Embora já fora de tempo, quero tecer algumas
considerações sobre o famoso e tão badalado guião para a reforma do Estado, um
documento que o Governo apresentou, com praticamente nove meses de atraso, pelo
guionista Paulo Portas. Confesso que não vi Portas a apresentá-lo nem o procurei
para ler, mas pelos vários comentários que ouvi, vi e li, fiquei convencido de
que não perdi nada de importante. Quase todos os comentários foram no sentido
de que o tal guião não passa dum documento mal escrito, sem uma ideia concreta,
sem quantificação do que quer que seja, cheio de “lugares comuns”, no fundo,
como já ouvi dizer, o mais indigente documento jamais produzido por um governo
português, e que envergonha qualquer país civilizado. Mas que, pelos vistos,
não envergonha os tipos que nos governam.
De qualquer modo, interrogo-me do porquê dum documento
destes. Partindo da quase certeza de que Portas não concorda com nada daquilo,
fê-lo porque é velhaco e quis, por um lado, embaraçar a Oposição, que de
maneira alguma podia, ou pode, aceitá-lo nem numa só linha e que por isso tem
dificuldades em justificar a sua repulsa sem dizer “preto no branco” que aquele
panfleto é uma “caca” cujo destino deve ser o lixo; por outro lado quis
vingar-se do primeiro-ministro, por este lhe ter entregue a tarefa da
elaboração do dito. Agora, uma vez conhecido o documento, Passos Coelho que
enfrente a contestação e arranje argumentos para defender o que não tem defesa.
Passos Coelho e Portas são primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro do mesmo
governo, mas se puderam estão sempre a espetar o aguilhão um ao outro.
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