tal guião não passa dum documento mal escrito, sem uma ideia concreta, sem quantificação do que quer que seja, cheio de “lugares comuns”, no fundo, como já ouvi dizer, o mais indigente documento jamais produzido por um governo português, e que envergonha qualquer país civilizado. Mas que, pelos vistos, não envergonha os tipos que nos governam.
De qualquer modo, interrogo-me do porquê dum documento destes. Partindo da quase certeza de que Portas não concorda com nada daquilo, fê-lo porque é velhaco e quis, por um lado, embaraçar a Oposição, que de maneira alguma podia, ou pode, aceitá-lo nem numa só linha e que por isso tem dificuldades em justificar a sua repulsa sem dizer “preto no branco” que aquele panfleto é uma “caca” cujo destino deve ser o lixo; por outro lado quis vingar-se do primeiro-ministro, por este lhe ter entregue a tarefa da elaboração do dito. Agora, uma vez conhecido o documento, Passos Coelho que enfrente a contestação e arranje argumentos para defender o que não tem defesa. Passos Coelho e Portas são primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro do mesmo governo, mas se puderam estão sempre a espetar o aguilhão um ao outro.

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